Criança no hospital é criança fora da escola? Nem sempre. Graças ao Serviço de Atendimento à Rede de Escolarização Hospitalar (Sareh), projeto realizado no Paraná, crianças e jovens internados em estabelecimentos públicos de saúde recebem a oportunidade de continuar estudando, mesmo em meio a tubos de oxigênio e terapias.
LEIA TAMBÉM: Miniescolas em hospitais de Curitiba mantêm aprendizado de jovens pacientes
A ideia é simples. Todas as manhãs, profissionais como a pedagoga Leila Cristina Cirino visitam os quartos dos enfermos em 19 centros de saúde paranaense em busca por interessados em retomar os estudos, mesmo em uma cama hospitalar.
Depois do “sim”, a educadora entra em contato com a escola do estudante, informa sobre o seu estado de saúde, checa o conteúdo e provas em aberto e direciona como devem ser as aulas dadas no hospital. No período da tarde, chegam os professores, com um plano preparado especificamente para cada aluno internado, levando em consideração o que ele estava aprendendo na escola.
No Hospital de Clinicas (HC), em Curitiba, por exemplo, não são apenas as crianças acima de 10 anos a serem beneficiadas: mesmo mães e pais que querem voltar a estudar são auxiliados a ingressar na modalidade de Educação de Jovens e Adultos. “Damos instruções e ajudamos todos que têm interesse na educação e querem retornar aos estudos”, diz Cirino.
Leila, que atua no Sareh desde 2016 integrando a equipe do HC, explica que mais três professores atendem no hospital. Cada um deles é responsável por uma área – Linguagem (Língua Portuguesa, Arte, Língua Estrangeira Moderna e Educação Física); Ciências Exatas (Matemática, Ciências, Física, Química e Biologia); e Ciências Humanas (História, Geografia, Sociologia, Filosofia e Ensino Religioso).
“Queremos dar continuidade ao processo de escolarização para que o estudante, já desmotivado pela enfermidade, e por estar longe do seu convívio social, não reduza o interesse em aprender e, se for possível, não perca o ano letivo”, diz Leila.
Mais a fundo
Especialista no assunto, a professora Angélica Macedo Lima, resolveu tornar sua vivência como educadora do serviço em uma tese de doutorado. Hoje, ela desenvolve uma pesquisa para o programa “Educação e Saúde na Infância e na Adolescência” da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Angélica ressalta dois pontos importantes do Sareh: a recompensa profissional do professor e a influência que a educação pode ter na evolução do quadro clínico.
“É difícil um aluno hospitalizado não querer estudar. Mesmo na UTI, sem comer direito, o desejo é seguir em frente”, conta a pesquisadora.
O Sareh seleciona profissionais, concursados, que demonstrem possuir conhecimento sobre escolarização hospitalar. Sem adicional salarial, eles precisam dar conta do conteúdo extenso dos ensinos fundamental e médio, além de escrever relatórios detalhados sobre cada aula e os avanços do aluno.
Angélica explica que os resultados obtidos, além da proximidade com o aluno e seus familiares, fazem com que muitos professores queiram integrar o serviço.
“Nas entrevistas que fiz, percebi que os educadores são muito valorizados pelas mães, pais e estudantes. Os professores gostam de ensinar e ver que o aluno compreendeu o conteúdo, mesmo quando o quadro clínico é grave e a esperança de voltar à escola é pequena”, detalha.
Educação que cura
A corretora de imóveis Gisele Wosniak Silva, mãe de Isabella Wosniak Silva, 13 anos, que em dezembro do ano passado passou por um transplante de medula, relembra os quatro meses de aula que a filha teve no HC. Residentes em Uberlândia (MG), elas vieram à capital paranaense para dar continuidade ao tratamento da garota.
VEJA TAMBÉM: Limitação de idade para ingresso no ensino fundamental impacta também no longo prazo
A menina encontrou estímulo e alegria nas aulas. “Internadas, as crianças não têm o que fazer, ficam longe dos amigos. As aulas ajudam a passar o tempo e os professores são uma companhia a mais. Ajudou muito na recuperação da minha filha”, relata Gisele.
Por se tratar de um serviço do governo paranaense, Gisele e Isabella encontram barreiras na cidade natal. “Estamos tendo muita dificuldade, já que não consigo um tutor mineiro para ensinar minha filha em casa”, desabafa a mãe que conta que a menina só poderá retornar à escola no ano que vem.
No Paraná, o estudante tem o direito de continuar a ser atendido em casa se não puder retornar ao convívio escolar. O professor e a família escolhem os melhores dias e horários para as aulas e os professores precisam enviar relatórios para que os Núcleos Regionais de Educação possam acompanhar de perto o desenvolvimento de cada aluno.
Volta às aulas na escola
Leila Cirino ressalta o papel das equipes do Sareh na reinserção escolar do estudante, já que alguns entraves aparecem devido à adaptação curricular.
“Nossa orientação é que essa criança não seja retida, não seja penalizada. O processo de escolarização tem que se adaptar à realidade do estudante. Ele tem um quadro clínico que respalda essa necessidade diferenciada”, defende.
“Entre em contato com as instituições de ensino para explicar que aquela criança teve aulas no hospital e domina um determinado conteúdo. Faço o possível para que ela possa continuar seus estudos normalmente”, afirma.
Boicote do agro ameaça abastecimento do Carrefour; bares e restaurantes aderem ao protesto
Cidade dos ricos visitada por Elon Musk no Brasil aposta em locações residenciais
Doações dos EUA para o Fundo Amazônia frustram expectativas e afetam política ambiental de Lula
Painéis solares no telhado: distribuidoras recusam conexão de 25% dos novos sistemas