Oficina é o lugar para tirar dúvidas
Elas não se sentiriam muito bem falar de "certas coisas" em sala de aula junto com os meninos. Muito menos gostariam de conversar sobre sexo com as mães. "Não dá para contar nada para elas. Parecem rádio-corredor. Contou alguma coisa e pode esquecer, cai na boca de todo mundo", comentam as estudantes da 6ª série Joana Salbag, 11 anos, Alessandra Mathias, 12, Letícia Cubas, 11, e Victoria Frizzo, 12.
O diálogo por idade
Os pais devem abandonar a idéia de ter um "papo sério" sobre sexo. Na opinião da pedagoga Lucélia Secco, deve haver diálogo desde cedo. Veja as dicas sobre como tratar o tema de acordo com a faixa etária.
De 0 a 7 anos
A criança sinaliza o que é de interesse dela naturalmente e as dúvidas se relacionam principalmente com sua identidade. O ideal é deixar que faça perguntas e se limitar a responder objetivamente, sem aprofundar.
A partir dos 8 anos
A criança passa a perceber afinidades com relação a uma pessoa do sexo a que pertence. As respostas devem continuar no campo da objetividade.
A partir dos 10 anos
Os pais devem dar a informação correta, sem medos.
Foi-se o tempo em que ensinar reprodução humana e, por tabela, falar de sexualidade, era responsabilidade apenas do professor de Biologia. Desde 2007, a orientação sexual ganhou caráter transversal na legislação brasileira. Isso significa que o tema passou a ser abordado por qualquer professor, independentemente de sua área. Com ensino planejado para ter início na 4ª série do ensino fundamental (o que há cerca de 20 anos era conteúdo restrito à 7ª série dentro do currículo de Ciências), em muitas situações a orientação sexual passa a ser assunto até mesmo das salas de educação infantil.
Ao perceber que os meninos de uma turma de Pré 2 de uma escola da rede municipal brincavam de puxar as calças das meninas, a professora Ivanete (nome fictício) chamou os meninos para o diálogo. Depois de muita conversa, percebeu que as brincadeiras não paravam. Foi quando resolveu mudar o curso das atividades em classe. "Tive de ensinar sobre a diferença dos corpos. Chegamos a falar de reprodução humana, tudo com linguagem própria para a idade deles", diz.
A intervenção da professora Ivanete não é exceção e nem deve ser vista pelos adultos como estimulação precoce, na opinião de alguns educadores. Em muitas escolas a orientação sexual começa cedo. Na rede municipal o tema está dentro da proposta curricular em todos os níveis de ensino, da educação infantil à de jovens e adultos, segundo a diretora do departamento de Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Educação, Nara Luz Salamunes. "Passamos orientações sobre cuidados com o próprio corpo e suas necessidades. A sexualidade está presente em todos os ciclos de vida. Temos o papel de ensinar também as crianças a se comportar em ambientes sociais", afirma.
Nas escolas do grupo Dom Bosco, a abordagem também começa na educação infantil. Nos cursos de especialização dados aos professores há uma disciplina específica sobre o tema. "As pessoas precisam entender que a questão da sexualidade não tem somente um reflexo biológico. Desde que a mulher está gestando, a sexualidade já está implícita. Existe uma confusão entre sexualidade no sentido sexual e o que é o desenvolvimento sexual", ressalta a diretora do Dom Bosco, Lucélia Seco. Para ela, o tema precisa ser trabalhado cedo, devido à erotização precoce. "Isso deve ser trabalhado na escola e desde cedo, para auxiliar na criação da identidade sexual", diz. Apesar disso, é proibido namorar ou trocar carinhos mais íntimos dentro das escolas do Dom Bosco. "É preciso esse limite. Nossos alunos têm de entender que a escola não é espaço para namorar. Eles passam a valorizar mais esses contatos", afirma Lucélia.
Momento certo
Muitos pais e até mesmo educadores ainda têm dúvidas sobre o momento certo de falar sobre sexo. As escolas brasileiras abordam a orientação sexual desde o fim da década de 1980 (a maioria ainda com conteúdo integrado ao currículo de Ciências). Na época a preocupação era com o crescimento de incidência da aids. Mas foi a partir de 1997, com a inclusão da orientação sexual como tema transversal nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ministério da Educação, que o assunto passou a entrar no conteúdo das aulas das 4ª séries do ensino fundamental.
Nas escolas do grupo Positivo, até a 6ª série o conteúdo fica restrito às questões biológicas e ainda é ensinado por professores de Ciências. Para evitar conflito entre a escola e as famílias, antes da abordagem uma carta é enviada aos pais. "Ainda temos em algumas famílias o tabu na hora de tratar desse assunto, por isso antes perguntamos se há algum inconveniente", diz a pedagoga e orientadora educacional Débora Regina Creti. A partir da 6ª série, os alunos que desejam tirar dúvidas podem se inscrever em oficinas de orientação sexual, ofertadas no contraturno. As turmas são separadas por gênero. Uma professora trabalha com questões relacionadas ao universo feminino e um professor no âmbito masculino. "Fazemos assim para evitar algumas brincadeiras e todos ficam mais à vontade", explica a responsável pelas oficinas em duas escolas do grupo, Sílvia Matta.
Nos colégios da rede estadual, a política é não adotar a metodologia que consta nos Parâmetros Curriculares estabelecidos pelo Ministério da Educação. A Secretaria de Estado de Educação informou por e-mail que a sexualidade é tratada de maneira mais crítica e que o foco está na capacitação dos professores.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink