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Pseudociência? Homeopatia nas faculdades de medicina é assunto controverso

Homeopatia: na Índia a especialidade é oferecida indiscriminadamente em cursos de graduação. | Pixabay.
Homeopatia: na Índia a especialidade é oferecida indiscriminadamente em cursos de graduação. (Foto: Pixabay.)

Apesar de ser considerada especialidade médica pelo Conselho Federal de Medicina desde 1980, a homeopatia ainda não tem espaço relevante nos cursos nas faculdades brasileiras. Nas grades curriculares obrigatórias de Medicina, ela praticamente não aparece e é limitada a disciplinas optativas e eventos externos. Seria essa ausência fruto de um conservadorismo injustificado?

“Embora seja submetida aos mesmos critérios que regulam as demais especialidades, a homeopatia não dispõe do direito de ser apresentada a todos os estudantes de Medicina”, argumenta Sandra Abrahão Chaim Salles, doutora em Ciências pela USP, em artigo intitulado “A Presença da Homeopatia nas Faculdades de Medicina Brasileiras”, publicado em 2007.

Para Sandra, a ausência da homeopatia nas escolas de medicina dificulta o diálogo entre os médicos homeopatas e os demais profissionais de saúde. Hoje, para se tornar um homeopata, o médico deve passar por um curso de pós graduação de aproximadamente 1200 horas-aula e prestar provas para obter o título de especialista. 

Formação complementar ou obrigatória? 

Ipojucan Calixto Fraiz, professor de Medicina da Universidade Positivo (UP), defende o modelo atual de ensino da homeopatia e acredita que a formação do homeopata deve acontecer na pós-graduação. “Não há sentido em incluir a homeopatia como disciplina obrigatória nos cursos de Medicina. É uma especialidade médica e, portanto, a formação deve se dar no período de pós-graduação”, afirma. 

Fraiz complementa que, apesar de  a homeopatia não ser estudada como disciplina obrigatória do curso, existe interesse dos alunos e ela não é completamente negligenciada durante a vida acadêmica:  Eventos de extensão universitária têm abordado o tema quando proposto por professores ou alunos.” 

Exterior

Já em outros países, especialmente no oriente, onde existe abertura maior para práticas médicas não convencionais, a realidade do ensino da homeopatia é diferente. Na Índia, por exemplo, a especialidade é oferecida indiscriminadamente em cursos de graduação e estima-se que existam mais de 200 mil homeopatas. A cada ano 1,2 mil novos profissionais são formados. 

O alto número de médicos que se dedicam à especialidade é resultado de um dado alarmante: na Índia, cerca de 100 milhões de pessoas dependem exclusivamente da homeopatia para seus cuidados médicos. Para suprir a alta demanda, o governo indiano disponibiliza cerca de 11 mil leitos hospitalares para cuidados homeopáticos. 

Pseudociência 

Nos países ocidentais, onde a homeopatia não é tão difundida, a inclusão da especialidade nas universidades gera reações enérgicas. Em artigo denominado “A homeopatia é uma farsa”, o professor da USP Beny Spira argumenta que a  divulgação da homeopatia contribui para a difusão de um conhecimento arcaico e perigoso.

“A ciência baseia-se na busca pela verdade, não em opiniões. A ciência não é democrática. Se a maioria das pessoas decidir que a Terra é plana, isso não fará com que ela deixe de ser uma esfera imperfeita (...). A homeopatia é considerada, pela grande maioria dos cientistas, uma pseudociência, e há diversos bons motivos para isso”, diz Spira.

O professor argumenta que a homeopatia já foi estudada em todas as partes do mundo e que a grande maioria dos estudos revelou que o tratamento homeopático equivale ao tratamento com placebo. Spira ainda rebate os dois princípios mais importantes da homeopatia – dos similares e da diluição – e classifica a especialidade como arcaica. 

Estados Unidos

Nos EUA, a iniciativa de incluir a disciplina “Medicina Integrativa”, na qual a homeopatia está inserida, no curso de Medicina da Universidade de Maryland gerou um artigo contundente do professor Steven Salzberg, publicado no site da Revista Forbes. Salzberg, que também é professor na Universidade de Maryland, critica a entrada do que ele chama de “pseudociência” na escola de Medicina. “O que me perturba particularmente, como professor, é que as chamadas ‘medicinas alternativas’ estão entrando no currículo de respeitáveis escoas de Medicina, incluindo a Universidade de Maryland. Talvez a melhor forma de reverter essa tendência é chamar a atenção para isso”, afirma Salzberg. 

Depois de também desqualificar os princípios da homeopatia, o professor conclui que “o tratamento homeopático é feito com água, ou melhor, água em uma pílula de açúcar, que é vendida em lojas de alimentos e é oferecida como Medicina pelos serviços clínicos do Centro de Medicina Integrativa da Universidade de Maryland”, diz. “Por que isso não é má prática médica? Ainda não descobri”. 

Salzberg disse ainda que, ao promover práticas pseudocientíficas, o curso de Medicina da Universidade de Maryland está comprometendo sua missão científica e educacional. E faz um alerta ao reitor, que emitiu um comunicado simpático ao Centro de Medicina Integrativa: “Alguém precisa avisá-lo de que a Medicina Integrativa não tem espaço em um currículo médico do século 21”.

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