O modelo educacional de Reggio Emilia começou a ganhar destaque mundial em 1991, quando o jornal norte-americano Newsweek apontou uma pré-escola da cidade como uma das dez melhores escolas do mundo. Desde então, escolas da cidade italiana conquistaram a admiração de educadores.
O diferencial do sistema é pensar nas crianças como indivíduos cheios de potencial e possibilidades para o futuro; já crianças com necessidades especiais e filhos de mães ou pais solteiros têm matrícula prioritária nas escolas da rede, sem precisar passar por processos de seleção.
“A organização de tempos e espaços é fundamental para acolher as crianças em uma escola. O professor não se limita a ‘ensinar’, mas organiza os espaços escolares para garantir que as crianças vivenciem experiências significativas que precisam ser valorizadas”, afirma o italiano Andrea Pagano, educador formado em Ciência da Educação e em Ciência Pedagógica, pela Università degli Studi di Modena e Reggio Emilia (UNIMORE), em entrevista à Gazeta do Povo.
Presente e futuro
A abordagem incentiva os educadores a considerarem o que são as crianças no presente, e não o que podem se tornar no futuro. Isso se reflete em voltadas para a criação de laços entre as crianças e o aprendizado por meio de projetos adequados ao perfil do aluno, rejeitando modelos de avaliações e exames padronizados.
O modelo surgiu após a Segunda Guerra Mundial, quando um grupo de mulheres da região percebeu a falta de uma creche e começou a construir uma edificação com as próprias mãos, com pedras e madeira encontradas nas imediações. A transformação da construção improvisada em escola foi consolidada com o envolvimento do pedagogo Loris Malaguzzi, que formulou o modelo educacional com base nas ideias de Jean Piaget, Lev Vygotsky, John Dewey e Maria Montessori.
A mudança deu certo e hoje a rede de Reggio Emilia conta com 35 pré-escolas, correspondentes a cerca de 40% das escolas públicas do município, que se conectam com mais de 30 redes internacionais de educação para o estabelecimento de colaborações entre pesquisadores e educadores.
Nas escolas, professores constroem currículos específicos, e os pais dos alunos trabalham como voluntários juntamente com os educadores. Na metodologia adotada por eles, as aulas são construídas ao redor de projetos que integram diversas áreas, como arte, ciência e matemática.
“Todas as escolas podem proporcionar aos adultos a oportunidade para pensar o espaço como algo diretamente relacionado ao seu trabalho. E, em todas as escolas, os adultos podem ter a coragem de dedicar maior atenção às competências que as crianças já possuem e de serem guiados pelos interesses e modo de olhar o mundo que elas expressam”, diz Pagano.
Realidade nacional
Para Gisele Mantovani Pinheiro, diretora do colégio curitibano Amplação, que utiliza o método italiano, é possível adequar o modelo a realidade nacional. “Escolas brasileiras que se inspiram na abordagem conseguem ter um olhar mais cuidadoso para uma avaliação que valida competências que as crianças já possuem”, diz.
Por meio desse fator de observação, o professor passa a criar possibilidades: “Assim é possível fazê-las aprender através da experiência e então focar em avaliações menos sistematizadas”, afirma Gisele.