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Estudantes dos cursos técnicos de nível médio da UTFPR pedem quem modalidade não seja extinta no antigo Cefet-PR | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Estudantes dos cursos técnicos de nível médio da UTFPR pedem quem modalidade não seja extinta no antigo Cefet-PR| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Na última semana a Justiça determinou que a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) voltasse atrás em sua decisão de não ter processo seletivo para seus dois últimos cursos técnicos de nível médio para ingresso no segundo semestre. No ano passado a universidade havia anunciado que reduziria as vagas ofertadas em 2016, extinguindo novas turmas a partir de 2017. A justificativa para a medida é que o processo de transformação do antigo Cefet-PR, em 2005, trouxe diversos desafios na consolidação da instituição como universidade federal, e que por essa questão de foco, processos de contratação de profissionais e professores para atuar no nível técnico ficaram em segundo plano.

Além disso, a instituição passou a ser gerida pela Secretaria de Educação Superior (Sesu), no Ministério da Educação, e não mais pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec). O processo teria levado à atual falta de estrutura para a oferta de novas vagas nos cursos técnicos, segundo a instituição. Ainda tramita na Justiça processo que avalia se UTFPR pode deixar de ofertar os dois cursos a partir de 2017.

Há décadas a UTFPR, fundada em 1909 como Cefet, tem tradição de ofertar cursos técnicos de qualidade reconhecida pelo mercado. “Quem se formou no Cefet fica sentido com o fechamento dos cursos, e ficamos orgulhosos com esse retorno, mas hoje o foco da UTFPR é o ensino superior, que tem hoje 32 mil alunos”, afirma o reitor da UTFPR, Carlos Eduardo Cantarelli, que é egresso do técnico em Eletrônica e destacou que é preciso valorizar os cursos técnicos ofertados pelos 26 campus do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFPR) que foram criados em lei de 2008 e que atenderiam a demanda do estado.

O reitor disse que reconhece o valor do ensino técnico para o país, e que a universidade ainda pode voltar a oferecer cursos de ensino médio integrados ao técnico, em outro momento. “Podemos em outra conjuntura e outro momento atender essa demanda da sociedade, pela carreira de nível técnico na educação básica. Mas precisamos de investimentos para poder voltar a oferecer esses cursos no futuro”, diz.

De acordo com a coordenadora do programa de pós graduação em tecnologia e professora do departamento de matemática Nanci Stancki da Luz, doutora em Política Científica e Tecnológica, a formação para a área técnica tem um papel social muito importante e que tem grande demanda por significar um passo determinante para a trajetória dos estudantes. “

É salutar para o ensino termos uma universidade que trabalhe com verticalização do ensino, desde o médio, à graduação e pós. O técnico é um curso que tem uma qualidade e papel fundamental para a classe trabalhadora.” A professora também ressaltou o caráter inclusivo dos cursos técnicos, que oferecem uma formação para a continuidade dos estudos, levando alunos a seguirem para o ensino superior para cursar engenharias, por exemplo.

Curso técnico de nível médio é esperança para etapa de ensino

Um dos maiores desafios tidas por especialistas para o avanço da educação no Brasil é o ensino médio, etapa campeã de evasão de estudantes e de distorção idade-série, quando os alunos ingressam mais velhos do que deveriam. Diante da falta de atratividade do ensino médio comum, uma das ações mais defendidas é apostar nos cursos técnicos, o que traria mais atratividade para os estudantes, que poderiam optar por ter contato antes do ensino superior com formação na área da carreira de interesse.

Uma das metas do Plano Nacional de Educação (PNE) determina que sejam triplicadas as matrículas da educação profissional técnica de nível médio até 2024, sendo pelo menos 50% da oferta no segmento público. De acordo com o Ministério da Educação (MEC), a cada 4 alunos do ensino médio comum, há ao menos um que está recebendo educação profissional de nível técnico, o equivalente a quase 2 milhões de estudantes.

Fazer um curso técnico ainda não é um processo natural para os jovens, que do médio regular são empurrados para o ensino superior, segundo o ex-secretário de Educação Profissional e Tecnológica do MEC, Marcelo Machado Feres. Ele afirmou, no final do ano passado, durante o 2º Seminário do Ensino Médio, que estava sendo analisada a proposta de incluir no ensino médio regular uma formação básica em uma das 13 áreas técnicas para que a partir dali o aluno pudesse seguir se aperfeiçoando no ensino superior.

Com a recente mudança de governo, o MEC informou, por meio da assessoria de imprensa, que o ensino técnico pode continuar sendo uma das prioridades para a educação brasileira, mas que “todos os projetos estão sob reavaliação, sem ser possível no momento adiantar o que será mantido ou alterado.”

Faltam vagas

Segundo o diretor geral Cezar Augusto Romano, com a criação dos Institutos Federais de Tecnologia, que têm atuação em 21 cidades paranaenses, a cobertura do ensino técnico integrado ao médio é suficiente. “Nós temos muito mais oferta de vaga de formação técnica do que tínhamos no antigo Cefet, não estamos deixando de atender a sociedade ao deixar de ofertar os dois últimos cursos integrados ao médio, o governo federal ampliou essa oferta”, conta.

Um professor da UTFPR que não quis se identificar afirma que o encerramento dos cursos técnicos prejudica a comunidade, uma vez que muitos jovens só tiveram acesso ao ensino superior porque antes puderam contar com a formação de qualidade na UTFPR. Ele também ressaltou que a “crise” do ensino técnico de nível médio foi criado propositalmente pela própria universidade. “A maioria dos departamentos da universidade não tem mais interesse na continuidade do curso técnico, essa falta de estrutura existe por opção da universidade, que há anos já pensa nessa transição para o ensino superior”, afirma.

No entanto, em uma cidade populosa como Curitiba, o IFPR não dará conta de absorver a demanda sem a UTFPR, segundo o ex-aluno e ex-professor da rede federal de ensino técnico, hoje advogado do Grêmio Estudantil da UTFPR Henrique Júdice Magalhães. De acordo com Magalhães, a lei 11.184, de transformação do antigo Cefet-PR em universidade, diz que a oferta de cursos técnicos, como os de Eletrônica e Mecânica que estão para ser encerrados na UTFPR, deve se basear na demanda.

“A imensa maioria dos estudantes que tentam ingressar nos cursos técnicos ficam de fora. No último processo seletivo da UTFPR, início de 2016, de cada 30 candidatos a vagas no curso de Eletrônica, 1 entra e 29 ficam fora. No IFPR para cada um que entra, cinco ficam de fora.” Magalhães lembra ainda que de um lado haveria centenas de estudantes querem fazer esses cursos sem conseguir por falta de vagas e do outro indústrias que precisam desses profissionais, em falta no mercado.

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