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Cerca de 10% dos brasileiros são analfabetos: reversão do quadro depende de convencer as pessoas de que elas ainda podem aprender | Valterci Santos/Gazeta do Povo
Cerca de 10% dos brasileiros são analfabetos: reversão do quadro depende de convencer as pessoas de que elas ainda podem aprender (Foto: Valterci Santos/Gazeta do Povo)
Confira a meta do Paraná para a alfabetização |

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Confira a meta do Paraná para a alfabetização

Colocar em sala de aula 2,1 milhões de jovens e adultos que não dominam a leitura e a escrita é o desafio deste ano de estados e municípios brasileiros na luta contra o analfabetismo. A meta do Programa Brasil Alfabetizado, do Ministério da Educação (MEC), compreende todas as unidades da federação, especialmente os 1.928 municípios situados nos nove estados da Região Nordeste, mais o Pará, Tocantins e Acre, onde estão os mais altos índices de analfabetismo do país.

No Paraná, a estimativa é alfabetizar 100 mil pessoas em 2009. A intenção é superar o analfabetismo no estado em 2010, meta traçada há cinco anos pelo governo estadual. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2007, a taxa de analfabetismo no estado é de 6,5%, contra 10% em todo o país. Para a superação paranaense é preciso obter a marca de 4% na taxa de analfabetismo, índice utilizado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) para a declaração de um território livre de analfabetismo.

No Brasil, só o Distrito Federal apresenta taxa inferior à referência estalecidada pela Unesco – 3,7%, de acordo com a última Pnad. É considerado analfabeta a pessoa com 15 anos ou mais que não sabe ler ou escrever.

De acordo com o chefe do Departamento da Diversidade da Secretaria Estadual da Educação, Wagner Roberto do Amaral, o Paraná pode atingir a meta se houver comprometimento de toda a sociedade. A mobilização é contínua e todo jovem, adulto ou idoso que não saiba ler ou escrever pode procurar a escola pública estadual mais próxima de sua casa e iniciar a alfabetização em qualquer época do ano. "O mais importante é que a pessoa se sensibilize e se convença de que é capaz de aprender", diz.

Dados da Pnad 2007 mostram que o analfabetismo aumenta de acordo com a faixa etária. Em jovens de 15 a 17 anos é de 1,7%,e na faixa de 45 a 54 anos alcança 11,7%. Para Amaral, essa é a parcela da população que não frequentou a escola por falta de condições de acesso. "O desafio maior é vencer o medo e a vergonha da população de adultos e idosos", diz.

Essa insegurança foi superada pelo vigia noturno Nereu Juvenal da Silva, 57 anos, há dois anos e meio. Nereu foi alfabetizado num programa que ocorre desde 2002 – parceria do Sindicato das Escolas Particulares de Curitiba (Sinepe) com a Secretaria de Educação do Paraná e duas construtoras de Curitiba. Batizado de "Canteiro da Educação", o programa pretende alfabetizar os trabalhadores da construção civil em uma sala de aula, que fica no próprio local de trabalho.

O vigia, que trabalhava numa empresa terceirizada pela construtora, ficou alguns meses assistindo à aula pela janela, na parte de fora da sala de aula até conseguir sua matrícula na classe de alfabetização. Desde então, Silva não parou de estudar, cursa o ensino médio do Centro de Educação de Jovens e Adultos Paulo Freire e planeja cursar Direito. Ele também dá palestras sobre a importância da educação em colégios particulares de Curitiba. "Me sinto num outro mundo agora. Era horrível receber o holerite e não saber o que estavam me pagando. Me sinto como criança que não teve condições de andar. Agora tomei gosto pela coisa e não paro de ler. Até bula de remédio eu leio", diz.

Alfabetizadores

Os professores do projeto do Sinepe são todos voluntários e não estão contabilizados na rede de alfabetizadores formada, só dentro do Programa Paraná Alfabetizado, por cerca de 9,5 mil pessoas. Os alfabetizadores, na opinião de Amaral, assumem um papel que vai além de ensinar: "O alfabetizador mobiliza, insiste, vai até a casa da pessoa até que se crie um vínculo afetivo com a pessoa que está sendo alfabetizada", diz.

Só a dedicação pode definir o dia a dia da alfabetizadora Eda Maria Alves, 52 anos. Professora aposentada há dez anos, há cinco anos ela resolveu retornar as salas de aula para ensinar jovens e adultos a ler e escrever. Leciona de segunda a segunda para turmas de uma escola estadual na Cidade Industrial e outras salas formadas por ela dentro de uma igreja numa favela também localizada na CIC. "É muito gratificante. Eu amo fazer isso", diz. Na favela, a entrada da alfabetizadora e a sequência das aulas depende de sua persistência. "Para entrar lá não tem muito horário, é de acordo com o clima que está lá dentro. Às vezes preciso ficar esperando no trilho do trem até as coisas melhorarem para eu poder dar aula", diz.

Serviço

Informações sobre o Programa Paraná Alfabetizado podem ser obtidas pelo fone 0800-416200.

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