A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) está com aulas prejudicadas desde terça-feira (10). Um movimento de alunos, do qual participam representantes de partidos de esquerda, decidiu em assembleia “entrar em greve”. O motivo oficial? O bloqueio de R$ 59,3 milhões do orçamento anual da universidade, o que representa 3,83% de um total de R$ 1,55 bilhão. Como esse valor pode ser desbloqueado ainda este mês e não houve reação estudantil similar em outros contingenciamentos dessa ordem, ou maiores, feitos em governos anteriores, por que agora os alunos resolveram parar? Haveria motivo suficiente? Abaixo, algumas pistas.
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Greve de alunos na UFSC
O reitor da Universidade, Ubaldo Cesar Balthazar é filiado ao PT desde 1995. Assim que o movimento estudantil amadureceu a ideia da greve, Balthazar viajou para a Itália com a família. A assessoria de imprensa da UFSC ainda não esclareceu se ele está em férias (o que, por portaria da universidade, não é permitido fora do recesso acadêmico). De qualquer forma, se estivesse aqui, ele seria cobrado para dar aos alunos o mesmo apoio oferecido a estudantes que invadiram a reitoria da Universidade Federal da Fronteira do Sul (UFFS), em Chapecó. O reitor participou de um evento/assembleia da invasão (veja vídeo abaixo), escrevendo, dias depois, uma carta aberta de incentivo ao ato, publicada no site oficial da UFSC.
Em sessão “aberta” do Conselho Universitário da UFSC, no dia 3 de setembro, na qual participaram cerca de 5 mil pessoas (entre professores, servidores e alunos), os presentes decidiram dizer "não" ao Future-se, a proposta do governo para tentar conseguir mais recursos para as universidades federais. Na ocasião, os alunos foram doutrinados sobre os mitos que a esquerda está divulgando sobre o Future-se: que as universidades perderão a autonomia e que o programa é o primeiro passo para privatizar as universidades. Ainda que o Future-se tenha, sim, alguns pontos de atenção e questionamento, esses mitos são reproduzidos sem nenhum embasamento. Análises favoráveis ao Future-se, de técnicos de outras universidades, são ignoradas.
Nos cartazes e manifestações estudantis há um desconhecimento dos valores contingenciados e também dos supostos serviços que serão afetados. Por exemplo, desde o início do contingenciamento, o Ministério da Educação (MEC) deixou claro que a verba para os restaurantes universitários (RU), proveniente do Plano de Assistência Estudantil (PNAES), não seria bloqueada. Mesmo assim, a UFSC anunciou que o seu RU poderia parar em setembro. Na verdade, o máximo que ocorreria pelo contingenciamento seria a redução do atendimento do RU a estudantes que estão em situação de vulnerabilidade socioeconômica, como está previsto em lei. Para os mais pobres, o dinheiro está garantido - tanto que, em setembro, o reitor confirmou que os serviços de RU não seriam paralisados (e para nenhum estudante, independentemente do seu poder aquisitivo).
Outra desinformação: os estudantes ignoram também que a maior parte das bolsas da Capes que deixaram de existir estavam vagas (sem bolsistas) e eram de cursos de pós-graduação de baixa qualidade, de notas 3 e 4. E que, das 11,8 mil suspensas, 3,1 mil voltaram a ser ofertadas para cursos de mestrado e doutorado de alta qualidade, avaliados pela Capes com notas 5, 6 e 7.
Outro aspecto que chama a atenção de quem entra no campus são as pichações pela "Luta de classes", "Lula Livre", "Revolução contra o governo fascista" e críticas a Jair Bolsonaro.
O campus também tem uma barraca que distribui panfletos a favor da libertação do ex-presidente Lula, condenado por corrupção, com cruzes comparando o ex-presidente a Jesus Cristo.
Alunos que querem ter aula não foram respeitados. Por exemplo, uma votação feita no Departamento de Medicina, em que a maioria dos alunos decidiu por ter aulas, não foi "reconhecida". Alunos de outros cursos afirmaram que a decisão dos estudantes de Medicina "não era legítima".