Na semana que precedeu o primeiro turno da eleição presidencial o sindicato dos Professores da Universidade Federal de Pelotas (ADUFPEL/UFPEL), Universidade em que leciono, seguindo orientação nacional da ANDES, derrubou definitivamente mais alguns dos poucos pilares que ainda sustentavam a ideia mesma de Universidade enquanto espaço para a diversidade e para a liberdade, a saber: a imparcialidade partidária, o bom senso e a integridade e honestidade na busca pela verdade.
Não apenas isso, o sindicato (que deveria supostamente representar TODOS os professores e seus interesses enquanto professores) expressou seu desprezo por todo o professor que não esteja alinhado com sua diretoria, majoritariamente alinhada com o PSOL e outros partidos de esquerda, o que exemplifica aquilo que foi revelado em uma matéria publicada na Gazeta do Povo (“Esquerda tem 4 vezes mais candidatos professores que partidos de direita”), isto é, que os sindicatos de nossas instituições de ensino e considerável parte de nossos departamentos (especialmente nas Humanidades) foram instrumentalizados (e subsidiados com o dinheiro dos pagadores de impostos) para a defesa de algumas ideias oriundas de partidos políticos alinhados à esquerda do espectro político.
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Na verdade, sabemos que isso ocorre há décadas, mas nesse momento chegamos a um ponto dramático, uma vez que estamos diante de uma tentativa (desde a Universidade) desesperadamente radical de assegurar a absoluta hegemonia. Vou me eximir de entrar em detalhes sobre o ativismo desses sindicatos, uma vez que apenas uma breve visita aos seus sites (inclusive ao da ADUFPEL) e às suas headlines evidenciará o que estou afirmando.
Mas naquela semana presenciamos, aqui na UFPEL, com repulsa moral, a chamada para um ato contra o candidato à presidência pelo PSL, Jair Messias Bolsonaro (Diz a chamada no site da ADUFPEL: “Movimentos sociais, entidades e coletivos unem-se contra Bolsonaro no próximo sábado”). No texto é colocado que a diretoria da ANDES “indicou que as seções sindicais e secretarias regionais construam e participem dos atos”. Não apenas isso, líamos no texto que “a mobilização tem como objetivo mostrar a força e a união contra o discurso de ódio, a misoginia, o fascismo, o racismo e a homofobia, promovidos pelo candidato, e dizer não à política que ameaça o estado democrático de direito”.
Isso foi chocante por várias razões, mas uma delas foi a ironia presente nesse discurso: Ora, uma rápida visita ao site do referido sindicato mostrará ao leitor que sua segunda vice-presidente é a mesma “professora” envolvida naquele escândalo estarrecedor também relatado na Gazeta do Povo (“Professora feminista ameaça alunos “escrotos”: “quero arrebentar fascista a pau”). Ou seja, o mesmo sindicato que saiu em defesa de uma “professora” (de sua diretoria, aliás) que falou em “matar fascistas” (ou seja, todos os que não estão alinhados com sua ideologia) e outras vulgaridades odiosas que incitavam à violência agora quer se posicionar contra um suposto “discurso de ódio”?
Em um artigo na Gazeta do Povo me referi a esse caso (“A decadência das Ciências Humanas”), e o que agora vemos é exatamente mais um exemplo do que descrevi, bem como a total inversão da realidade em defesa de uma pauta autoritária e totalitária. Ela é autoritária e totalitária, sim, pois ignora deliberadamente que uma Universidade com quase 1.500 professores certamente tem, dentre eles, muitos (talvez a maioria) que não se sentem representados pelas posições políticas e morais de seu sindicato. Sua defesa da agenda pró-aborto, seu discurso antiliberal, antimercado, contra parcerias entre a Universidade e instituições privadas, etc., certamente não representa a maioria de seus professores.
Na verdade, embora esses sindicatos sejam irrelevantes em quase todos os aspectos, ou seja, são ambientes de mediocridade que em nada contribuem para a prosperidade da Universidade, eles se tornaram escandalosamente instrumentos subsidiados por uma maioria que não importa no momento de deliberações, como no da chamada acima referida.
Creio que estamos em um momento extremo, em que nossas Universidades e seus sindicatos (em alguma medida ambas as instituições estão integradas) se tornaram instrumentos perigosos ao salus populi. Na verdade, essa chamada é mais um exemplo de como a Universidade e seus sindicatos, ao invés de contribuírem para a prosperidade, estão, ao se alinharem com o esquerdismo e suas pautas, promovendo novamente o atraso e a barbárie.
Nesse caso, estão colocando em risco o estado democrático de direito, assumindo uma posição partidária que não lhes cabe assumir. E, ao fazer isso, cerceiam a liberdade de expressão, de cátedra e todas as demais formas de liberdade. Alguém tem dúvida do que estou falando?
Então façam um experimento (por sua conta e risco): Independentemente de se essas são realmente suas posições, entrem em uma Universidade e, em algum espaço público (especialmente nas Humanidades), declare alguma das posições que seguem: 1. Que é contra o aborto; 2. Que é favorável a uma economia de mercado e ao empreendedorismo; 3. Que defende menos estado, o que inclui Universidades menores (menos caras) e eficientes, preferencialmente pagas pelos que podem pagar; 4. Que é favorável a uma parceria público/privado. E, não poderia faltar, 5. Declare seu voto a Bolsonaro.
