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Após os debates nos estados, MEC fará nova versão  da BNCC | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Após os debates nos estados, MEC fará nova versão da BNCC| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Cerca de 300 professores, estudantes e representantes de entidades ligadas à educação no Paraná participaram entre os dias 1º. e 3 de agosto do seminário que discutiu a segunda versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em Curitiba. O documento, que deverá orientar os currículos da educação básica no país – englobando os ensinos infantil, fundamental e médio –, recebeu diversos apontamentos e críticas dos educadores, que apresentaram propostas para afinar o conteúdo e os objetivos de aprendizado em cada etapa.

Leia também: Adiamento da entrega da BNCC para o Ensino Médio é recebido com cautela

Assim como ocorreu na primeira versão do documento, a disciplina de História foi uma das mais criticadas. Na avaliação deles, o segundo texto da BNCC apresenta quase que um retrocesso em relação ao anterior e uma “guinada para posições mais conservadoras do ensino da História”.

Isso se deve à falta de integração entre a história do Brasil e a chamada história geral, em especial nos anos finais do ensino fundamental. Tal fato, segundo os participantes, leva a um conhecimento fragmentado por parte do aluno, que não consegue ter a visão do todo.

Fases

Depois de receber 12 milhões de contribuições para o texto preliminar da BNCC, publicado em setembro de 2015, o MEC produziu outra versão do documento. Agora, após os debates realizados nos estados, o MEC fará a versão final da Base e a enviará para votação no Conselho Nacional de Educação.

Outro ponto destacado é o direcionamento ao estudo dos chamados heróis da história nacional, como Tiradentes e Dom Pedro I. Luis Fernando Ronchi, professor da rede estadual e técnico em Educação Básica do Núcleo Regional de Educação de Ivaiporã, explica que isso vai contra as concepções mais modernas e progressistas da história, que coloca todas as pessoas como personagens históricos. “Focar só nestes grandes grupos acaba tirando a humanidade da história”, pontua.

Esta busca pela história “de todos”, em especial a das minorias, também retrocedeu no comparativo entre as duas versões da base, na opinião dos especialistas. Enquanto o primeiro texto destacava o estudo das populações indígenas e africanas, por exemplo, no segundo elas têm um papel coadjuvante, aparecendo quando relacionadas à história europeia.

Língua portuguesa

Também bastante criticado em sua primeira versão, principalmente por deficiências relacionadas à gramática e à Literatura Portuguesa, o texto de Língua Portuguesa foi bem aceito na segunda proposta da BNCC.

“Houve um avanço muito significativo neste sentido, [com o texto] conseguindo ampliar e dar conta dessas necessidades em sua totalidade. A proposição não é a de que se estudem tópicos gramaticais em si mesmos, mas sim em função da relação que esses conhecimentos sobre a língua têm com os estudos dos gêneros textuais”, avalia Vilma Lenir Calixto, técnica pedagógica de Língua Portuguesa do Departamento de Educação Básica da Secretaria Estadual de Educação.

Avaliação

Para Ricardo Cardozo, professor do Instituto Federal do Norte de Minas e ex-coordenador Geral de Ensino Médio da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), a base não deve ser vista como currículo e nem como um documento “redentor”.

“O currículo será construído na escola, de forma multirreferenciada. A BNCC vai contribuir para uma política de formação de professores, de materiais e infraestrutura escolar, ou seja, para a melhoria da educação básica do país”, avalia.

Celso Augusto Souza de Oliveira, presidente da União dos Dirigentes Municipais de Educação do Paraná (Undime-PR), acrescenta que ela pode auxiliar o país a, de fato, ter uma unidade nacional, sendo esta obtida por meio da educação.

*Outras fontes: Cassiano Roberto N. Ogliari, chefe do Departamento de Educação Básica da Seed. Cristina Elena Taborda Ribas, técnica em Educação Básica da Seed. Cristiane Marthendal de Oliveira, editora de livros didáticos do Grupo Opet. Maria Pereira Boing, professora de escola de campo em Ivaiporã. Norton Frehse Nicolazzi Junior, professor de história e coordenador das áreas de humanas da Editora Positivo.

Adiamento da entrega da BNCC para o Ensino Médio é recebido com cautela

O adiamento da entrega da Base Nacional Curricular Comum (BNCC) do ensino médio para após a aprovação do projeto de lei que flexibiliza o ensino desta etapa, anunciado em 28 de julho pelo Ministério da Educação, foi recebido com preocupação pelos participantes do seminário. Na prática, caso seja aprovada a flexibilização dessa etapa da educação básica, os conteúdos ensinados seriam diferentes de acordo com a área do conhecimento escolhida pelo aluno, como linguagens, matemática ou ciências da natureza.

“Nós discutimos o documento como um todo e nossa defesa é a de que houvesse a manutenção deste todo. Do contrário, não vamos ter segurança da efetivação desses objetivos”, pontua Vilma Lenir Calixto, técnica pedagógica de Língua Portuguesa do Departamento de Educação Básica da Secretaria Estadual de Educação. Na opinião dela, a reestruturação do ensino médio deveria ser feita levando-se em consideração a BNCC.

Avaliação

No que se refere ao ensino médio a avaliação dos educadores foi no sentido de que sejam evidenciadas e fortalecidas na BNCC as questões relacionadas à formação do homem em sua integralidade, ou seja, à preparação do jovem tanto para a continuidade dos estudos quanto para o mercado de trabalho.

Um dos três grupos de trabalho que se debruçou sobre o estudo desta etapa durante o seminário apontou, ainda, a existência de alguns problemas relacionados entre a proposta da base e as Diretrizes Curriculares Nacionais do ensino médio– o grupo não identificou, no entanto, quais eram estes pontos.

A BNCC não deve ser vista como um documento ‘redentor’. O currículo será construído nas escolas, de forma multirreferenciada

Ricardo CardozoEx-coordenador Geral de Ensino Médio da Secretaria de Educação Básica do MEC
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