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Professores permanecem na carreira quando praticam o que ensinam

Foto: Unsplash | Reprodução. (Foto: )

Professores novatos tendem a continuar dando aula se, no seu tempo livre, praticam aquilo que ensinam. Em nossa pesquisa, descobrimos que professores que atuam fora da sala de aula – professores de artes que produzem arte ou professores de biologia que observam a natureza – se veem como professores de melhor qualidade quando o que está em jogo são os princípios fundamentais do ensino e da aprendizagem. Esses princípios incluem dar ideias e tarefas claras aos alunos e o desenvolvimento de atividades que tenham relação com a vida desses alunos.

Ao mesmo tempo, aqueles professores que sabem que são os melhores apresentam maior intenção de permanecer em sala de aula. No caso dos professores de arte, descobrimos que participar de uma exposição de arte teve um efeito significativo para eles na importante marca de permanecer ao menos cinco anos na sala de aula. Aqueles que produziram uma obra por ano e a expuseram em eventos apresentaram maior intenção de permanecer no ensino em comparação com aqueles que não o fizeram.

Embora programas de formação e tutoria sejam bons em apoiar os professores em seu primeiro ou segundo ano, nosso estudo mostra que incentivá-los a praticar a disciplina que ensinam pode ser uma solução para manter professores de qualidade a longo prazo em sala de aula.

Por que os professores vão embora

A Austrália perde muitos professores antes que eles completem cinco anos de atividade. Entre as razões que aparecem nas pesquisas essa fuga da carreira docente se dá por esgotamento, pressões com a carga de trabalho, isolamento físico (especialmente relevante para aqueles que trabalham em áreas rurais) e a percepção de serem mal remunerados e subvalorizados.

Uma solução para apoiar professores em início de carreira (aqueles em seus primeiros cinco anos de sala de aula) foi introduzir programas de formação e tutoria. Mas esses programas geralmente são encerrados em um ou dois anos depois da entrada do novo professor, o que significa que os professores não têm suporte de longo prazo.

Nossa pesquisa busca entender se “praticar o que você prega” faz com que os professores de ensino médio permaneçam em campo. Os aspirantes a professores do ensino fundamental “2” (6º ao 9º ano) e do ensino médio geralmente entram na profissão porque são apaixonados pelo assunto da disciplina, seja ele arte, esporte ou ciência. Nossa hipótese é que envolver ativamente os professores com esses conteúdos é uma solução para evitar o êxodo de professores.

Por que explorar a matéria da disciplina?

Ainda que os professores possam começar apaixonados pela matéria que ensinam, quando começam a dar aula, o esgotamento, o estresse e a carga de trabalho podem fazer com que eles se concentrem mais em ensinar a matéria e menos em praticá-la. À medida que aprimoram suas habilidades como especialistas em ensinar, eles podem esquecer que também são especialistas naquilo que ensinam.

Manter um conhecimento do conteúdo mais recente e relevante é essencial se os professores quiserem ajudar os alunos a serem cidadãos ativos e informados, prontos para a vida pós-escolar.

Nossa pesquisa segue professores dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio a partir do momento em que eles se formam na universidade. Todos os anos, eles são convidados a participar de uma intervenção relacionada à sua disciplina na universidade que frequentaram.

Iniciamos a pesquisa em 2010 com professores de artes visuais que estavam se formando nos cursos em que ensinamos. O estudo recentemente foi ampliado para incluir professores de ciências, e a exposição se tornou interdisciplinar, abrangendo tanto artes como ciências, acompanhando (ainda hoje) mais de 130 professores.

Os professores que participam também não precisam trabalhar fora da escola. Um professor de inglês, por exemplo, não precisa ter uma longa lista de romances publicados. É mais importante que os professores façam o que eles amam com metas alcançáveis. Podemos citar, por exemplo, o professor de arte que continua a desenvolver suas habilidades ao produzir arte nos finais de semana como hobby ou o professor de ciências que tira fotos de seu jardim para a aula de biologia.

Nós recebemos todos os anos mais de 100 formulários respondidos pelos professores. Essas respostas mostram de modo abundante que os professores que praticam o que ensinam se veem como professores de melhor qualidade. Um professor disse:

Tudo o que faço na minha prática afeta o meu ensino, porque me proporciona mais insights [...] e aumenta o que tenho para oferecer como professor.

Aqueles que acreditam que são professores de melhor qualidade têm um maior desejo de permanecer na profissão. Outro professor afirmou:

Isso me faz querer continuar, porque me dá uma perspectiva muito melhor sobre quem eu sou como professor.

É razoável supor que a mesma abordagem em outras disciplinas, como esportes e matemática, possa gerar resultados semelhantes.

Estabelecendo uma comunidade

As razões que levam os professores vinculados à nossa pesquisa a não abandonarem o grupo são:

  • É viável. Para professores com pouco tempo, contribuir para um projeto ou produto em sua área de ensino é mais viável do que seria para eles manter ao mesmo tempo uma carreira trabalhando diretamente com o assunto e uma carreira de ensino.
  • Mantém os professores conectados com seus iguais. Todos os participantes têm um laço comum: o fato de frequentarem a mesma universidade. Um ponto de conexão aumenta o senso de pertencimento ao grupo, tanto por um interesse compartilhado pela sua matéria como pelo interesse de manter uma ligação com seus colegas da universidade.
  • Tem prazos claros. Submeter o trabalho para um evento significa que os professores se focam na exposição em vez de dar prioridade a outras tarefas.

Um elemento notável sobre nossa intervenção é sua simplicidade: uma intervenção como essa não precisa ocorrer em um ambiente universitário para ser bem-sucedida. Poderia ser igualmente eficaz nas escolas ou com pequenos grupos de professores.

Também nos surpreendeu que esse tipo de intervenção não seja mais comum. Apoiar os professores a desenvolver as suas competências na matéria ao mesmo tempo em que a ensinam parece óbvio para o desenvolvimento de professores de melhor qualidade.

*Julia E. Morris é professora de Educação em Artes Visuais na Universidade Edith Cowan. Wesley Imms é professor associado da Universidade de Melbourne.

Tradução de Alexandre Siloto Assine.

©2019 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.

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