Conforme o que já ocorreu com o candidato Bolsonaro mesmo, há uma considerável probabilidade de que vocês sejam agredidos, cuspidos, difamados e, em casos extremos, esfaqueados. Basta vermos as notícias sobre o que tem acontecido com aqueles que declaram publicamente seu voto a Bolsonaro. Há registros de agressões físicas e verbais, “assassinato de reputações”, o que tem feito com que muitos de seus eleitores se calem. Sim, estamos em um contexto em que as pessoas, milhões de pessoas, têm medo de declarar publicamente seu voto.
Mas as coisas não param por aqui.
Após vocês sofrerem as consequências de declararem alguma das posições acima, vocês ainda serão culpabilizados pela agressão sofrida, a exemplo da mulher que, embora seja uma vítima, é considerada culpada por ter sido estuprada. Ou, a exemplo do que ocorreu com o próprio Bolsonaro, que foi, de forma vil, culpabilizado por ter sido esfaqueado. Vocês serão os fascistas, os misóginos, os racistas, os homofóbicos, os nazistas, etc. Mas o ponto é: apenas um sujeito desprezível moralmente diria algo como “ela é culpada pelo estupro porque estava seminua e alcoolizada”, ou que “ele mereceu a facada, pois muitos discordam de suas posições conservadoras”.
Hoje estamos presenciando, com certa “paralisia moral”, o avanço de uma mentalidade totalitária que está cada vez mais agressiva, mais violenta em vários aspectos. E o fomento a essa violência vem, em grande medida, de nossas Universidades.
Pela primeira vez estamos vendo pessoas com medo de expressar publicamente tanto suas posições (especialmente quando são conservadoras e liberais), quanto seu voto a um candidato à presidência da república (especialmente de um candidato liberal e conservador).
Estamos, desde dentro da Universidade, vendo nossa liberdade cada vez mais cerceada, limitada. A história nos oferece exemplos de que isso pode ser o prenúncio de eventos terríveis.
Nesse sentido, de uma minoria que usurpou as Universidades e seus sindicatos, diretórios acadêmicos, departamentos, etc., tem vindo as maiores ameaças à liberdade e à prosperidade. Seu discurso feroz e estupidamente contrário à economia de mercado, bem como seu alinhamento com partidos políticos e ideologias de esquerda têm sido causa de atraso para nossas Universidades. Não surpreende, nesse contexto, que não tenhamos sequer um prêmio Nobel. Não há como não vermos uma correlação aqui. Afinal, as instituições que deveriam fomentar o avanço do conhecimento em suas diversas áreas seguem dedicadas a um proselitismo político vulgar e bárbaro.
Nesse sentido, aquela chamada no site da ADUFPEL, para que todos se posicionassem contra um candidato à presidência que foi brutal e covardemente esfaqueado, causa repulsa ao senso comum moral, seja pela sua parcialidade e engajamento com partidos políticos em particular (todos de esquerda), seja pelo dano que isso causa à liberdade de expressão e acadêmica, uma vez que temos aqui a institucionalização de uma postura que simplesmente está restrita a um pequeno grupo dentro da Universidade, o qual não representa sua totalidade (e tampouco representa o bom senso). Na verdade, esse pequeno grupo cala a maioria (com a falsa mensagem de que eles expressam a posição de todos ou da maioria, bem como de que são eles os possuidores do monopólio moral). Em seu discurso, sim, transparece ódio. Ódio à democracia, à liberdade de expressão, à liberdade acadêmica e a tudo aquilo que assegura um ambiente acadêmico intelectualmente saudável e livre.
E não parece que eles recuarão em sua investida contra a liberdade. Afinal, nessa semana temos, por exemplo, outra convocação para a criação de uma “frente antifascista”, cujo propósito seria o de definir “posição e estratégias de combate ao fascismo no país”. Na mesma página vemos, surpresos, a notícia que exemplificaria esse “fascismo”: uma mensagem anônima contra um professor na qual (vejam a “gravidade” da ameaça) ele é ameaçado da seguinte forma: “a teta vai secar e o governo não irá mais financiar pesquisas inúteis”. Eis que o mesmo sindicato que defendeu uma de suas diretoras que fez exortações ao crime (matar, agredir, etc) condena alguém que sugere simplesmente que pesquisas inúteis não devem ser mais financiadas.
Ora, qualquer cidadão de bom senso não quer ver seus impostos financiando pesquisas inúteis como muitas já divulgadas por alguns veículos da mídia. Demandar que recursos públicos não sejam desperdiçados com pesquisas inúteis não é uma ameaça, mas uma exigência do bom senso e da economia com vistas à prosperidade.
Em suma, cabe aos supostamente representados se levantarem contra seus sindicatos, antes que tenham sua individualidade e liberdade definitiva e irreversivelmente solapadas por esses sindicatos, os quais são (juntamente com considerável parte da comunidade acadêmica) uma ameaça à liberdade, ao progresso acadêmico e à prosperidade econômica.
* Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com estágio doutoral na State University of New York (SUNY). Foi Professor Visitante na Universidade Harvard (2010). Atualmente é professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) na graduação e no Programa de Pós-Graduação em Filosofia, no qual orienta dissertações e teses com foco em ética, filosofia política e filosofia do direito.
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