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Só para meninos (ou meninas): escolas com sexo único voltam a ganhar espaço

Alunas do Colégio do Bosque Mananciais, em Curitiba:  currículo similar ao dos meninos, mas em ritmo diferente | Divulgação/Colégio do Bosque Mananciais
Alunas do Colégio do Bosque Mananciais, em Curitiba:  currículo similar ao dos meninos, mas em ritmo diferente (Foto: Divulgação/Colégio do Bosque Mananciais)

Novos perfis de alunos e novas necessidades para a educação estão levando à criação de soluções que buscam na releitura do passado uma resposta para as questões do presente. Uma dessas tendências é o ressurgimento de escolas exclusivas para meninos ou meninas, que crescem a cada ano – hoje, são 240 mil escolas no mundo, presentes em 70 países. 

O declínio das escolas da educação singular, também conhecidas pelo termo single-sex (sexo único, em tradução livre), ocorreu por causa do desgaste de currículos tradicionais. Hoje, as escolas do tipo ressurgem com a proposta de se adaptar aos ritmos diferentes de cada gênero, apoiada em estudos que apontam diferenças no desenvolvimento cognitivo e social de meninos e meninas. 

“Salas de aula single-sex podem tornar mais fácil para os professores adaptarem o seu estilo de ensino às características comportamentais dos alunos”, afirma o psicólogo da escola norte-americana Clover Park School District, Robert Kirschenbaum. “Meninas parecem preferir ambientes mais quietos em que possam trabalhar em grupo e chegar a um consenso. Meninos costumam preferir um ambiente mais competitivo, com mais atividades físicas e mais barulho”, completa.

Modelo linear 

Nas escolas single-sex contemporâneas, não há diferenças nos conteúdos ensinados, mas sim nos métodos, que são mais adequados para os perfis de meninos ou meninas. O resultado é uma educação personalizada, que atende a necessidades específicas e gera resultados mais eficazes. 

“Em um ambiente single-sex, principalmente nas idades de 13, 14 e 15 anos, há a oportunidade, tanto para meninos quanto para meninas, de que eles sejam eles mesmos por mais tempo”, disse o ex-diretor da faculdade Eton College, Tommy Little, no Fórum Global de Educação e Habilidades (GESF, Global Education and Skills Forum). 

Cenário nacional 

No Brasil, as escolas single-sex entraram em declínio depois da década de 1950, quando as instituições públicas passaram a ser mistas. Mas elas não desapareceram. De acordo com o Censo Escolar da Educação Básica em 2010, existem pelo menos 612 escolas públicas e privadas em regime não misto no país. Esse número contempla centros de reeducação, que são tradicionalmente não mistos, escolas técnicas e escolas religiosas, além de escolas de educação básica. 

Em Curitiba (PR), o sistema foi adotado pela Escola do Bosque Mananciais, fundada em 2010. Regida pelos princípios da educação personalizada, a escola tem o objetivo de atender aos ritmos e perfis distintos de meninos e meninas. 

“Apesar de este ser um modelo menos interessante sob o aspecto meramente financeiro, por ser mais custoso, a sociedade estava carente desse sistema educacional que agora ofertamos”, analisa Leandro Pogere, diretor da instituição.

“Encontramos nesse modelo aquilo que muitas famílias estavam buscando: maior foco no estudo, relacionamentos mais saudáveis e respeitosos, professores que compreendem o universo dos alunos com mais facilidade, os respeitam e motivam e que auxiliam os pais”, afirma.

No ambiente escolar, a separação por sexo é total: meninos têm professores e meninas têm professoras, com aulas em prédios distintos que ficam separados por um bosque. 

“É importando para o processo que a professora de matemática ou física das meninas seja uma mulher, para ser modelo para a aluna e melhorar sua segurança e autoestima. Isso resulta na percepção de que ela também pode ser da área das exatas, ‘como minha professora!’. Caso fosse um professor homem dando aula para elas, seria mais forte a tendência à desmotivação”, diz Pogere, que prossegue:  “O mesmo exemplo valeria para o menino, que pode encontrar no professor de artes ou de literatura um bom modelo de profissional”.

A escola garante que o método não é segregacionista, já que o mesmo conteúdo é ensinado para meninos e meninas. A diferença está no ritmo de cada turma, que pode, por exemplo, ter aulas mais dinâmicas para meninos e mais reflexivas para meninas, se adaptando às necessidades específicas de cada perfil

“Esse modelo tende a colaborar para a igualdade de oportunidade entre alunos e alunas. Certamente todos já constatamos que há profissões comumente exercidas por homens e outras por mulheres. Uma questão que poucos sabem responder é: como resolver essas desigualdades sem tirar a liberdade de cada um? Na educação single-sex podemos encontrar uma solução, uma vez que trabalhamos as habilidades que comumente são encontradas no outro sexo”, conclui. 

Ressurgimento nos EUA

Nos Estados Unidos, o sistema single-sex, ainda restrito quase exclusivamente a escolas privadas de elite e religiosas, começa a ser usado no ensino público. É uma tentativa de melhorar o desempenho dos alunos, principalmente em instituições localizadas em regiões de baixa renda. 

Na escola primária Charles Drew, localizada no estado da Flórida, cerca de um quarto das turmas são separadas por sexo. A ideia é que o alto desempenho observado em escolas single-sex seja reproduzido, compensando o baixo desempenho característico de uma escola periférica. Os resultados começaram a ser observados em 2012, quando a avaliação estadual da escola subiu de nota D para C. Resultados similares foram encontrados em outras escolas públicas que adotaram turmas single-sex no país, em centros urbanos como Nova York, Chicago e Filadélfia. 

Outra escola no estado da Flórida, a Dillard Elementary, oferece turmas divididas por sexo para os alunos do ensino primário. Nas aulas, os professores são encorajados a adaptar as atividades para o perfil de cada sexo: meninos têm atividades de matemática com competições, meninas têm aulas de estudos sociais e linguagem com música relaxante. 

“Posso guiá-los para o nível deles e incluir esportes e coisas diferentes”, disse ao The New York Times a professora MeLisa Dingle-Mason, que leciona matemática em uma turma de terceiro ano exclusiva pra meninos. 

Segundo dados do Departamento de Educação dos EUA em 2014, o país conta com 850 escolas públicas single-sex e cerca de 750 escolas públicas que oferecem pelo menos uma turma single-sex.

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