Numa tarde recente, Adonis Billizon-Johnson estava sentado num mar de cadeiras azuis vazias, esperando pelo início de uma reunião aberta na American University (AU).
“Quero garantir minha cadeira”, disse o estudante de 19 anos, natural de Nova Orleans. “Acho que este lugar vai lotar mais tarde.”
Ele tinha razão.
Em pouco tempo o espaço do Mary Graydon Center, no campus da AU, estava lotado, com pessoas ao fundo acompanhando o evento em pé. No início da semana um incidente preocupante de racismo tinha abalado o campus, e as pessoas tinham se reunido para discutir como a escola e seus alunos podiam reagir.
“Neste exato momento há gente esperando para ver o que vamos fazer. Todos os olhos estão voltados a nós”, disse aos presentes a nova diretora do grêmio estudantil da universidade, Taylor Dumpson. “Há crianças, pais e estudantes de todo o país de olho em nós para ver como vamos enfrentar esses problemas no nosso campus. Temos que usar este microcosmo que é a AU para dar um exemplo a ser seguido por outros.”
Na segunda-feira, poucos dias antes, bananas penduradas de barbantes “na forma de laços de enforcamento” tinham sido encontradas em três pontos do campus em Washington. As bananas estavam “marcadas com as letras AKA”, as iniciais da Alpha Kappa Alpha, uma irmandade feminina constituída principalmente de estudantes negras.
“Lamento o que aconteceu, peço desculpas a todos os ofendidos e afirmo enfaticamente que este incidente não reflete o que a American University realmente é”, dizia um memorando sobre o assunto divulgado pelo reitor da universidade, Neil Kerwin.
A descoberta foi feita no momento em que a universidade estava encerrando o ano letivo e que os estudantes da AU, instituição particular com cerca de 13 mil alunos, tentavam concentrar-se nos exames finais. E ocorreu quando Dumpson – membro da AKA e primeira mulher negra a ser eleita presidente do grêmio estudantil – estava iniciando seu mandato.
“Convoquei esta reunião aberta porque, como a primeira presidente mulher e afro-americana do grêmio, estou chocada; como estudante, em segundo lugar, estou revoltada; como membro da Alpha Kappa Alpha Sorority Incorporated, estou enojada; e, como alvo, estou atônita diante do ato vil que um membro de nossa comunidade decidiu praticar durante um momento histórico para nosso campus”, disse Dumpson na quinta-feira.
Ela descreveu o que aconteceu como “um momento de virada que levou todos a dizer oficialmente que já chega’”.
Incidentes racistas em alta
Embora incidentes racistas não sejam um problema recente em universidades, disse Kevin Kruger, da Naspa, Associação Nacional de Administradores de Assuntos Estudantis no Ensino Superior, parecem ter aumentado de número nos últimos tempos.
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Cartazes racistas foram afixados em muitos campi neste ano letivo, além de outros incidentes ofensivos. Um estudante usou máscara de gorila para ofender manifestantes do grupo Black Lives Matter em uma universidade do sul do país. Esta semana, no St. Olaf’s College, no Minnesota, uma carta racista foi fixada ao carro de um estudante. Na Universidade de Maryland, um laço de enforcamento foi encontrado na sede de uma irmandade feminina.
Algumas pessoas especulam que o discurso político nacional e oradores controversos que vão para campi universitários teriam dado coragem às pessoas de fazer declarações ofensivas, disse Kruger. As pessoas sentiriam que foram autorizadas a dizer coisas que ofendem outras.
“Acho que foi uma semana cansativa”, comentou a estudante afro-americana de quarto ano Asha Smith, de Indianapolis. “Acho que é especialmente difícil porque sinto que roubaram dos estudantes negros no campus a possibilidade de passar seu tempo concentrando-se nos exames finais.”
A reunião aberta da quinta-feira passada não foi repleta de manifestações de raiva. Os estudantes fizeram perguntas, expressaram preocupações e deram sugestões sobre o que pode ser feito diferentemente na universidade. Os presentes foram enchendo a lousa de ideias.
Alguns estudantes sugeriram mais patrulhas de segurança noturnas a pé; outros aventaram que tal política poderia afetar de modo desproporcional os estudantes de cor.
Alguns dos presentes falaram da diversidade étnica e racial entre os membros do corpo docente ou sobre o treinamento recebido pelos docentes e os funcionários. A AU está prestes a ganhar uma nova reitora, observou uma pessoa. Será que essa discussão toda vai se repetir quando ela chegar?
“Foi uma hora e meia de reunião e acho que o tempo foi muito bem aproveitado para obter sugestões e anotá-las”, disse o secretário do grêmio estudantil, Kris Schneider. “Se alguém discordou das propostas, expressou sua discordância, e vamos levar isso em consideração também.”
Investigação
Esta semana foi anunciada uma recompensa de US$1.000 por pistas dos responsáveis pelo incidente racista. A polícia universitária divulgou vídeos mostrando uma pessoa caminhando pelo campus vazio. O FBI está colaborando na investigação, que ainda estava em andamento.
Kerwin disse na quinta que o incidente criou “um período de grande dificuldade e tensão” no campus.
“Vamos garantir que o resto do campus e a comunidade inteira – na realidade, a nação e o mundo – entendam que o que aconteceu aqui não tem nada a ver com os valores fundamentais desta universidade”, falou o reitor a jornalistas.
Mesmo assim a situação se agravou. Na sexta-feira a universidade informou que um supremacista branco incentivou seus seguidores online a assediar Taylor Dumpson digitalmente.
“No início da semana as ameaças foram feitas no campus. Elas continuam online. A American University não vai permitir que nenhum membro de nossa comunidade seja intimidado”, falou em comunicado à imprensa a vice-presidente de comunicações da AU, Teresa Flannery. “Estamos cooperando com Taylor para garantir sua segurança e apoiá-la ao longo deste processo.”
Falyn Satterfield, caloura vinda de Indianapolis, se disse muito confiante e satisfeita com o tratamento dado pela universidade à questão. Ela espera que a escola adote mudanças, mas que não acha que o incidente seja culpa da universidade.
Indagada sobre o clima na universidade agora, ela respondeu: “Parece tudo tão vazio. Eu, como estudante negra, ando por aí, vejo pessoas brancas e me pergunto o que estarão pensando de mim. Fico me perguntando qual é a opinião delas a meu respeito e se elas me apoiam.”
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