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| Foto: Marcos Mello/Ilustração

Ajuda extra para não perder o ano

Perceber que os colegas avan­çavam em um ritmo diferente do seu deixou Larissa Nanemann, 10 anos, desmotivada para ir à aula. A mãe da menina, Sandra Mara Assolari Nanemann, conta que a escola particular em que Larissa estudava chegou a sugerir a reprovação. Mas a mudança de colégio acabou sendo a melhor solução. Larissa tem dislexia e agora está em uma escola municipal, onde passou a ter aulas de apoio no contraturno três vezes por semana e atendimento na sala de recursos nos outros dois dias. "Ela está mostrando que tem condições de se recuperar e as condições que a escola está oferecendo estão sendo fundamentais", conta Sandra.

Oferecer aulas no contraturno ou a extensão da carga horária para alunos com dificuldades é a principal estratégia que as escolas municipais de Curitiba têm usado para combater a reprovação e, consequentemente, a evasão. De acordo com Marília Marques Mira, gerente pedagógica do Departamento de Ensino Fundamental da Secretaria Municipal da Edu­cação, a retenção em alguma série entre os alunos da rede municipal ocorre em somente 3% dos casos, incluindo os alunos com presença menor de 75% durante o ano letivo. "O acompanhamento e as intervenções acontecem durante o ano todo", afirma.

Na rede estadual de ensino, além do programa lançado neste ano para apoiar os alunos que já enfrentaram a reprovação mais de uma vez, chamado de Plano Personalizado de Atendimento (PPA), as escolas são incentivadas a fazer um diagnóstico preventivo dos alunos, informa Fernanda Scaciota, diretora de políticas e programas educacionais. Além disso, as instituições devem propor ações de apoio para solucionar os problemas de aprendizagem. (AC)

  • Com aulas de apoio no contraturno e atenção especial dos professores, Larissa está conseguindo acompanhar a nova turma

Crianças e adolescentes que refazem alguma série continuam com dificuldades de aprendizagem nos anos seguintes. A conclusão é de um levantamento feito pela organização Todos Pela Educação com base em dados da Ava­liação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização (ou Prova ABC), aplicada a alunos do 4.º ano do ensino fundamental; e da Prova Brasil, que avalia estudantes do 5.º e do 9.º ano. Os dois exames são organizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pes­quisas Educacionais Aní­sio Teixeira (Inep).

De acordo com a pesquisa, apenas 13% dos estudantes do 5.º ano que já haviam repetido alguma série apresentaram o desempenho esperado para aquela série nos conteúdos de Português e Matemática. Se considerados os repetentes do 9.º ano, só 10% tinham desempenho adequado em Português e 4%, em Matemática.

Esses resultados, acredita Priscila Cruz, diretora executiva do Todos Pela Educação, devem servir de alerta para o poder público. "Os gestores têm de perceber que a repetência não adianta e que é preciso fazer com que os alunos realmente aprendam para que os déficits de aprendizagem não se acumulem ao longo dos anos", afirma.

Para conseguir melhores resultados, a educadora alerta que os problemas de aprendizagem devem ser combatidos ainda durante a alfabetização. Pela avaliação dos alunos do 4.º ano do ensino fundamental, feita com o objetivo de analisar o desempenho dos que concluem o 3.º ano, já é perceptível a diferença de aprendizado entre os alunos que têm 8 ou 9 anos e os que estão defasados. Enquanto 57,9% dos alunos na idade correta a­tin­giram o esperado para escrita, leitura e matemática, apenas 35,2% dos repetentes tiveram desempenho semelhante.

A psicóloga e professora da Universidade de São Paulo (USP) Edna Maria Maturano revela que, independentemente da opção pela retenção ou pela progressão continuada, os alunos com dificuldades, paralelamente ao recebimento de novos conteúdos, apresentarão melhores índices quando o ensino considerar as diferenças individuais e os alunos receberem atendimento personalizado. "As pesquisas mostram que a criança com dificuldades ou em defasagem precisa de uma carga horária maior de exposição dos conteúdos, com mediação de um adulto competente", afirma. Esse apoio, segundo Edna, precisa englobar o conteúdo e o aspecto emocional da criança, em um modelo de ensino que seja adaptado às suas necessidades pessoais.

Repetência

Por mais que o tema tenha sido alvo de críticas de especialistas em educação nos últimos anos, a reprovação ainda é ferramenta muito usada nas escolas brasileiras, especialmente nas públicas. O Brasil está em uma das primeiras posições entre os países que mais reprovam, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econô­mic­o (OCDE). No ensino fundamental, ao menos 10% dos alunos repetem alguma série e, no ensino médio, esse índice sobe para 13%.

"Um aluno não passa a aprender pelo fato de fazer de novo o que já fez. Se o ensino for o mesmo, esse aluno não vai conseguir aprender, assim como já não pôde aprender no ano anterior", diz Priscila. Segundo a diretora, as lacunas de aprendizagem dos estudantes precisam ser diagnosticadas durante todo o ano e ter o suporte da escola para saná-las de diversas formas, que incluem o reforço escolar, aulas no contraturno, apoio de um professor auxiliar e conscientização e envolvimento dos pais na vida escolar do filho.

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