Irmãos
Cuidado com a compensação
É natural que os pais deem mais atenção àquele filho que não se sai tão bem por acreditarem que ele precisa de mais ajuda. Assim deixam o outro de lado por pensar que ele se sai bem sozinho. Esse comportamento, porém, pode afetar o mais estudioso e fazer com que ele queira reduzir seu rendimento escolar, por exemplo, para receber o mesmo afeto.
A gestora do ensino fundamental e psicóloga do Colégio Positivo Sandra Hoffmann alerta que a família precisa levar em conta que as crianças têm um enorme senso de justiça e que elas entendem que as recompensas como carinho, atenção e elogio são dadas por merecimento. Quando isso não é cumprido acontece um desestímulo e elas passam a chamar atenção de outra forma. "Tem de ter transparência no tratamento dos filhos, elogiar apenas quando merece e deixar claro os motivos", diz.
Na hora de dar atenção é fundamental que ela seja dividida entre os dois, mas focada em pontos distintos, voltada para a necessidade de cada um. "Os filhos nunca são idênticos. É preciso, sim, tratá-los de forma diferente para que não haja lacunas na educação, pois sempre um vai precisar de mais reforço em um aspecto do que o outro", diz a psicóloga e diretora do Centro Educacional Evangélico, Raquel Momm.
Padrão
A comparação entre irmãos é mais forte quando existe pouca diferença de idade entre eles. Segundo a psicóloga Raquel Momm, outra situação-padrão é que se o primeiro filho dá mais trabalho e tem mais dificuldade os pais cobram menos do segundo e comparam pouco. "Eles se sentem de certa forma aliviados. Mas o contrário é mais difícil, porque desafia o modelo estabelecido pelos pais."
Matheus, 13 anos, e João Victor, 11 anos, são irmãos, recebem a mesma educação, estudam na mesma escola, mas são bem diferentes. Enquanto o mais novo é introspectivo, sério e excelente aluno, o primeiro é mais agitado, faz amizade com facilidade mas não tira notas tão boas. A mãe, Lilian Kazumi Yagui, tem uma preocupação comum a todos os pais em situação semelhante: como tratá-los sem eleger o melhor e causar traumas que podem persistir durante toda a vida?
A resposta é simples, embora exija cuidado constante, seja na escola ou em casa. "Evitar comparações é o primeiro passo. Jamais diga que um irmão é melhor ou cobre desempenho igual. Isto estimula a competitividade e compromete a autoimagem da criança que se sai pior em alguma atividade, principalmente a escolar", diz a terapeuta comportamental e professora de Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Suzane Schmidlin Löhr.
Na escola
A autoimagem da criança é formada por aquilo que dizem dela, principalmente pais, colegas e professores. Por isso não basta que apenas a família tome cuidado para não comparar, a escola também precisa estar preparada, ainda mais quando o professor dará aulas para os dois irmãos. Se um teve um desempenho excelente e se destacou nas notas e nos trabalhos isto não precisa ser lembrado. Não só porque o outro já deve saber como também porque precisa desenvolver suas próprias competências, que não necessariamente devem ser iguais às do irmão. Se um vai bem nos estudos, o outro pode ser bom em relacionamento interpessoal, por exemplo, o que pode se reverter em benefícios no futuro, mesmo que na hora os pais não percebam isso. "Hoje o mercado não valoriza apenas quem tirou boas notas. Outras competências são bem vistas e o melhor profissional não será necessariamente quem se destacou na escola na infância", explica a psicóloga e diretora do Centro Educacional Evangélico Raquel Momm.
Mesmo que a frase "seu irmão é melhor na escola" não seja pronunciada, às vezes a criança percebe a diferença de desempenho e acaba se sentindo inferiorizada. Lilian, por exemplo, conta que várias vezes ouviu Matheus dizer que sabia que seu irmão era melhor, mais inteligente. Para resolver esta questão a professora Suzane recomenda que pais e professores ressaltem para a criança o que ela tem de melhor, que valorize suas competências e a estimule a investir nelas, sem jamais reforçar que ela sabe menos que o outro.
Entre irmãos
É natural que os pais queiram que aquele filho que se sai melhor ajude o outro na tarefa escolar. Se por um lado a atitude pode ser bem intencionada, por outro pode aumentar a sensação de inferioridade. O resultado vai depender do perfil das crianças. Na hora de decidir é preciso observar como o filho reage se o irmão tenta lhe ensinar algo. Se ele gostar e se animar com a possibilidade de melhorar na escola, não há qualquer problema. Caso contrário pode se sentir inferiorizado.
Porém Suzane alerta ao que pode acontecer ao filho que ajuda. "A aprendizagem em pares sempre é rica para os dois lados, mas um irmão não pode ter a responsabilidade de tutoriar o outro, porque é dever dos pais acompanhar nas atividades de casa, não dele."
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