Cursar uma universidade tradicional ou apostar num curso técnico? O dilema de muitos jovens que se aproximam do tão esperado vestibular pode se intensificar ainda mais. Mas calma, nada de desespero. É que as profissões, tais como são conhecidas hoje, podem mudar de cara. Quem avalia essas mudanças é o sociólogo Simon Schwartzman, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS) e ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Interpretar os sinais do mercado de trabalho e prever tendências para a formação dos profissionais é com ele mesmo. Ao lado de Colin Brock, Simon organizou o livro "Os desafios da educação no Brasil", que reúne nove artigos e foi lançado pela Editora Nova Fronteira. O sociólogo explica quais são as habilidades que estarão em alta no futuro.
Quais os desafios dos educadores do século XXI levando em consideração que os jovens estão cada vez mais resistentes e se adequando menos ao sistema de ensino tradicional?
Simon - O Brasil ainda é conservador nesse setor. O ensino superior, por exemplo, está muito preso ao antigo modelo de profissões clássicas. Enquanto isso, a maior parte do mercado de trabalho requer formação mais ampla, genérica e flexível. Basta perceber que muitas pessoas mudam de trabalho várias vezes ao longo da vida. A tendência conservadora também aparece no ensino médio. Ele ainda está fortemente organizado em função do treinamento para os exames de vestibular. Isso faz com que os estudantes gastem muita energia memorizando coisas que nunca utilizarão e esquecerão rapidamente.
Quais deverão ser as profissões do futuro?
O mundo do trabalho se organizará cada vez menos em termos de profissões, e cada vez mais relacionado à competência no uso da língua, ao manejo de conceitos científicos, ao uso da tecnologia da informação, e de habilidades sociais como liderança, empreendedorismo, comunicação e sociabilidade. Pessoas altamente especializadas serão muito solicitadas, mas em número relativamente pequeno. E as atividades de rotina serão feitas cada vez mais por máquinas e equipamentos eletrônicos.
Essa tendência faz aumentar o dilema dos estudantes que estão prestes a fazer o vestibular, principalmente daqueles que ainda têm dúvidas sobre fazer um curso mais abrangente ou outro especializado?
Eles devem ter em mente o seguinte: buscar uma formação mais geral e menos limitada pode ser decisivo na hora de ampliar as opções no mercado de trabalho. Atualmente, é muito mais útil para a vida das pessoas um conhecimento amplo, com ênfase no uso das línguas nacional e estrangeiras, na familiaridade com a matemática e no conhecimento na área social - incluindo a economia, o direito e a sociologia. Já um curso mais especializado corre o risco de se tornar obsoleto em muito pouco tempo. O ideal seria combinar os dois tipos de formação. Conheço muitos advogados que não chegaram a fazer o exame da OAB e hoje atuam em áreas diversas às do direito. O conhecimento geral que adquiriram já foi válido para buscarem outros caminhos.
Algumas pessoas que já trabalham procuram cursos técnicos para se especializar com maior rapidez. Essa lógica é a mais coerente?
Sim, mas ele não pode se esquecer que corre o risco de ficar restrito a esse conhecimento especializado. Alguém que quer trabalhar em hotéis, por exemplo, pode ficar em dúvida sobre cursar hotelaria ou administração. Com a primeira formação, a pessoa consegue ser incluída na área mais rapidamente. No entanto, caso perca o emprego no hotel, terá menos opções de trabalho do que um administrador.
Na análise de um currículo profissional, o diploma continua tendo um grande valor na hora de selecionar candidatos para uma vaga?
Querer um diploma só pelo diploma é uma roubada. O papel não faz milagres. Cada vez mais o mercado valoriza a competência do profissional, sua experiência e habilidades genéricas. É claro que o diploma torna-se um ponto positivo, mas nem sempre é o que vai determinar a seleção do profissional. Se ele não for eficiente naquela função, perde a vaga.
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