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Com a saída de Abraham Weintraub do comando do Ministério da Educação, anunciada pelo próprio agora ex-ministro em vídeo postado nas redes sociais nesta quinta-feira (18), o presidente Jair Bolsonaro terá de escolher outro nome para comandar a pasta, de forma interina ou até em definitivo. Até o momento, dois secretários do MEC, Carlos Nadalim, da área da Alfabetização, e Ilona Becskeházy, que recentemente assumiu a da Educação Básica, surgem entre os cotados.
Outro nome apontado é o do secretário-executivo do MEC, Antonio Paulo Vogel. Ele pode ser o escolhido para ocupar o cargo interinamente, até que seja feita a nomeação do novo titular da pasta. Nesta quinta, Weintraub afirmou que ele mesmo vai iniciar a transição com o seu substituto.
Mas existe também a possibilidade de Bolsonaro conduzir mais um deputado do chamado Centrão para ser o titular da Educação - a exemplo do que ocorreu com o Ministério das Comunicações. E ainda - como já foi mencionado em oportunidades anteriores -, de o presidente fazer uma minirreforma ministerial e indicar o titular de outra pasta para assumir o MEC.
No caso de optar por uma “solução caseira”, Nadalim pode ser o escolhido de Bolsonaro. Segundo informações do site do MEC, ele é formado em Direito e é mestre em Educação, pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Também tem especializações em História e Teorias da Arte e em Filosofia Moderna e Contemporânea. Já lecionou no ensino básico e no superior e foi coordenador-pedagógico em Londrina. Além disso, em 2018 foi laureado pela Câmara dos Deputados com o prêmio Darcy Ribeiro de Educação.
O projeto mais ambicioso de Nadalim no MEC é o"Programa de Alfabetização Escolar", cujo objetivo é dar aos professores a formação necessária e adequada para que ensinem as crianças a ler e a escrever por meio de ações mais eficazes - o Brasil tem hoje 11,3 milhões de pessoas que não sabem ler nem escrever. A adesão dos municípios é voluntária.
O programa, criado no ano passado e anunciado no fim de janeiro, é calcado em evidências científicas e recebeu a contribuição de pesquisadores em neurociência em outubro do ano passado, com a 1.ª Conferência Nacional de Alfabetização Baseada em Evidências (Conabe), organizada pelo MEC.
Em resumo, pesquisadores e cientistas reunidos na Conabe explicaram os motivos pelos quais a abordagem fônica é a mais eficaz para iniciar a alfabetização das crianças. A fala é algo que se aprende naturalmente, já escrita e leitura são produtos culturais, ações inventadas pelo homem. Por isso, de acordo com os pesquisadores, a criança demora mais para ser alfabetizada pela abordagem construtivista, que incentiva o descobrimento, a aprendizagem como se fosse um “jogo de adivinhação”. De acordo com os pesquisadores que defendem o método fônico, o ensino direto e sistemático é mais rápido e dá a base necessária para a criança avançar, o que também influencia na autoestima e diminui a evasão escolar nos anos seguintes.
Em entrevista à Gazeta do Povo, em janeiro, Nadalim ressaltou que o ministério não iria impor nenhum método educacional por meio de políticas públicas, mas que ele, pessoalmente, era entusiasta da abordagem fônica.
“Muitos dizem que a abordagem fônica é mecânica, já que exige que as crianças pratiquem a decodificação de palavras, para que elas consigam ler com fluência e com precisão. Essa tese é falsa. Os jogos de consciência fonológica ocorrem de forma muito lúdica. São jogos de linguagem em que as crianças manipulam unidades fonológicas da fala por meio de brincadeiras. Alguns dizem que estamos resgatando metodologias que foram usadas no passado, e isso também não é verdade. Nós sabemos que, no Brasil, métodos mistos foram adotados, silábicos, o próprio método global, e a abordagem fônica é completamente diferente dessas abordagens, dessas metodologias. Acho que é falta de conhecimento do que há de mais atual em matéria de evidências científicas”, disse Nadalim, à época.
Durante a gestão de Weintraub, ele também esteve à frente do “Conta Pra Mim”, programa sobre literacia familiar. A ideia é que os pais leiam e contem histórias para seus filhos, para que os alunos melhorem a compreensão da leitura e da escrita, entendam o que escutam e passem a falar com mais desenvoltura e clareza. Segundo o ex-ministro, os conteúdos do programa já tiveram 2 milhões de acessos.
Além dele, outra secretária cotada é Ilona Becskeházy, da Educação Básica. Ela assumiu a área em abril deste ano. Ela é mestre e doutora em política educacional, pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ) e pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP), respectivamente, e já trabalhou na Fundação Lemann. No início do governo de Jair Bolsonaro, ela chegou a ser cotada para ser ministra. No ano passado, participou do grupo de especialistas da Conabe, por sua experiência e estudos sobre o modelo de ensino de Sobral (CE).
Sob o “guarda-chuva” dessa secretaria, está a Subsecretaria de Fomento às Escolas Cívico-Militares, um dos principais programas do MEC. Ele foi lançado em 2019, antes de Ilona assumir o cargo na pasta. O programa pretende transformar 216 colégios públicos de ensino fundamental e médio em escolas com professores civis e administração militar. Disciplina, meritocracia e os bons resultados onde já é aplicado, como o caso de Goiás, são as chaves da iniciativa.
Outro nome ventilado foi o do presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) Benedito Guimarães Aguiar Neto. O ex-reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo assumiu em janeiro deste ano. À Gazeta do Povo, ele comentou as críticas pelo fato de ser contrário à Teoria da Evolução.
Aguiar é engenheiro elétrico de formação, com graduação (1977) e mestrado (1982) pela Universidade Federal da Paraíba. Fez doutorado pela Technische Universität Berlin, na Alemanha (1987), e pós-doutorado pela University of Washington, nos Estados Unidos (2008).
Atualmente, ele é o responsável pela expansão e consolidação dos cursos de mestrado e doutorado no Brasil, bem como pela concessão de bolsas para que pesquisadores brasileiros estudem e façam produção científica no exterior.