Estaduais apostam em novos planos para melhorar desempenho
Para a professora Martha Marcondes, pró-reitora de Planejamento da UEL, um ponto no qual a universidade precisa melhorar é a ampliação do uso de língua inglesa nas publicações. Segundo ela, a maior parte das produções da UEL é feita em português ou espanhol, mas as publicações acadêmicas mais reconhecidas e influentes no mundo são escritas em inglês. Para suprir a necessidade, o laboratório de língua inglesa da instituição tem ofertado cursos de idiomas específicos para pesquisadores. Além disso, a universidade deve implantar em breve um sistema para o acompanhamento da carreira dos alunos egressos da instituição. "O sistema deve possibilitar maior visibilidade no critério da empregabilidade e melhor contato com os empregadores", diz Martha. A UEM aposta que a recente elevação dos conceitos de seus cursos de pós-graduação, feita pela Capes no início deste ano, deve refletir positivamente na reputação acadêmica da instituição. A UEPG, 138.ª no ranking, foi procurada pela reportagem, mas informou que não poderia atender ao pedido de entrevista dentro do prazo.
PUCPR quer artigos em revistas renomadas
Única paranaense a crescer no ranking latino-americano da QS, a PUCPR subiu nove degraus, indo da 101.ª para a 92.ª posição, graças à melhoria da titulação do corpo docente e ao impacto de suas pesquisas na web. No critério "professores com PhD", a instituição foi de 89.7 pontos para 96.4, o que garantiu o 29.º lugar nesse critério. Quanto às publicações de impacto na internet, a PUCPR saiu de 81.4 e chegou a 89 pontos.
O reitor Waldemiro Gremski atribui o bom desempenho aos esforços pela internacionalização da universidade, o que inclui o foco em publicações consideradas de "alto impacto". Há cerca de três anos a instituição estabeleceu um sistema de premiação em dinheiro aos professores que publicam em revistas de nível A1, segundo avaliação da Capes, e a gratificação pode ser maior ainda quando envolve publicações internacionais de grande alcance, como as revistas científicas Nature ou Science.
Assim, a universidade valoriza mais o conceito da revista a que são destinados os artigos do que a quantidade de trabalhos publicados, explica o reitor, o que acaba por tornar as produções mais influentes. A estratégia tem surtido efeito. No quesito citações por publicação, a PUCPR fica em 65.º lugar e supera a UFPR, na 104.ª posição. "A UFPR publica o triplo do que publicamos, mas nós temos uma política de apoiar o pesquisador para que publique nas melhores do mundo", afirma Gremski.
Privilegiado e reconhecido
Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Professor da PUCPR desde 1997, Marcelo Távora Mira (foto), doutor em Genética, teve três artigos aceitos pelas revistas internacionais Nature e Nature Genetics e se considera um privilegiado. "É muito difícil para um pesquisador de universidade brasileira publicar nessas revistas. Para a carreira, faz uma diferença enorme de reconhecimento", diz. Ele elogia o sistema de premiação por publicações de alto impacto da PUCPR e diz que funciona bem para a atração e retenção de talentos. "Faz com que queiramos ficar aqui."
O último ranking das melhores universidades da América Latina, divulgado em maio, deixou a comunidade acadêmica do Paraná em alerta. Das cinco instituições do estado citadas entres as 150 melhores no levantamento da consultoria britânica Quacquarelli Symonds (QS), somente a PUCPR subiu de posição. As outras universidades, todas públicas, obtiveram colocações piores do que as registradas em 2013.
Embora admitam a necessidade de melhorias, as instituições destacam que suas pontuações subiram, mesmo com a queda no ranking, o que revela um cenário menos alarmante do apontado pela simples observação da lista de posições. Não há motivos, no entanto, para ficar livre de preocupações. O crescimento lento identificado pelo índice sinaliza que as universidades paranaenses são menos competitivas e estão mais distantes da excelência quando comparadas às similares de outros estados.
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por exemplo, subiu da 8.ª para a 4.ª colocação no ranking continental, tornando-se a mais bem colocada entre as universidades federais brasileiras. O principal fator de progresso da UFRJ se deu no critério reputação junto ao mercado, item que corresponde a 20% da nota final, no qual são ouvidas as opiniões de conselhos profissionais e entidades representativas da indústria, comércio e serviços. Nesse quesito, a instituição foi de 48.3 pontos para 82.1. A universidade destaca que essa melhora representa o reconhecimento do empregador sobre a qualidade do estudante da UFRJ.
A UFPR, 40.ª neste ano e 37.ª em 2013, também melhorou nesse critério, mas partindo de um desempenho bem inferior ao da instituição carioca. No ano passado, a reputação da UFPR junto ao mercado ganhou nota 7.2. Em 2014, a pontuação chegou a 33.8, o que representa uma importante evolução, mas que ainda rende um modesto 157.º lugar quando considerado apenas esse item. Outros exemplos de universidades públicas que melhoraram nesse quesito e garantiram melhores colocações são a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (de 14.ª para 10.ª no ranking geral) e a Universidade Estadual Paulista (de 11.ª para 9.ª).
Análise
"Reputação acadêmica" das paranaenses prejudica nota final
Das universidades paranaenses mais bem colocadas no ranking da QS, a UEL foi a que perdeu mais posições, caindo da 64ª para 74ª colocação no ranking geral. O fator responsável pela queda foi a relação do número de alunos por professor. Na lógica do ranking, quanto menor for o volume de estudantes para cada docente, melhor para a qualidade do ensino, e de 2013 para 2014 a UEL perdeu cerca de 20 pontos nesse quesito. O item corresponde a apenas 10% da nota final e poderia ser equilibrado com avanços no mais importante dos critérios: a reputação acadêmica, correspondente a 30% do valor final. Neste quesito, a instituição se manteve estável, com progresso de apenas 0.01 ponto.
A reputação acadêmica é medida pela QS por meio de consultas a acadêmicos de diferentes níveis, de graduandos a doutores, e de diferentes partes do continente, aos quais é perguntado onde são produzidos os melhores trabalhos em sua área. No ano passado, foram entrevistadas 62 mil pessoas. A consultoria informa que os participantes não podem citar a instituição onde estudam como resposta.
Quando considerado apenas esse quesito, o resultado paranaense é pior que o do ranking geral. A UFPR fica na 64.ª posição, a UEL fica com o 157.º lugar e nenhuma das outras fica no grupo das 200 com melhor reputação.
Crítica
Para o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFPR, Edilson Sergio Silveira, o critério de maior peso na pesquisa acaba se tornando também o mais frágil no levantamento, já que é baseado na percepção de entrevistados que podem ou não estar bem informados sobre a realidade das universidades.
"Preferimos dar mais atenção aos critérios mais concretos, como a quantidade de publicações por professor ou de citações", diz Silveira, para quem a reputação acadêmica medida pelo ranking é subjetiva demais e depende de muitas variáveis. A mesma crítica é feita ao quesito reputação no mercado.
O professor diz que a UFPR não usa o ranking para se comparar a outras instituições, mas para avaliar as mudanças no próprio desempenho ao longo do tempo. "Admito que a divulgação da produção científica é importante, mas nos esforçamos mais para estabelecer uma cultura de pesquisa de fato do que em convencer os rankings de que fazemos isso", diz.
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