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Qual deveria ser a agenda pela educação das pessoas que se preocupam com o futuro do Brasil?

(Foto: Pixabay)

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Não é novidade que a sociedade brasileira transferiu o sentimento de competição entre tribos do campo futebolístico para o político. Antes anestesiados pelo esquemão pão & circo (ou pão & bola), os torcedores de nossa terrinha agora fazem apostas para acertar a composição do Supremo e passam o dia sofregamente buscando qual a melhor versão narrativa mais popular. Palpitam ainda sobre a atuação de juízes, mas não apenas sobre as decisões envolvendo chuteiras e grama.

Fenômeno facilitado pela disponibilidade de informações rapidamente transportadas por redes sociais eletrônicas, também resulta da possibilidade de nossos cidadãos de classe média passarem a comparar sua qualidade de vida com a de seus semelhantes em outras paragens.

Considero esse fenômeno positivo e parte de nosso amadurecimento como cidadãos. Observo um processo de sofisticação das aspirações da população e do aumento do nível de exigências quanto à conduta dos agentes públicos e aos serviços que prestam.

Os alunos brasileiros não são, em geral, expostos ao mesmo tipo de desafio pedagógico e cognitivo que seus pares internacionais em países desenvolvidos. Optamos pela mediocridade curricular.

A pandemia tirou o aprendizado do ambiente escolar e o levou para a sala de jantar dessas pessoas. Assim, mais um elemento de esclarecimento geral bate às nossas portas, pois algumas famílias se deram conta que tinham exagerado na terceirização do processo educativo de seus filhos para as instituições de ensino. Começa, então, a crescer um apetite pela qualificação de reivindicações educacionais e a busca por opções para melhorar a experiência educacional. Homeschooling passa a ser visto como uma opção não tão radical, por exemplo.

Mas o que se passou no mundo enquanto nós estávamos anestesiados celebrando com campeãs nacionais, sindicalistas no poder e grandes eventos esportivos e carnavalescos e que agora nos deixa com a sensação de que algo vai muito mal dentro das escolas?

Quando se analisa a evolução da proficiência dos alunos brasileiros pelo mais conhecido exame comparativo de habilidades cognitivas para compreensão de texto, Matemática elementar e cultura geral de Ciências, fica claro que o país ficou parado no tempo nos últimos 20 anos. Os dados do Pisa são bem claros, são insignificantes as alterações na distribuição das notas dos brasileiros em relação a seus pares ao longo de vinte anos da avaliação. Para se ter uma ideia do que o baixo desempenho do Brasil nesse tipo de prova representa, pois ela tem justamente o objetivo de avaliar a capacidade de “produção” de mão de obra qualificada, vemos que, para a faixa etária dos 15 anos (ou seja, para quem termina a educação obrigatória na maior parte dos países) contamos com apenas 27,2 mil alunos de alta performance (Níveis 5 e 6), enquanto que os Estados Unidos apresentam 333,3 mil para uma população que é apenas o dobro da nossa e que a China (com apenas nas 4 cidades participantes e metade da população elegível que a nossa participando das provas) produz 471,3 mil estudantes de alto desempenho.

É uma informação assustadora, principalmente quando estamos nos dando conta de que há grande possibilidade de que nossos filhos passem, cada vez mais, a competir com filhos de asiáticos educados em um sistema muito eficaz que o nosso.

A hipótese que eu apresento para explicar por que estamos comendo poeira é de que a dificuldade de avançar com o aprendizado está relacionada ao fato de que os alunos brasileiros não são, em geral, expostos ao mesmo tipo de desafio pedagógico e cognitivo que seus pares internacionais em países desenvolvidos ou nos asiáticos e que essa desvantagem começa já na educação pré-escolar, na instrução elementar de numeracia e literacia.

É muito mais fácil deixar alunos e pais na sombra, editoras com seus livros pobres e desatualizados e professores conversando sobre opções de gênero em sala de aula, que empreender a árdua tarefa fazê-los decorar a tabuada e a conjugação de verbos, compreender conceitos de Geometria e princípios de Gramática, treinar procedimentos matemáticos ou ler textos com sintaxe e vocabulário complexo.

Optamos pela mediocridade curricular. Essa opção se deu no âmbito das autoridades educacionais do Brasil desde os anos 1990 e foi reforçada recentemente com o advento de nosso suposto currículo nacional, a Base Nacional Comum Curricular, a BNCC. Enquanto os países de alto desempenho no Pisa passaram por um processo de consolidação de expectativas de aprendizagem mais altas, o Brasil permaneceu alijado dessa tendência de aumento de ambição acadêmica, por opção de quem estava em condições de acompanhar esse movimento liderado por países como Coreia e Singapura e optou por não fazê-lo, mesmo que fizesse parte de suas responsabilidades institucionais.

Infelizmente, temos que reconhecer que, no contexto brasileiro, o alinhamento em torno da mediocridade é muito mais poderoso e sustentável que o seu oposto. É muito mais fácil deixar alunos e pais na sombra, editoras com seus livros pobres e desatualizados e professores conversando sobre opções de gênero em sala de aula, que empreender a árdua tarefa fazê-los decorar a tabuada e a conjugação de verbos, compreender conceitos de Geometria e princípios de Gramática, treinar procedimentos matemáticos ou ler textos com sintaxe e vocabulário complexo. Quem terminou de ler essa frase e pensou que tudo isso é educação do séc. XIX, pode parar de ler, pois é exatamente isso que se aprende nas melhores escolas do mundo. Quem achar enfadonho, pode pegar a vassoura e treinar para ser faxineiro de chinês.

Cada vez mais, vemos famílias preocupadas em recuperar os princípios de uma “educação clássica”, embasada em disciplinas universais, em apresentar a seus filhos textos atemporais e fomentadores de virtudes e a buscar materiais didáticos alternativos, mesmo que seja preciso importá-los de países desenvolvidos. O risco de fazê-lo em casa e de forma apartada de uma comunidade de aprendizagem, como em uma escola, ou grupo de pais/alunos, é entrar em um permanente embate com seus filhos, que são sim influenciados pelo que a propaganda e os “vendedores de tudo” querem que eles consumam de forma acrítica.

Assim, é preciso que as famílias e até os alunos possam falar abertamente de seu incômodo com aprender pouco, em se sentir angustiados por não compreender bem o que se passa no mundo e possam se organizar em torno de grupos de aprendizagem mais ambiciosos, cobrando das escolas de seus filhos que esses aprendam mais. Entretanto, é extremamente difícil fazer essa mobilização sem um currículo competente. Sugiro começar pelo de Singapura ou Reino Unido, destrinchá-los com outras famílias e com as lideranças das escolas de seus filhos. Há também o Decreto Municipal 2560 de 29/1/2021 de Sobral, que foi produzido com base nos currículos dos países de alta performance no Pisa. Algo deve ser feito pelas famílias, pois todos os demais atores estão com seus burrinhos na sombra, tirando vantagem de um sistema que não funciona.

* Ilona Becskeházy é doutora em educação pela FEUSP.

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