Pesquisa da Human Rights Watch concluiu que grandes quantidades de dados de crianças e adolescentes foram coletadas e enviadas para empresas especializadas em publicidade comportamental| Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
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Uma investigação da Human Rights Watch chegou à conclusão que algumas ferramentas de educação online brasileiras teriam coletado dados de crianças, monitorando os menores de idade em salas de aula virtuais e acompanhando sua navegação na internet. A organização, que realiza estudos em defesa dos direitos humanos, fez a análise em 2022 e uma revisão dos dados em janeiro deste ano. Ao todo foram apontados oito sites responsáveis pelas práticas ilegais, dois criados pelas Secretarias de Educação de São Paulo e Minas Gerais. Alguns sites negam que os dados tenham sido enviados às empresas terceirizadas e outros não responderam aos questionamentos da reportagem.

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Do total, sete sites teriam enviado dados de crianças e adolescentes para empresas terceirizadas, usando tecnologias de rastreamento projetadas para publicidade: Estude em Casa, Centro de Mídias da Educação de São Paulo, Descomplica, Escola Mais, Explicaê, MangaHigh, Stoodi. O oitavo site, o Revisa Enem, teria repassado dados, porém sem usar rastreadores específicos de anúncios.

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Os dados dos sete sites, em mãos de empresas especializadas em publicidade comportamental, podem guiar diferentes ações de marketing virtual. As organizações são capazes de analisar dados dos estudantes, prever o que podem fazer em seguida na internet ou como podem ser influenciados. Os anunciantes também podem usar as informações e direcionar um conteúdo mais personalizado, como anúncios que os menores de idade irão ver na internet.

Gravações e registro de teclas para capturar texto

Ao analisar o site desenvolvido pela Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais, Estude em Casa, para oferecer ensino gratuito durante a pandemia por meio de videoaulas, a Human Rights Watch diz ter descoberto que o site coletava e enviava as informações por meio de tecnologia de rastreamento.

O Centro de Mídias da Educação de São Paulo, desenvolvido pela Secretaria Estadual de Educação de São Paulo, que também oferecia aulas durante a pandemia, utilizava quatro rastreadores de anúncios para enviar dados a duas empresas terceirizadas.

Já uma das maiores plataformas de ensino, o Descomplica, teria repassado dados dos usuários para 20 empresas, por meio de 30 rastreadores de anúncios e 19 cookies de terceiros que rastreiam usuários na internet. O site também teria usado gravações. A Human Rights Watch analisou a empresa novamente no final do ano passado e em janeiro deste ano detectou que o site enviou dados para 26 empresas, por meio de 37 rastreadores de anúncios e 39 cookies de terceiros.

Outros sites investigados são o DragonLearn e a Escola Mais. Segundo a organização, em maio de 2022, ambas enviaram dados para 6 empresas. Assim como a Explicaê também encaminhava as informações para cinco empresas. Em novembro de 2022, esse número aumentou para 37.

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A Revisa Enem, Stoodi e a MangaHigh também enviavam informações de usuários para empresas terceirizadas. O Stoodi, além de usar gravações para registrar o que os usuários faziam, registrava as teclas para capturar textos digitados. Segundo a Human Rights Watch, o mesmo site enviou as gravações para uma empresa de publicidade.

Outro lado  

A Secretaria de Educação de Minas Gerais negou a denúncia da Human Rights Watch dizendo que o seu site "não utiliza e nem coleta dados de alunos, pois não exige nenhum tipo de login para acesso à plataforma" e que a ferramenta não coloca os dados dos usuários em risco. "Constantemente são realizadas criteriosas análises técnicas, rastreamentos e adequações, caso necessário, nas plataformas online utilizadas pela pasta".

O site Explicaê respondeu que "todas as ferramentas utilizadas são única e exclusivamente para proporcionar uma melhor experiência aos nossos usuários e nenhum dado é compartilhado com terceiros". "Nenhum dado, seja ele telefone ou email, é coletado sem a permissão, conhecimento e aceite dos Termos de Uso e Políticas de Privacidade, por parte do usuário da plataforma", informou.

A ferramenta Stoodi não retornou aos questionamentos da reportagem, mas reconheceu à organização que coletou dados, para melhorar a experiência do usuário. Alegou também que os usuários tinham mais de 16 anos e que não vendia dados pessoais para terceiros.

A Secretaria Estadual de Educação de São Paulo, MangaHigh, Escola Mais, Revisa Enem e o Descomplica não responderam aos questionamentos da Gazeta do Povo e da Human Rights Watch. O site DragonLearn também não se manifestou, mas foi retirado da internet após a investigação. O espaço está aberto para o retorno dos sites investigados.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]