Toda sexta-feira, a creche Casa da Criança São Francisco Assis, no Alto da XV, em Curitiba, recebe convidados tão ansiosos para a visita quanto os anfitriões. São alunos do 9.º ano da Escola Anjo da Guarda, que passam a tarde entretendo as crianças, com idades entre 3 e 6 anos, com brincadeiras e atividades elaboradas por eles. A iniciativa é da escola e não é obrigatória, mas não faltam voluntários, segundo a coordenadora pedagógica do colégio, Luci Serricchio. "Só vão quatro alunos de cada vez. É uma escala, mas sempre tem quem peça para substituir alguém que não pode comparecer."
Atividades como essa são incentivos de instituições de ensino para promover valores de cidadania, como a solidariedade e o respeito. "É isso o que eles levam para a vida: o aprendizado de que todas as pessoas são diferentes, tiveram oportunidades diferentes, mas têm direitos iguais. Aprender a respeitar as diferenças é um valor que fica tanto nas nossas crianças quanto nos pequenos que passam as tardes com eles", explica a pedagoga.
Essas lições precisam ser incentivadas para além da sala de aula, na opinião da psicóloga especialista em Psicologia da Infância e da Adolescência Vera Regina Miranda. Ela é organizadora e uma das autoras do livro Educação e Aprendizagem e fala disso no capítulo "Valores Essenciais Para a Vida". "É uma tarefa educativa lidar com esse assunto e não é só responsabilidade da família, mas também da escola. Os valores não podem ser ensinados na teoria, precisam ser vividos."
Solidariedade
Vera explica que cada instituição tem um grupo de valores disseminado por meio de disciplinas específicas ou orientações religiosas. Um exemplo são as pastorais dos colégios católicos. No colégio Marista Santa Maria, os alunos do 3.º ano do ensino médio, pais e ex-alunos desenvolvem a Ciranda de Pais, que consiste em visitar, mensalmente aos domingos, famílias que moram em áreas de vulnerabilidade social do município de Pinhais para conhecer mais as suas vidas. "Quando a gente pensa em solidariedade, a gente pensa em ir a algum lugar ensinar alguma coisa, mas solidariedade tem muito mais a ver com acolher e ouvir do que ensinar", conta o coordenador da pastoral, Felipe Ribas Munhoz da Rocha.
Virtudes como a solidariedade e a convivência, ensinadas nas ações dos colégios, podem ser aprendidas também por meio das atividades do dia a dia da escola. "Em um trabalho em grupo, por exemplo, pode-se ensinar a tomar decisões conjuntas, a ouvir as opiniões dos colegas", exemplifica Vera. Mas ela alerta: os valores precisam ser ensinados e replicados também em casa. "De nada adianta uma criança aprender a ser educada se ela não vê isso em seu próprio lar. O ensino deve ser exercitado tanto na escola quanto em casa."
Envolvimento
Virtudes têm relação direta com o aprendizado
"O despertar para a solidariedade é um despertar para o mundo a sua volta", afirma o coordenador da pastoral do Santa Maria, Felipe Munhoz da Rocha. Ele explica que as noções vão sendo replicadas com colegas mais próximos. "Um aluno ajuda o outro na matéria, por exemplo. Isso é um reflexo da solidariedade do dia a dia." A psicóloga Vera Miranda concorda. "Na sala de aula, pode-se incentivar a participação do aluno que sabe a matéria a ajudar o aluno que tem mais dificuldade e que precisa aprender a se sentir seguro para admitir que não entendeu algum ponto da lição. Isso só é alcançado ensinando-se valores como coragem, solidariedade e disciplina", explica, e completa: "Tudo isso precisa ser ensinado desde pequeno. Quanto mais tarde se começa qualquer aprendizado, mais difícil é a aquisição dessa conduta ou desse valor."
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