As férias são fundamentais e descansar é a principal meta desse período. Mas não é tão fácil atingir esse objetivo. Não é raro voltar aos estudos com a sensação de vazio, sem ter repousado o suficiente. Saber descansar é uma arte que é necessário aprender.
"É preciso a alternância inteligente de dois tipos de descanso. O primeiro mais relaxante, com horários afrouxados e sem ter grandes compromissos. O segundo, com a eleição de atividades diferentes das habituais", explica a psicóloga Lélia Cristina Bueno de Melo, da Associação de Educação Personalizada e diretora do Colégio Mananciais, em Curitiba.
A realização pessoal nesse tempo, dizem os especialistas, depende de conhecimento próprio e de um mínimo de planejamento. "Não é bom fazer as coisas só por fazer, sem pensar. É preciso eleger atividades que sejam do interesse da pessoa e nem sempre seguir o gosto dos outros. É necessário pensar e tomar consciência das coisas que se gosta e realizá-las", afirma Evelise Maria Labatut Portilho, coordenadora da especialização em Psicopedagogia da PUCPR.
Tempo para sonhar
As atividades nas férias devem contemplar diferentes dimensões da vida (veja no quadro ao lado). Evelise lembra que os momentos em família e com os amigos são indispensáveis para crescer, já que uma pessoa só se aperfeiçoa e se conhece melhor em contato com outras pessoas. As férias, no entanto, oferecem uma oportunidade importante para fazer um balanço da própria vida com calma e projetar o futuro. "O homem precisa também de momentos para estar sozinho e sonhar. Sonhar acordado, sem medo e às largas. Depois de sonhar assim, é preciso focar e concretizar os passos para chegar a esses objetivos, mas esse primeiro momento é essencial. Os bons projetos sempre começam a partir dos grandes ideais", conclui Lélia.
Com a agenda bem preenchida
Aprender a tocar violão, cozinhar com a família, fazer voluntariado, viajar, visitar amigos e parentes, montar quebra-cabeças e, sobretudo, ler muito. Essas são algumas das atividades realizadas nas férias pela londrinense Beatriz Haddad de Oliveira, 25 anos, aluna do último ano de Engenharia Elétrica da UTFPR. "Acho que aprendi a programar as minhas férias com os meus pais e não me arrependo de ter procurado sempre fazer coisas culturais", conta Beatriz, que também tem no currículo um ano de estágio em Berlim.
Para este fim de ano, ela programa participar da tradicional Corrida de São Silvestre, em São Paulo, e concluir uma travessia de 1,5 quilômetro a nado na barra do Sahy (SP). Além disso, ela quer ler muitos livros. "Quando você descobre o prazer de ler não consegue parar. É só começar", anima a universitária.
Atreva-se a mais!
As férias são também uma boa oportunidade para desfrutar de boa literatura. Ler é um pouco como comer, uma pessoa se transforma naquilo que ingere e se não o faz, morre. Não tem problema abusar de uma gordura "trans" de vez em quando que os nutricionistas não leiam este texto! Mas se a alimentação não for saudável na maior parte das vezes, o corpo humano começa a funcionar precariamente e, com o tempo, adoece. Com a leitura acontece algo análogo: quem recorre sempre a textos de pouca qualidade tem o seu espírito crítico comprometido, além de perder vocabulário e a capacidade de reflexão.
Os livros "clássicos", nesse sentido, possuem todas as características de uma "boa refeição". São bem elaborados, deliciosos, alimentam, dão energias para enfrentar o que vem depois. Os "enlatados" literários podem ser práticos e divertir de vez em quando, mas chega um momento em que o cérebro pede mais.
Mas o que é uma obra "clássica"? Quando se fala de livro "clássico" esse termo não significa necessariamente uma obra encaixada no período histórico homônimo ou um conjunto de idéias que tem de ser "imitado". Um livro "clássico" pode ter vários atributos, segundo especialistas, mas o principal é o de interferir na sensibilidade e inteligência de pessoas de qualquer momento histórico.
"O autor de carne e osso se vai, mas a obra continua reverberando, com força sempre renovada, porque ainda toca os leitores, ainda tece a sua rede de referências, pensamentos e sensibilidade", descreve Cezar Tridapalli, mestre em Estudos Literários, coordenador de Midiaeducação do Colégio Medianeira e autor do romance Pequena biografia de desejos. "É o mesmo raciocínio que se aplica quando usamos expressões como "clássicos do rock". São bandas que já sumiram fisicamente, mas ainda têm legiões de fãs, pois suas canções ainda falam à sensibilidade de pessoas o suficiente para "canonizar" uma música, um álbum, uma banda", continua.
Para quem não se contenta com menos e quer adquirir o hábito de recorrer à melhor literatura, Tripadalli dá alguns conselhos. Primeiro, insistência. Quem não tem o hábito de ler pensa que tudo isso é "conversa mole que parte de alguma conspiração de uma sociedade secreta cujo objetivo é chatear as pessoas com livros", brinca o professor. "Em um universo de livros que tende ao infinito, é impossível que nenhuma obra agrade. Pode acontecer de o leitor não gostar da primeira, da segunda, da terceira, mas quando encontrar um livro que o fisgue, aí vai começar a entender por que é que tanta gente fica nesse blábláblá da leitura como algo fundamental na vida".
Outra sugestão é manter a modéstia. "Se um autor parecer incompreensível, antes de xingá-lo, vamos procurar entendê-lo. Se é considerado um clássico, algum motivo pode haver. Assim, num exercício de humildade, quem sabe não somos nós, leitores, que ainda não conseguimos a tal frequência literária que dará condições de ler aquela obra? Ler mais tarde, passados alguns anos, pode ser boa ideia, para tirar a prova. Se o leitor entender enfim qual é a do autor e da obra, aí, sim, pode ficar à vontade para amar, odiar ou mesmo ser indiferente", conclui.
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