Ensinar e empreender são palavras complementares. E se antes a universidade andava distante do mercado de trabalho, hoje os dois se conectam. Não à toa que está mais fácil para um estudante ter sua própria empresa: incubadoras universitárias são uma tendência e prometem oferecer todo o suporte necessário para quem deseja começar um empreendimento, desde a infraestrutura até apoio gerencial e financeiro.
Hoje, o Brasil conta com 369 incubadoras em operação com mais de 2 mil empresas incubadas. De acordo com a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), em 2016 mais de cem delas eram universitárias e contavam com mais de 500 empresas graduadas, ou seja, que já passaram pelo processo de incubação e estão em atuação no mercado.
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Esse número deve aumentar ainda mais com o novo Marco Legal da Ciência e Tecnologia. Promulgado em fevereiro deste ano, ele promete incentivos para a criação de parcerias entre instituições de ensino e o setor privado.
Além disso, um levantamento da UBI Global (instituição internacional que promove pesquisas sobre incubadoras de empresas) revelou que, das vinte melhores incubadoras universitárias do mundo, quatro são brasileiras.
Nas universidades, as áreas de atuação das incubadoras normalmente têm foco em tecnologia, sendo que os projetos geralmente são frutos de pesquisas acadêmicas. O objetivo é promover o crescimento de empresas tecnologicamente inovadoras, dinâmicas e competitivas, além de proporcionar o desenvolvimento da universidade e da economia local.
Uma das explicações para o boom de incubadoras universitárias são as vantagens que o ambiente acadêmico proporciona.
"Existe todo um ecossistema entre professores e alunos. As próprias disciplinas contribuem na hora de pensar a empresa e aperfeiçoar o produto que ela vai oferecer", explica Daniel Leipnitz, diretor na Anprotec.
Para ele, a ponte com a academia é um diferencial para o sucesso do empreendimento, afinal ela é capaz de integrar vários aspectos da universidade e os talentos que ela pode oferecer. Além disso, o acesso aos laboratórios e equipamentos que exigiriam investimento elevado ajuda a reduzir custos e riscos do processo de inovação.
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Mas as vantagens não se restringem aos estudantes. Ele explica que as incubadoras são também um ganho para a universidade: além de gerar conhecimento, ela se projeta, juntamente com as empresas e seus alunos:
"A universidade se abre, se moderniza e se conecta ao mercado. Há um compartilhamento de ideias e conhecimentos.”
Da universidade para o mundo
Foi pensando em alternativas que pudessem otimizar projetos na área de engenharia que Tiago Silva, ex-aluno da Universidade Federal do Paraná, criou a Campestrini, empresa especializada em gestão de projetos em construção civil. Com a necessidade de expandir os serviços, ele voltou à sua universidade de origem em busca de ferramentas que o habilitassem para o projeto.
Com o incentivo de seus professores, Tiago resolveu incubar a empresa na Agência de Inovação UFPR que, segundo ele, foi essencial para alavancar o empreendimento. “Entramos na incubadora para entender como executar uma obra e, quando começamos a nos aprofundar, percebemos que tinha muita coisa que precisávamos evoluir”, conta.
O processo de incubação transformou a empresa. Após diversas pesquisas e auxílio dos professores, ele conta que hoje a Campestrini é capaz de trabalhar com tecnologia de ponta.
“Saímos de uma empresa pouco conhecida de projetos em construção civil para uma das mais conhecidas no país na aplicação da tecnologia de Modelagem da Informação da Construção (BIM em inglês) ”, afirma.
Já Wilsa Atella, sócia da empresa de monitoramento ambiental Ambidados, conta que a ideia de incubar a empresa veio de seus sócios, que eram pesquisadores na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Ela explica que essa foi a oportunidade que eles encontraram para sair do amadorismo. "Fazíamos serviços de análise de dados oceanográficos. Quando incubamos, entramos com a ideia de continuar fazendo a mesma coisa, mas depois de seis meses vislumbrávamos a possibilidade de inovar e desenvolver instrumentos próprios e nacionais", diz.
Além disso, ela ressalta que a incubadora foi de suma importância no processo de profissionalização da empresa.
"Foi uma grande oportunidade de amadurecimento profissional e pessoal. Ali aprendemos a contratar e demitir, foi ali que assinamos nosso primeiro contrato. O suporte dado pelos funcionários da incubadora nunca nos deu as soluções de bandeja, nos ensinaram a pescar”, reflete.
Hoje, a empresa cresce em ritmo acelerado e já negocia contrato com outros países. Para ela, o empenho de todos envolvidos no processo de incubação, além do incentivo que existe no ambiente da universidade, foi indispensável. “O fato de estarmos em um ambiente livre para o desenvolvimento de pesquisas foi um grande diferencial”, conclui.
Como funciona
O processo para ter uma empresa incubada em uma universidade geralmente começa com um processo seletivo que analisa o plano de negócios e se a proposta da empresa é realmente inovadora. Algumas universidades analisam, ainda, se o projeto engloba alguma área de ensino presente na instituição e outros parâmetros mais específicos que normalmente estão explicitados em um edital. Depois disso, outros critérios também são observados, dentre eles viabilidade técnica, econômica e mercadológica do empreendimento.
Assim que selecionada para a incubação, a empresa conta com apoio tecnológico, administrativo e capacitação gerencial de seus membros. Durante esse processo, as incubadoras realizam acompanhamentos periódicos para avaliar o nível de desenvolvimento das empresas.
Quem pode incubar?
Normalmente, para ter uma empresa incubada em uma universidade, é necessário que pelo menos um dos empreendedores seja aluno ou ex-aluno da instituição de ensino, mas isso não é regra.
Tempo de incubação
O tempo de incubação dura de dois a três anos. Esse prazo pode variar de acordo com as características do empreendimento. O importante é que, ao se graduar, ele esteja pronto para o mercado.