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Sala de aula

Rir para aprender

Annelize Moran, João Gabriel e Graziele Godoi preferem as aulas mais descontraídas no Colégio Acesso | Priscila Forone/Gazeta do Povo
Annelize Moran, João Gabriel e Graziele Godoi preferem as aulas mais descontraídas no Colégio Acesso (Foto: Priscila Forone/Gazeta do Povo)

Um mestre e um discípulo andavam juntos por uma estrada quando pararam para observar um agricultor que, ao se dirigir à plantação, havia deixado o par de sapatos à beira da estrada. O discípulo então sugeriu: "Mestre, vamos esconder os sapatos dele? Quando não os encontrar, vai ser engraçado!" O mestre então disse que tinha outra ideia. Colocou uma moeda em cada pé de sapato do agricultor, se escondendo em seguida. Quando o homem encontrou as moedas, agradeceu ao céu, dizendo que anjos o haviam presenteado. O mestre então riu e disse ao discípulo: "Ele acha que somos anjos. É mesmo gostoso rir, não é?"

Com essa história o palestrante e mestre em Educação Marcos Meyer, que já foi professor de Matemática, exemplifica como professores podem ensinar com bom humor. "Uma das características que constroem o vínculo entre professor e aluno é a brincadeira e o rir com o outro, e não do outro. Não vale o professor querer ser engraçadinho e tirar sarro dos alunos, colocar apelido, humilhar ou provocar. Apesar de rirem, os alunos não gostam disso", afirma.

Um ambiente descontraído e livre para o riso é apontado por diversos estudos como o ideal para a aprendizagem. Os professores sabem disso, e têm deixado a postura sisuda cada vez mais de lado. Na atual sala de aula, um mestre distante, que exige silêncio absoluto da classe e não dá espaço para que a turma se expresse, não tem vez. "Hoje os professores estão intuitivamente brincando mais e trazendo os alunos mais para perto. Observamos bem isso com o início dos cursinhos, onde para dar aula para 150 adolescentes pilhados de energia o professor fazia uma aula animada e divertida para reter a atenção", diz Meyer.

Mas uma turma que ri unida, não é necessariamente uma turma que está aprendendo. E um professor que leva o violão e anima a plateia de estudantes nem sempre é um professor que está ensinando, como afirma a pedagoga Adriana Knoblauch, professora de Teoria e Prática do Ensino da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e doutora em Educação. "Se o professor ficar só na festa, com um conteúdo desarticulado, a alegria na sala de aula é passageira e não tem grandes repercussões para o ensino. É legal na hora, mas o conteúdo fica monótono depois", diz Adriana.

Disciplina

Para a diretora pedagógica do Colégio Acesso, Cláudia Santos, o riso é fundamental para o aprendizado e não está relacionado com a indisciplina ou algazarra. "Já foi comprovado que a aprendizagem envolvida com emoção ocorre de forma mais forte. O riso é manifestação de alegria interna, quando o professor consegue despertar no aluno a vontade de rir é porque o ambiente está agradável e onde você se sente bem, fica mais à vontade e predisposto a receber o que estão oferecendo. A aula descontraída cultiva a boa disciplina", afirma Cláudia. Ela concorda que é uma tendência os professores cultivarem a descontração em sala de aula, uma característica que é apreciada pelos alunos e mais fortes nos professores das novas gerações.

Mas, mesmo nos casos em que a personalidade do professor não combina com aulas-show de comédia, há maneiras de garantir o aulas bem-humoradas. "O professor contido, que se constrange com qualquer riso e devolve a brincadeira com bronca, manda um péssimo recado aos estudantes. Por outro lado, aqueles com perfil mais sério não precisam dar de palhaço na frente dos alunos, que devem até brincar com o jeitão dele. E essa é a hora de rir", afirma Meyer. Rir de si mesmo quando comete um erro no quadro, ou compartilhar alguma experiência constrangedora que teve por dois minutos na sala também podem ajudar. Que aluno vai se esquecer de um grande "mico" que o professor pagou? Essa troca de experiências diminui a distância e reforça o vínculo professor-aluno.

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