“Ensino explícito” é um termo que define um tipo de ensino no qual as aulas são projetadas e dadas de maneira a ajudar os alunos a desenvolver um conhecimento básico imediato sobre um determinado tópico.
A sua origem está em pesquisas realizadas nas décadas de 1960 e 1970. Pesquisadores sentaram-se no fundo das salas de aula e procuraram pôr relações entre comportamentos específicos de professores eficientes e o desempenho acadêmico de seus alunos.
Esse estudo constatou que professores com os melhores resultados são os que passaram mais tempo revisando conceitos previamente aprendidos, verificando se os alunos entenderam os conceitos e corrigindo mal-entendidos durante a aula. Essas práticas que explicitam o processo de ensino envolvem mostrar aos alunos o que fazer e como fazer.
É praticamente como cozinhar um bolo: o ensino explícito é um processo passo a passo em que desviar-se da receita ou esquecer ingredientes pode ter um resultado abaixo do esperado.
O contraste está com um tipo de aprendizado em que, em vez de os alunos receberem as informações essenciais, eles são solicitados a realizar uma tarefa e, em seguida, descobrir e construir algumas ou todas as informações essenciais. Isso às vezes é conhecido como aprendizagem baseada em investigação.
Esse tipo de aprendizado pode ser útil para alguém que queira realizar um experimento para aprender sobre evaporação e condensação, desde que eles já entendam a natureza de sólidos, líquidos e gases e saibam como usar com segurança um bico de Bunsen.
Refletir nos faz lembrar
O ensino explícito também é conhecido como prática “totalmente guiada”. Os professores que seguem uma abordagem explícita explicam, demonstram e formulam tudo: desde misturar sons para decodificar palavras e escrever uma frase complexa com linguagem figurada até chutar uma bola de futebol.
Enquanto alguns alunos alcançam sucesso rapidamente, outros precisam de muito mais prática. Professores de ensino explícito fornecem revisões diárias de conhecimentos e habilidades previamente aprendidos para que se tornem automáticos. Em seguida, eles podem ser aplicados a tarefas mais complexas, como ler, escrever um conto ou jogar futebol.
O ensino explícito é endossado por uma teoria de aprendizagem conhecida como modelo de processamento de informações. Baseia-se na premissa de que apenas nos lembramos daquilo sobre o que pensamos e continuamos a pensar. Se você ainda consegue se lembrar do número de telefone de sua infância, provavelmente é devido ao número de vezes que você usou e recuperou essa informação.
É um consenso que há um limite para o volume de novas informações que o cérebro humano pode processar e para o volume de armazenamento em nossa memória de longo prazo. Essa concepção forma algo conhecido como teoria da carga cognitiva, que salienta a efetividade do ensino explícito.
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Simplificando, o conhecimento de habilidades matemáticas prévias – como tabuadas e a diferença entre o numerador e o denominador – reduz a pressão sobre o espaço limitado que você tem em seu cérebro. Isso libera espaço no cérebro para aprender matemática mais complexa, como simplificar frações.
Entre os modelos específicos que se enquadram sob termo guarda-chuva de ensino explícito, estão: ensino direto explícito, ensino direto e “eu faço, nós fazemos, você faz”. Esses modelos são baseados em princípios instrucionais semelhantes e referem-se a elementos específicos de como as aulas são planejadas e dadas.
O ensino direto, por exemplo, consiste em um conjunto de recursos didáticos comercialmente disponíveis desenvolvidos a partir do trabalho do educador norte-americano Siegfried Engelmann na década de 1960. É um modelo altamente roteirizado, o que é tanto uma razão pela qual alguns professores consideram essa abordagem inflexível como o motivo pelo qual ela é eficaz. Está demonstrado que, quando seguido com fidelidade, o ensino direto funciona. O modelo provou ser bastante eficaz quando aplicado em comunidades aborígenes remotas na Austrália.
O ensino explícito, no entanto, não é roteirizado. Isso significa que muitas vezes há variabilidade no modo como os professores o usam e nos componentes dessa abordagem. Isso também torna alegações definitivas sobre sua eficácia um tanto quanto problemáticas.
Então, qual é a controvérsia?
Desde o final dos anos 1970, abordagens mais centradas na criança têm sido a ortodoxia predominante na formação de professores e no planejamento curricular. Essas abordagens incluem aprendizagem pela investigação e pela descoberta. Elas são baseadas em uma teoria da aprendizagem chamada construtivismo, que vê a aprendizagem como um processo ativo.
Os professores que seguem uma abordagem construtivista oferecem oportunidades de aprendizado que permitem aos alunos chegar ao seu próprio e único entendimento do que está sendo ensinado. O construtivismo é popular e predominante porque personaliza a aprendizagem, enfatiza a construção ativa do conhecimento e privilegia o aprendizado prático para resolver problemas do mundo real.
Os críticos do ensino explícito tipicamente dizem que se trata de um modelo deficitário que quer ver os alunos sentados passivamente em filas durante todo o dia, aprendendo de forma mecânica. Esse é um mal-entendido. O ensino explícito, quando feito corretamente, é envolvente e raramente feito por longos períodos de tempo.
É verdade que o modelo exige que os alunos encarem o professor. Isso ocorre porque o processo envolve que o professor faça muitas perguntas. Ele também pode pedir que as crianças escrevam no quadro para mostrar seu entendimento durante a aula.
Os argumentos de que o ensino explícito não permite que os professores atendam à diversidade das habilidades dos alunos também são sem fundamento. O ensino explícito permite que os professores ensinem o mesmo conceito aos alunos, mas o diferenciem no ponto da prática individual.
Por exemplo, depois de ensinar o algoritmo para subtração, os alunos terão o mesmo tempo para resolver problemas de dificuldade cada vez maior. Mas nem todos os alunos seguirão o mesmo processo. Enquanto alguns alunos resolvem apenas a conta de 29 menos 13, outros podem resolver chegar a 189 menos 101 e alguns a 1692 menos 1331.
Como adultos que aprendem a praticar rapel ou paraquedismo, preferimos que as informações sejam divididas em partes gerenciáveis e que o instrutor cheque a nossa compreensão e nos dê a oportunidade de praticar as habilidades necessárias antes de nos arriscarmos na tarefa final. Nas salas de aula, existe um lugar para o ensino explícito, particularmente quando o conhecimento básico é baixo e a tarefa é difícil.
*Lorraine Hammond é professora da Edith Cowan University.
Tradução de Janaína Imthurm.
©2019 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.