As férias escolares podem ser um pesadelo para os alunos que precisam conviver com o fantasma da reprovação. Neste momento, mais do que se procurar culpados, é preciso estabelecer um diálogo franco entre o estudante, a família e a escola para identificar o que deu errado e definir estratégias que levem ao sucesso neste próximo ano.
LISTA: Confira recomendações para os pais diante da reprovação dos filhos
Os especialistas lembram que a reprovação não é um evento pontual, mas o resultado de diversas negligências dos atores envolvidos. “Ela pode ser decorrente de ausências do próprio estudante, que não conseguiu conectar o que estava aprendendo; dos pais, pois sabemos que a estrutura familiar muitas vezes impede que eles estejam próximos dos filhos; e/ou da escola, por não ter feito os devidos alertas [ao longo do ano]”, explica Marciano Cunha, mestre e doutor em Educação e licenciado em Ciências Biológicas.
Castigo
Mudar os planos de viagem das férias, comparar o desempenho do aluno com o de outros membros da família ou remoer com a criança a reprovação são atitudes que não contribuem para que ela possa superar o resultado e melhorá-lo no próximo ano, como explicam os especialistas. Isso não significa que o estudante não precise compartilhar da responsabilidade pelo ocorrido. Mabel Cymbaluk, assistente psicopedagógica do Colégio Marista Paranaense, sugere que os “combinados” estabelecidos com a criança, como não ganhar determinado presente [ou ficar sem videogame por um período] caso não passasse de ano, devem ser mantidos pela família. “Isso cria a noção de limite, caso contrário a criança pode não mudar o comportamento [em relação ao estudo]”, completa.
Passado o susto, é preciso que os motivos que levaram ao insucesso sejam avaliados, o que evita dois extremos perigosos: o desespero ou não se importar com a questão. “Perder o ano é um momento muito delicado. O apoio emocional é importantíssimo para que a criança não se sinta incapaz”, resume Mabel Cymbaluk, assistente psicopedagógica do Colégio Marista Paranaense.
Avaliação
O primeiro a se fazer é refletir sobre o que deu certo e errado durante o ano escolar e o que precisa ser melhorado ou revisto. “Às vezes, não é só uma dificuldade de aprendizado do aluno. Será que o professor procurou diferentes formas para que ele aprendesse?”, questiona Ana Regina Caminha Braga, psicopedagoga e mestre em Educação.
Outras questões, como o turno em que a criança estuda, a quantidade de atividades extracurriculares de que participa e a adequação (ou não) dela ao método de ensino utilizado pela escola também devem ser avaliados.
Feito o diagnóstico, o próximo passo é traçar estratégias para que isto não se repita e que, no próximo ano, o aluno possa ser bem-sucedido nos estudos. Neste sentido, Mabel explica que a escola e a família podem auxiliar o estudante a organizar a rotina de estudos e a compreender que ele não pode ter uma atitude passiva em relação à aprendizagem, uma vez que é seu principal sujeito.
Mudança
A possibilidade de mudar o filho de escola é uma opção que costuma despontar como solução para os pais dos repetentes. Os especialistas alertam, no entanto, que nem sempre ela é o melhor caminho a seguir.
Mabel sugere que, se a família confia no trabalho da escola, pode ser recomendado manter a criança na instituição, pois, como ela já a conhece, terá condições de avaliar alterações de postura e dar novos encaminhamentos.
Agora, se a família acredita que a linha pedagógica da escola que escolheu não era a adequada ao perfil do filho, a mudança pode vir a ser positiva. “Depende de cada caso e da análise que a família irá realizar”, resume Ana Regina.
Como recomeçar
Confira as dicas dos especialistas para lidar com a repetência do filho e ajudá-lo a superar a reprovação.
Diálogo
Crie um ambiente de diálogo com o seu filho. Não brigue ou converse em qualquer lugar. Sente-se com ele para conversar sobre o que aconteceu e, neste primeiro momento, ouça o que seu filho tem a dizer.
Reflexão
Ajude a criança a perceber os motivos pelos quais ela acredita que não obteve sucesso. Traga elementos para que seu filho pense sobre o processo de reprovação, mas sem a intenção de procurar culpados, pois o fato já foi consumado.
Prioridades
Com base nesta reflexão, estabeleça prioridades, mudanças que precisarão ocorrer no próximo ano letivo nas rotinas deste estudante para que seja possível combater os comportamentos que não foram adequados. A escola deve participar da formulação dessas estratégias.
Vire a página
Feito tudo isso, vire a página. Obrigar o estudante a ler ou fazer contas nas férias, por exemplo, pode ter um efeito contrário, pois ele pode ver estas atividades como castigo, e não como algo prazeroso. Possibilite um espaço de desconexão com esta realidade para que o jovem refaça suas energias e alivie as tensões da reprovação para que possa ter sucesso na nova fase.
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