Pela terceira vez em 2019, as centrais sindicais, a União Nacional dos Estudantes (UNE) e outras organizações estudantis promoveram manifestações em todo o país, nesta terça-feira (13), para protestar contra o contingenciamento de verbas na educação e o programa “Future-se”, do Ministério da Educação (MEC).
Discursos, passeatas e bloqueios ocorreram em cidades de 26 estados e o Distrito Federal, com a participação de poucas pessoas em alguns lugares e de centenas de adesões em outros, como São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza.
Como não há números consolidados por nenhuma organização, é difícil saber qual foi o impacto do evento e se, de fato, os sindicatos conseguiram atrair pessoas fora de suas agremiações ou cor política. No Twitter, os termos "TsunamidaEducação" e “Tsunami13deAgosto” acabaram dando lugar, no fim da tarde, à expressão “Marolinha13deAgosto”, entre os assuntos mais buscados e comentados na mídia social - uma guerra de narrativas de difícil verificação.
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Os cartazes dos manifestantes deixaram claro que o evento também foi um grande ato contra o governo e contra a Reforma da Previdência. Em muitos lugares, manifestantes pediram ainda a libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com camisetas, jingles e gritos de guerra.
Na visão da UNE, o Future-se tem o objetivo de "sucatear para depois privatizar" a educação. Para a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE), o contingenciamento de R$ 348 milhões divulgado pelo MEC na semana passada "afetará a compra e a distribuição de centenas de livros didáticos que atenderiam crianças do ensino fundamental de todo o País".
Já a presidente nacional da União da Juventude Socialista (UJS), Carina Vitral, afirmou que enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o ministro da Educação, Abraham Weintraub, não "arredarem o pé dos cortes e ataques ao povo" os estudantes não deixarão as ruas.
São Paulo
Na capital paulista, centenas de estudantes, professores e manifestantes de movimentos sociais ocuparam parcialmente o vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp).
"Acho que a população está mais indignada, porque os efeitos dos cortes na educação começam a aparecer agora", diz o presidente da UNE, Iago Montalvão. Ele diz que o protesto também é motivado por atos recentes do presidente do Jair Bolsonaro, como a demissão do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão. "Estão negando a ciência, negando o método científico."
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Quanto ao Future-se, a UNE classifica o projeto como uma "tentativa envergonhada de privatização das universidades". A proposta da pasta inclui o repasse a organizações sociais (OS) de projetos em áreas de ensino, pesquisa e inovação.
Balões e bandeiras de várias entidades de classe foram colocados no vão livre do Masp, entre elas do Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo (Apeoesp), do sindicato dos professores municipais (Aprofem), da UNE, de entidades que representam estudantes secundaristas, da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e da Central Única Trabalhadores (CUT).
"Balbúrdia é cortar dinheiro da educação", dizia uma das faixas confeccionada pelos estudantes, em referência ao termo utilizado pelo ministro Abraham Weintraub em entrevista em abril.
Na Avenida Paulista era possível ver dezenas de manifestações da oposição ao governo Bolsonaro, como o coro "Lula Livre" e a crítica à reforma da Previdência. Partidos como PSOL e PSTU marcam presença no ato.
Alguns manifestantes também carregam cartazes com o rosto de Fernando Santa Cruz, morto na ditadura militar, pai do atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz. "Herói dos estudantes", diz o cartaz confeccionado pela UNE.
Rio de Janeiro
Centenas de pessoas se reuniram ao redor da Igreja da Candelária, no centro do Rio de Janeiro.
Por volta das 18 horas, os manifestantes seguiriam em caminhada até a sede da Petrobras, também no centro do Rio. Normalmente o ponto final dos protestos é a Cinelândia ou a estação férrea Central do Brasil, mas o destino foi alterado, segundo os organizadores, para que o ato sirva também como protesto contra a venda de ativos da petroleira estatal.
Salvador
Estudantes, professores e outras categorias da sociedade civil participaram de manifestação em Salvador. Com faixas, cartazes e bandeiras, eles começaram a se concentrar na Praça do Campo Grande, na região central da cidade, por volta das 9 horas, e, de lá, saíram em caminhada até a Praça Castro Alves, provocando lentidão no trânsito naquela região.
O ato contou ainda com a presença de centrais sindicais, a exemplo da Central Única dos Trabalhadores da Bahia (CUT-BA) e de políticos do PT e PCdoB.
"Com essas manifestações, estamos defendendo a democracia e a soberania nacional. Somos contra os cortes na educação e a reforma da Previdência, que está tramitando no Senado, além da privatização das universidades públicas, entre outras medidas que vem sendo adotadas pelo governo Bolsonaro", disse Cedro Silva, presidente da CUT-Bahia.
Durante a caminhada, os manifestantes, em menor número do que o de atos anteriores, gritavam palavras de ordem contra o governo e a favor do "Lula livre". Para os organizadores, 30 mil pessoas participaram do ato. A Polícia Militar não fez estimativa.
* Veja imagens dos protestos: