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Um dos atiradores (no detalhe à direita da foto) e o personagem da série American Horror Story: inspiração? | Reprodução /YouTube / Facebook
Um dos atiradores (no detalhe à direita da foto) e o personagem da série American Horror Story: inspiração?| Foto: Reprodução /YouTube / Facebook

Não se sabe ainda o que levou dois atiradores de 17 e 25 anos a disparar contra dezenas de pessoas na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP), na manhã desta quarta-feira (13), causando a morte de, pelo menos, dez pessoas. Testemunhas da tragédia relataram que os autores dos tiros eram ex-estudantes da instituição e pareciam querer se vingar de professores e funcionários. 

Nada disso está oficialmente confirmado, mas é muito provável que a tragédia em Suzano tenha sido inspirada no famoso massacre de Columbine, no estado do Colorado, nos Estados Unidos, em 1999, quando dois estudantes prepararam, em ação cinematográfica, uma vingança após sofrerem anos de bullying, deixando 13 mortos e 27 feridos. 

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A tradicional escola em Suzano e Columbine

A Escola Estadual Raul Brasil está localizada em uma região tradicional e pacífica de Suzano, um “oásis” no município, segundo moradores no local. Considerada de qualidade, suas vagas são muito disputadas ano a ano: tanto nos anos de 5º ao 9º ano do ensino fundamental, quanto no ensino médio, o desempenho da escola no Ideb, índice de qualidade do ensino no Brasil, está acima da média nacional (5,8 nos anos finais do ensino fundamental e 4,1 no ensino médio).

Relatos de moradores afirmam que os atiradores moravam na região, entraram em um horário propício – perto do intervalo das aulas – e foram direto para a sala da diretora – ou seja, sabiam localizar perfeitamente o local –, onde a mataram. Os dois levaram objetos peculiares para a ação: além de armas calibre 38, os atiradores portavam uma besta (espécie arma medieval que dispara flechas), machados, uma caixa de explosivos e garrafas montadas como coquetéis molotov.

O cenário, as armas utilizadas e o suicídio final são similares ao tiroteio ocorrido na Columbine High School, escola de ensino médio dos Estados Unidos, localizada em Columbine, no estado do Colorado, em 20 de abril de 1999.

Na época, dois alunos da escola, Eric Harris e Dylan Klebold, mataram doze estudantes, um professor e feriram 27 pessoas, em um ataque planejado muito tempo antes – eles esconderam 99 explosivos na escola. Com o uso de bombas e espingardas, os dois percorreram por quase uma hora as salas da escola atirando até cometer suicídio.

Em Suzano, o traje utilizado pelos atiradores sugere que eles possam ter sido influenciados pela série American Horror Story, no episódio inspirado no massacre de Columbine.

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Inspiração e motivação

A ocorrência desse tipo de massacre está ligada, em geral, à vingança após sofrer bullying.

Um estudo realizado na Clemson University, que mostrou um aumento expressivo no número de mortes em ataques com tiros em massa em escolas nos Estados Unidos nos últimos 20 anos - 66 mortes em 13 ataques, entre 2000 e 2018, mais do que em todo o século XX -, revelou também que os adolescentes muitas vezes não têm recursos intelectuais, afetivos, na escola e na família para lidar com problemas psicológicos e abordagens violentas, acabando por reagir de forma violenta.

Outro levantamento, feito pelo psiquiatra Timothy Brewerton com dados dos 66 ataques em escolas que ocorreram entre 1966 a 2011, indica que 87% dos atiradores sofriam bullying e foram motivados por desejo de vingança. 

A pesquisa TIC Educação, divulgada em outubro do ano passado, também apontou uma grande frequência de bullying e reações adversas. Segundo o trabalho, 40% dos professores brasileiros já ajudaram alunos a enfrentar situações problemáticas ocorridas na internet como bullying, discriminação, assédio e disseminação de imagens sem consentimento. E, segundo a pesquisa, a maioria dos professores (56%) já promoveu debates com os alunos sobre como usar a internet de forma segura; e 66% estimularam os alunos a debater os problemas na internet.

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“O bullying prolongado pode causar, como se viu em casos como de Realengo, o surto psicótico. Existe um processo traumático, a pessoa não tem tratamento adequado para isso e acaba desenvolvendo, dentro desse trauma, comportamentos agressivos, desejos violentos de vingança, não consegue trabalhar essas coisas. Se sente injustiçada, rejeitada”, diz Alexandre Saldanha, advogado e especialista em bullying, membro da Comissão da Criança e do Adolescente da OAB-PR.

“Com o passar dos anos, acaba criando um trauma, uma vontade de vingança que acaba sendo lógico para quem está sofrendo. Se não se trabalhar isso da forma adequada, não trabalhar o ambiente escolar, eles acabam maturando o sentimento, guardando isso. Sem um trabalho adequado, chega-se a esse ponto [ao do tiroteio]”, continuou Saldanha.

Efeito Columbine

Uma preocupação agora é que casos como esse tenham consequências como o conhecido “Efeito Columbine”, o aumento dos tiroteios em escolas por imitação de casos reais ou de ficção. 

“Pesquisas mostram que se tornar famoso é um dos objetivos mais importantes para essa geração”, disse Adam Lankford, pesquisador e professor de justiça criminal na Universidade do Alabama, em entrevista para a Gazeta do Povo em 2017. “Não há dúvida de que existe uma associação entre a cobertura da mídia recebida por esses atiradores e a probabilidade de eles agirem”, diz ele.

Durante as investigações de um ato similar ocorrido em uma escola em Goiânia, em outubro de 2017, por exemplo, o adolescente responsável por matar dois colegas e ferir outros quatro admitiu à polícia ter se inspirado pelo caso americano.

Levantamento realizado pelo FBI em 2013, contabilizando dados desde 2000, indicou um aumento no número de casos depois do Massacre de Columbine, com um crescimento ainda mais acentuado nos últimos anos. Segundo a pesquisa, o número de casos aumentou de 6,4 até 2006, para 16,4 entre 2007 e 2013. 

Espera-se que, após Suzano, as escolas consigam evitar um efeito similar com ações antibullying e uma melhora no ambiente escolar.

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