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| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

De olho em outras carreiras

Os alunos da escola de Corteo têm em comum os planos para o futuro. Ou, pelo menos, já sabem o que não vão querer ser quando crescerem: seguir a carreira artística. Nikita ganhou um livro sobre as profissões de Engenharia e Arquitetura e acabou se interessando. "Nunca conheci nenhum engenheiro ou arquiteto, mas li histórias sobre eles e gostei. Quero trabalhar com isso", conta.

Já Esteban pretende se tornar cientista. Nos dois anos que está estudando na escola-contêiner (foto) já se aventurou em muitas experiências, como as que fez para avaliar a velocidade com que o gelo derrete e para descobrir o que flutua na água.

Os holofotes também não parecem interessar muito as gêmeas Sabrina e Zarina Novruzova, 7 anos, que já falam três idiomas. O pai delas, o acrobata Uzeyer Novruzov, conta que não gostaria que as filhas seguissem a carreira artística, mas sabe que elas é que vão decidir. "A vida de artista é dura; eu não recomendo. Mas por enquanto elas são felizes no circo, com seus brinquedos e bonecas. Nós tentamos manter a rotina sempre igual. Mesmo em cidades e hotéis diferentes procuramos fazer com que elas tenham uma normalidade todos os dias", conta.

Currículo

O projeto pedagógico segue o currículo das instituições de ensino canadenses e as escolas itinerantes têm o certificado das instituições privadas de Quebec. Além de contemplar todas as disciplinas previstas para o ensino fundamental, os estudantes têm aulas externas, que envolvem atividades culturais, artísticas e esportivas. Para quem já terminou o ensino fundamental e está há mais de um ano no circo, há o Programa de Assistência Educacional, para a continuidade dos estudos.

À primeira vista, estudar em uma escola cuja sala de aula funciona dentro de um contêiner, sem parquinho, quadras esportivas ou janelas para o jardim, parece uma experiência bastante limitada. Mas a verdade é que nem mesmo o espaço físico reduzido impede que os filhos de artistas do Cirque du Solei tenham uma vida escolar riquíssima, com experiências capazes de causar inveja até em estudantes dos mais bem conceituados colégios do mundo.

Assim como ocorre no fim das aulas de uma escola regular, os pais dos alunos que estudam no Cirque aguardam os filhos do lado de fora. Diferentemente de circos menores, em que artistas e funcionários dormem em estruturas montadas próximas ao local de trabalho, no Cirque, todos os empregados passam o período de descanso em um hotel. Na escola, os horários de chegada e saída são cumpridos com rigor, assim como todas as aulas são cronometradas.

Na hora das atividades físicas, no entanto, a rotina não é lei. Além de aprenderem com os pais artistas a trabalhar o corpo no picadeiro, as crianças praticam esportes como hiking, tênis e artes marciais.

Todos os grandes shows da companhia mantêm estruturas escolares para os filhos de seus funcionários, artistas ou não. O ensino é gratuito e inclui todas as disciplinas, como Geografia, Matemática e Ciências. Além de Corteo, com apresentações em Curitiba até o próximo dia 15, os espetáculos Amaluna, Kooza, Ovo, Totem e Varekai oferecem aulas em inglês e francês equivalentes à programação do ensino fundamental.

Rotina

A rotina das quatro crianças em idade escolar da trupe de Corteo é organizada paralelamente aos espetáculos: são cinco horas de estudo por dia, de quarta-feira a domingo. Filho do violinista Stephane Allard, o garoto Esteban, 9 anos, adora viajar e diz que estar ali é como estudar em qualquer outra escola do mundo: eles têm as aulas e, se não trabalham bem em sala, acabam tendo mais lição de casa.

O colega Nikita, 8 anos, porém, diz que às vezes gostaria de estar em uma escola comum. Filho do acrobata Volodymyr Klavdich, ele acompanha os pais na estrada há um ano e um mês. "Sinto falta de estar em um mesmo lugar, pois se você fica mudando, sente saudade dos amigos. Aqui eu só brinco com o Esteban e fiz alguns amigos no futebol", diz. Os dois garotos já treinaram nas escolinhas de futebol do Barcelona, na Espanha, e do Atlético Mineiro, quando passaram por Belo Horizonte (MG).

Professora vai com a trupe

A professora canadense Caroline Roy diz que sempre ficou, no máximo, alguns meses em um mesmo lugar. Passou mais de um ano na equipe de recreação de um cruzeiro, participou de trabalho voluntário na África e estava atuando como professora de Inglês na Ásia quando ficou sabendo que o Cirque du Soleil tinha uma escola itinerante. "Fui assistir à apresentação na cidade em que morava e conheci uma pessoa que trabalhava no Cirque. Ela me indicou para a escola, fiz minha inscrição no site e hoje estou aqui", diz.

Todos os dias, Caroline chega à escola uma hora antes dos estudantes para preparar a aula. Para que os alunos tenham uma rotina, sempre começam com aulas de Inglês ou Francês e Matemática, para depois seguir para outros conteúdos. Por ser uma turma pequena, com quatro alunos – dois meninos e duas meninas –, os mais velhos ajudam os mais novos a ler e também brincam com jogos educativos.

Caroline estimula os alunos a não ficarem restritos às quatro paredes de aço da sala de aula e, juntos, aproveitam a passagem por cada cidade explorando o ambiente e a cultura locais, seja fazendo trilhas, visitando museus ou fazendo artesanato. Depois de tantas atividades com os alunos, Caroline não pensa em sossegar ao fim do dia. Há quatro anos na companhia, ela diz que fica o mínimo possível dentro dos hotéis. "Eu adoro ver novos lugares, me envolver com atividades diferentes e encontrar pessoas."

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