A proposta de reforma do ensino médio apresentada na tarde desta quinta-feira (22) pelo governo Michel Temer divide a opinião dos especialistas. Enquanto os defensores da medida apontam que haverá a oportunidade de replicar no Brasil uma estrutura de ensino similar à adotada em países desenvolvidos, os críticos questionam a forma como ela foi apresentada – por Medida Provisória (MP) – e a falta de diálogo com a comunidade escolar.
Um dos principais elogios à proposta refere-se à flexibilização das disciplinas, ou seja, a possibilidade de o aluno escolher uma área específica para se aprofundar, como linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas.
“O Brasil oferece 13 disciplinas no ensino médio e essa não é a experiência internacional. O nosso modelo é da época da ditadura e, aos poucos, foram introduzidas mais e mais disciplinas em uma carga horária pequena. Não tem como cobrir um currículo enciclopédico com um número de horas tão restrito”, avalia Claudia Costin, professora visitante de Harvard e ex-diretora de educação do Banco Mundial. O resultado disso, segundo ela, é um ensino ruim, que não tem significado para o aluno.
Opinião parecida tem o gerente de conteúdo do movimento Todos pela Educação, Ricardo Falzetta. Para ele, a estrutura curricular do ensino médio está muito engessada, o que faz com que os alunos vejam superficialmente todos os conteúdos e não se aprofundem em nenhum deles. Isso faz com que não se preparem nem para o mercado de trabalho e nem para a educação superior. “É um ensino que não dá base para o aluno seguir adiante”, avalia.
Medida Provisória
Falzetta critica, no entanto, o recurso utilizado pelo governo para a reformulação desta etapa do ensino. Na avaliação dele, uma Medida Provisória não combina com processos educacionais, que precisam ser negociados e debatidos com a participação de todos os públicos envolvidos – o que vinha acontecendo na tramitação do projeto de lei 6.840/2013, que trata do tema.
O doutor em educação, Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) também questiona a MP e vê nela uma forma abrupta de o governo introduzir as mudanças no ensino médio.
Na avaliação de Alavarse, oferecer a possibilidade de o jovem direcionar sua formação para uma área específica é uma forma de aprofundar as desigualdades sociais e desviar a atenção da resolução de outras carências desta e de outras etapas do ensino, como a falta de infraestrutura e a valorização dos professores.
“Temos que garantir boas escolas, instalações e professores com salários adequados, não criar a flexibilidade. Vamos garantir o básico, isso sim seria a melhor decisão a ser tomada para garantir o direito da juventude [à educação]”, defende.