De dentro da mochila, o tímido Bernardo Leite e Silva, 13 anos, retira um bloquinho já quase todo tomado por palavras. No papel, o estudante da 7.ª série de uma escola pública de Maringá, Noroeste do Paraná, imprime com a própria letra a arte de poetizar. Vocação descoberta há um ano, durante as aulas de poesia dadas pelas universitárias de Pedagogia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), que participam do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid).
O programa leva universitários de licenciatura para dentro das salas de aula do ensino fundamental e médio para aplicarem ações pedagógicas, que estimulam a relação de trabalho colaborativo entre a universidade e as escolas públicas estaduais. Como resultado, explica a coordenadora do Pibid Pedagogia da UEM, Maria Angélica Olivo Francisco Lucas, existe a troca de conhecimento e descobertas entre eles.
Além de cruzar teoria e prática das atividades docentes, fortalecendo a iniciação profissional, existe, segundo ela, o estímulo para novas práticas de aprendizado aos alunos, assim como aconteceu com Bernardo, que descobriu a poesia sendo estimulado a ouvir e a escrever durante as oficinas de português. As ações do programa, conta a coordenadora, englobam desde o conhecimento de atuação na rede pública de ensino até o prazer em ser professor e ver reconhecido o trabalho na evolução dos alunos.
Segurança
"Os futuros professores vão para o mercado de trabalho com mais segurança, sabendo das dificuldades. Estando inseridos no contexto da escola pública, encaram o trabalho com mais seriedade. Em contrapartida, temos um nível maior de letramento dos alunos das escolas parceiras, estimulando-os a aprender a ler e a escrever e aperfeiçoando essas habilidades", diz.
O coordenador do programa no Colégio de Aplicação Pedagógica da UEM (CAP), Chrystian Ronaldo Silva, pontua que a dinâmica do colégio mudou depois da implantação do programa há quatro anos. "Os universitários levam produção científica aos alunos, complementam e estimulam de maneira até lúdica aquilo que o professor aplica no dia a dia."
"A gente aprendeu sobre poesia nas aulas, mas nunca saímos para sentar embaixo de uma árvore e ler os poetas. Nunca havíamos criado as nossas próprias [poesias]. Fizemos isso e fiquei curioso para escrever também", completa o poeta Bernardo, do alto de seus 13 anos.
Pibid
O Pibid foi criado em 2007 pelo Ministério da Educação, em parceria com a Secretaria de Educação Superior da Coordenação e Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (Capes), com o objetivo de melhorar a formação de professores para a educação básica. A ideia é elevar a qualidade das ações acadêmicas voltadas à formação inicial de professores na rede estadual de ensino.
Para tanto, estudantes de licenciatura plena das instituições federais e estaduais de educação superior foram para as salas de aula do ensino público para vivenciar programas didático-pedagógicas sob orientação de um docente e de um professor da escola.
De acordo com o Ministério da Educação, a principal proposta está no "incentivo à carreira do magistério nas áreas da educação básica com maior carência de professores com formação específica: pedagogia, ciência e matemática de quinta a oitava séries do ensino fundamental, além de física, química, biologia e matemática para o ensino médio".
No Paraná, as sete instituições públicas de Ensino Superior fazem parte do programa, atendendo cerca de 200 escolas da rede municipal e estadual conforme a Secretaria de Educação.
Os coordenadores de áreas do conhecimento recebem bolsas mensais de R$ 1,2 mil. Os alunos dos cursos de licenciatura têm direito a bolsa de R$ 350 e os supervisores - professores das disciplinas nas escolas onde os estudantes universitários vão estagiar -, recebem bolsa de R$ 600 por mês.