Debates, aulas públicas e exibições de filmes são comuns nas universidades públicas. No dia 10 de abril, por exemplo, a Universidade de Brasília (UnB) recebeu a presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffman, o líder do partido na Câmara, Paulo Pimenta, e a presidente do PT em Brasília, Erika Kokay, para uma aula pública contra a reforma da previdência.
No dia 5, o deputado federal Marcelo Freixo, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), esteve na porta da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para apresentar estratégias para combater o governo do atual presidente.
Mas quando são alunos e professores conservadores que tentam realizar eventos, nem sempre conseguem. Em novembro de 2017, a exibição do documentário O Jardim das Aflições, sobre o filósofo Olavo de Carvalho, foi barrada pela reitoria da Universidade Federal da Bahia (UFBA) – os alunos haviam solicitado uma sala e, ao serem informados de que não seriam autorizados a usá-la, passaram a projetar o filme do lado de fora da Biblioteca Reitor Macedo Costa, em Salvador. Um mês antes, em Recife, a tentativa de exibir o mesmo filme acabou em pancadaria.
Aconteceu de novo com o documentário 1964: O Brasil entre Armas e Livros. Depois de a rede Cinemark se recusar a apresentar o filme, várias universidades barraram iniciativas de alunos e professores de exibir a produção, que foi disponibilizada gratuitamente e, no Youtube, está perto de alcançar as 5 milhões de visualizações. Foram pelo menos seis casos de censura – e outras duas vezes em que o filme foi exibido, mas a plateia foi ameaçada.
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS): Um grupo de alunos fez a reserva de uma sala para exibir o filme na sexta-feira, dia 12. Posteriormente, segundo os organizadores do evento, a autorização foi negada – a professora responsável pelas reservas teria informado o cancelamento alegando que “não vale a pena o desgaste de apresentar um vídeo que não acrescenta nada”. Procurada, a instituição informou: “a universidade não teve envolvimento com a organização e nem com o cancelamento da exibição do documentário. O setor responsável pelas dependências da Instituição não registrou o agendamento dos nossos espaços internos para a realização do evento”. Em agosto de 2017, a instituição havia autorizado a exibição do filme O Jovem Karl Marx.
Universidade Federal da Bahia (UFBA): A Faculdade de Economia iria realizar uma sessão do documentário, mas a reserva do auditório foi suspensa e a direção da faculdade convocou uma reunião extraordinária para debater o que chamou de “problema pontual”. Procurada, a universidade não se manifestou.
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD): A reitoria da instituição revogou a autorização para que o filme fosse exibido no dia 7, às 13h. O argumento alegado foi “o poder de cautela da Administração Pública e o risco evidente à integridade física da comunidade acadêmica e do patrimônio público da UFGD”. A assessoria de imprensa da instituição informou: “O filme não foi exibido por uma recomendação da Defensoria Pública da União”. Em nota enviada para a reitoria da universidade, o órgão alegou: “Com efeito, cabe à Defensoria Pública da União, nos termos do art. 134 da Constituição da República, ‘como expressão e instrumento do regime democrático’, a essencial função de realizar ‘a promoção dos direitos humanos’, não podendo permanecer inerte diante do evidente risco à incolumidade pública e do meio acadêmico evidenciada no presente caso”.
Universidade Federal do Maranhão (UFMA): No dia 9 de abril, a Secretaria dos Colegiados Superiores da instituição divulgou um comunicado suspendendo a exibição, prevista para acontecer no dia 12, das 16h às 19h30, “consoante”, segundo o texto, “solicitação dos representantes regularmente constituídos de Centros e Diretórios Acadêmicos, com o intuito de salvaguardar a segurança do corpo discente, docente e técnico-administrativo da instituição”. Os organizadores sequer foram informados da decisão: souberam porque um militante comemorou o cancelamento pelas redes sociais.
Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes): Em vez do filme 1964, no mesmo dia, horário e local, a universidade autorizou a exibição de outro documentário, Que Bom Te Ver Viva, dirigido por Lúcia Murat e que aborda histórias de mulheres que sofreram tortura durante a ditadura militar. O Centro de Ciências Humanas da universidade é que cancelou a exibição do filme conservador e aceitou a exibição do longa-metragem preferido pela militância.
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE): Na Unidade Acadêmica de Serra Talhada, a tentativa de exibir o filme recebeu, nas redes sociais, reações com o seguinte teor: “Quem for ou ajudar nessa exibição ordinária sobre esse filme, terá consequências”. O documentário acabou não sendo exibido. Procurada, a universidade não se manifestou sobre o assunto.
Universidade Federal da Paraíba (UFPB): Duas entidades liberais, o Instituto Tropeiros e a União dos Estudantes Livres, realizaram a exibição do filme na noite de 2 de abril. Cartazes anunciando a sessão foram rasgados ao longo da semana. Durante toda a sessão, um grupo de 20 estudantes invadiu a sala e, aos gritos, tentou impedir que a plateia acompanhasse o filme. A UFPB não respondeu ao pedido de informações.
Universidade Estadual de Londrina (UEL): Um grupo de militantes tentou impedir a exibição do filme – um vídeo da manifestação mostra uma jovem arrastando uma pá. Ao final da exibição, os expectadores se viram impedidos de deixar a sala da aula onde o documentário foi projetado: os manifestantes fizeram um corredor do lado de fora. A Polícia Militar foi chamada a intervir e garantir a segurança dos estudantes, que conseguiram sair em segurança, ainda que sob xingamentos. Em nota, a UEL informou: “A gestão da universidade atuou previamente no sentido de garantir a realização das atividades e acompanhou durante todo o dia a realização das mesmas garantindo a livre manifestação dos diferentes grupos, prezando pela segurança e integridade física de todos”.
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