Há poucos dias, uma escola de Curitiba chamou a atenção ao replicar o experimento que provaria uma descoberta extraordinária: os vegetais – ou ao menos o arroz – reagem diferentemente a palavras positivas e negativas. A imprensa, inclusive a Gazeta do Povo, noticiou o caso. Mas os críticos lembram que o método não tem base científica. Daí a pergunta: pode uma escola usar em sala de aula experimentos não comprovados?
O teste aplicado pela professora Ana Paula Frezatto foi popularizado pelo japonês Massaru Emoto. Se ele estiver certo, o pote de arroz que “ouvir” palavras negativas diariamente vai mofar, enquanto o outro, tratado com elogios e incentivo, permanecerá intacto.
De acordo com Emoto, o fenômeno é explicado pelo “Hado”, palavra japonesa que pode ser traduzida como onda. “Hado cria as palavras. As palavras são vibrações da natureza. Portanto, palavras bonitas criam beleza. Palavras feias criam uma natureza feia. Essa é a raiz do universo”, teoriza ele.
Entre os cientistas, é difícil encontrar alguém que dê crédito ao experimento popularizado pelo japonês – que foi convidado a participar do desafio de 1 milhão de dólares oferecido pelo cético James Randi, mas não aceitou submeter sua teoria aos testes.
“Isso é totalmente pseudociência, e é errado o professor ensinar que a planta vai ficar melhor ou pior de acordo com o que você fala com ela. É a mesma coisa que pedir para um vulcão não entrar em erupção e achar que ele vai obedecer”, critica Marcelo Hermes-Lima, professor de Biologia na Universidade de Brasília.
No caso de Curitiba, entretanto, a disciplina em questão não era de ciência. O teste aconteceu na aula de relaxamento. Isso ameniza o problema?
O professor da Faculdade de Educação da UnB Gilberto Lacerda dos Santos tem uma posição enfática: o professor nunca deve adotar métodos não-científicos em sala, mesmo (e principalmente) durante as séries iniciais.
“Quanto mais jovens eles são, menos instrumento de crítica e de consumo dessas informações eles têm. Alunos mais velhos e mais experientes podem debater de igual para igual com os professores”, afirma.
O professor diz que casos individuais devem ser sempre vistos com cautela: a ciência pressupõe repetição de experimentos sob condições controladas. No caso do arroz, diferenças de luz, temperatura ou vedação, por exemplo, afetam a geração do mofo. “Até que se prove o contrário as plantas não entendem a linguagem oral. Certamente existe muito empirismo em torno disso”, afirma o professor dos Santos.
Os alunos da professora Ana Paula, entretanto, parecem ter aprendido uma lição verdadeira: a de que as palavras têm consequência. Pode não ser verdade com o arroz, mas vale para os humanos.
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