Metade das escolas do Paraná obteve em 2014 média abaixo de 500 na Redação do Enem, nota mínima exigida pelo Ministério da Educação (MEC) para um aluno conseguir o certificado de conclusão do ensino médio. O resultado piorou em relação a 2013, quando 39% dos colégios avaliados não atingiram metade dos mil pontos possíveis na prova. O desempenho das instituições de ensino nas cinco áreas do conhecimento avaliadas pelo Enem foi divulgado na quarta-feira (5).
Das 957 escolas do Paraná que tiveram as notas divulgadas, 496 (51,8%) não chegaram a 500 pontos. Os dados nacionais mostram cenário parecido: 47,5% das escolas avaliadas no país não conseguiram média 500. No total, 15.640 escolas de um grupo de 29.635 tiveram suas médias divulgadas.
INFOGRÁFICO INTERATIVO: Confira as notas das escolas do Paraná no Enem
Para o professor de Produção de Texto Marlus Geronasso, o desempenho ruim na Redação pode ser explicado pela dificuldade de interpretação dos comandos da prova. “Em primeiro lugar, muitos alunos não entendem o que é uma dissertação argumentativa. O tipo de texto exigido na prova não é absorvido pelo aluno”, afirma.
Segundo Marlus, outro problema é a falta de compreensão do tema proposto. “No ano passado, o tema foi a publicidade infantil no Brasil, como ela tem atingido as crianças. Mas os alunos escreveram sobre crianças que trabalham como atores e atrizes. Em 2012, o enunciado pedia uma redação sobre a imigração para o Brasil no século 21. Muitos estudantes escreveram sobre a emigração do Brasil para outros países e em qualquer século”, diz.
Melhor média
A unidade Avenida do Colégio Alfa, de Cascavel, foi a escola do Paraná com a maior média na Redação: 751,71. No ranking nacional, a instituição aparece na 157.ª posição. O diretor-geral do colégio, João Rodrigues, atribui o resultado ao trabalho desenvolvido desde o ensino fundamental e ao fato de que grande parte dos alunos do ensino médio estuda em período integral.
Os alunos com aulas pela manhã têm um planejamento diário de estudos organizado para o contraturno, quando professores de diferentes disciplinas, entre elas Redação, ficam à disposição para tirar dúvidas. Além da sede Avenida, o Alfa tem outra unidade, na qual a média em Redação foi 633,15.
A escola bilíngue St. James, de Londrina, teve a segunda maior média em Redação no Paraná, com 742.11 pontos. Dos 37 alunos do ensino médio, 19 fizeram o Enem. Tanto o Alfa quanto a St. James são instituições privadas de ensino.
Outras áreas
Das 957 escolas do Paraná, 21% não atingiram 450 pontos em Matemática, nota mínima exigida pelo MEC para a certificação do ensino médio. Ainda segundo esse método de análise, a área de Ciências Humanas obteve o melhor desempenho em 2014: todas as escolas do Paraná tiveram média acima de 450. Em 2013, oito escolas (0,8% do total) haviam ficado abaixo da média.
Em Ciências da Natureza também houve um salto: o número de escolas abaixo dos 450 pontos caiu de 14,8% para 3,3%. Na prova de Linguagens, apenas três ficaram com média menor que 450 (0,3%), uma evolução em relação a 2013, quando 93 instituições (10%) não atingiram a média.
Ações contínuas melhoram a nota
- Rosana Felix
Apesar do desempenho ruim das escolas do Paraná na prova de Redação, muitas instituições conseguiram melhorar significativamente a nota de um ano para o outro. Das dez que mais cresceram (confira gráfico acima), quatro são estaduais. A história do sucesso em cada uma delas é semelhante: ações de incentivo à leitura e à produção de textos ao longo dos anos.
No Colégio Estadual do Campo Bom Jesus, na área rural de Marmeleiro (Sudoeste), onde a nota média em Redação cresceu 29,5%, o trabalho de professores efetivos fez diferença. “Não que os do PSS [Processo Seletivo Simplificado] não sejam bons, mas é que os efetivos permanecem e, com isso, conseguimos uma continuidade do trabalho”, diz o diretor da escola, Mauro Fischer. Ele diz que a participação das famílias também é importante. “Atendemos filhos de agricultores de assentamento e conseguimos mobilizar as famílias”, conta.
Exercícios de redação passaram a compor as avaliações bimestrais do Colégio Estadual Coronel Amazonas, em Porto Amazonas (Região Metropolitana de Curitiba), e isso motivou os alunos a aprimorarem os textos, diz a diretora Solange Cristina de Mello Bauer. “Além disso, desde o primeiro ano do ensino médio, os alunos treinam o texto para participar do Processo Seletivo Seriado da UEPG”, conta. São três provas ao fim de cada ano do ensino médio, que contam ponto para ingresso na instituição.
No Colégio Estadual Segismundo Falarz, de Curitiba, o trabalho começou em 2012, com ações voltadas ao incentivo da leitura e treino de redação. “Fizemos muitas oficinas sobre isso no contraturno, e a atuação dos professores da área ajudou muito, discutindo os erros mais comuns e como melhorar”, relata o diretor, Lizonei de Freitas.
Segundo informações da Escola Estadual Vereador Francisco Galdino de Lima, os professores de todas as disciplinas passaram a focar a correção da escrita, dentro de uma reestruturação do ensino médio, e isso contribuiu para o bom resultado em Redação. ”As aulas de Português puderam focar a discussão e treino da escrita”, diz nota enviada pela instituição.
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