Interior
Se na capital o valor de uma bolsa é insuficiente, no interior, essa é, muitas vezes, a melhor opção de renda de um recém-formado. "Existe uma diferença grande no custo de vida. Sem contar que nem sempre há boas ofertas de empregos nas cidades menores", explica o diretor de Pós-Graduação da UTFPR, Luiz Nacamura Júnior. Ele conta que os estudantes de Curitiba costumam reclamar dos valores das bolsas e a cidade está com o mercado de engenharia aquecido, o que torna mais difícil um recém-formado deixar de ganhar bem no mercado de trabalho para viver com uma bolsa de pós-graduação.
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7.546 bolsas
foram concedidas pela Capes e pelo CNPq em 2012 e 2013. Enquanto a Capes financiou 5.554 bolsas de mestrado, doutorado e mestrado profissional, o CNPq bancou 1.992 auxílios de mestrado, doutorado e pós-doutorado.
A partir de R$ 1,5 mil
Desde abril deste ano, Capes e CNPq reajustaram suas bolsas. Os novos valores ficaram em R$ 1,5 mil (mestrado), R$ 2,2 mil (doutorado) e R$ 4,1 mil (pós-doutorado).
Ganhar uma bolsa para dar continuidade aos estudos seja mestrado, doutorado ou pós-doutorado parece bem atraente. O estudante pode usar todo o tempo para se dedicar a leituras e trabalhos acadêmicos, sem deixar de receber dinheiro na conta no final do mês. Porém, nem sempre o valor pago pelas financiadoras de pesquisa, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) ou o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), é suficiente. Aquilo que era para facilitar a vida do aluno acaba atrapalhando, pois ele precisa arrumar "bicos" para se manter.
Ednei Leal, 34 anos, é mestrando em Letras na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ele está no último ano e ganha bolsa desde o início do curso. Porém, com o valor que recebe R$ 1,5 mil, valor atualizado pela Capes desde abril não consegue pagar as despesas que tem com os dois filhos, mesmo tendo a renda complementada com o salário da esposa.
Para contornar essa situação, ele dá aulas particulares para estudantes dos ensinos fundamental e médio, além de preparar candidatos para concursos. "Não tem como sobreviver apenas com o que a bolsa paga. Todo mundo que eu conheço na pós-graduação acaba trabalhando de alguma forma", conta Leal.
Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do PovoO mestrando Ednei Leal dá aulas particulares a alunos da educação básica para aumentar a renda da família.
A mestranda de História Flora Morena Martini de Araújo, 27 anos, também enfrenta problemas para sustentar a família com a bolsa que recebe. No início da pós, ela era solteira e morava com os pais, o que permitia que ela sobrevivesse com o valor recebido. Casada, agora Flora sente as dificuldades para manter uma casa. "Meu marido também é bolsista, mas ele dá aulas em um colégio. É essencialmente com esse salário que nos sustentamos."
Dedicação
O valor da bolsa de doutorado é um pouco maior: R$ 2,2 mil. Mesmo assim, não livra o doutorando de buscar outras atividades remuneradas para bancar as despesas. Marina Legroski, 27 anos, está no penúltimo ano do doutorado em Linguística e recebe bolsa há cinco anos, desde que iniciou o mestrado. No começo, ela dava aula como professora substituta na universidade. "Fiz isso enquanto cursava as disciplinas do meu programa. Não foi fácil", conta.
Existe ainda a possibilidade de o estudante não se candidatar à bolsa e trabalhar. Porém, se os "bicos" que são esporádicos já reduzem o tempo de dedicação aos estudos, um trabalho registrado que tem uma carga horária de 30 a 40 horas por semana pode atrapalhar ainda mais. "Se eu trabalhasse 8 horas por dia, certamente não daria conta [dos estudos]", comenta Marina.
Capes e CNPq não permitem vínculo empregatício
Bolsas de pós-graduação têm a finalidade de auxiliar os estudantes a bancarem os estudos, como comprar livros, pagar refeições e ir a congressos. A intenção não é servir como um salário, até porque o bolsista não tem direito a férias ou 13.º salário. Na prática, a remuneração de muitos alunos fica restrita ao valor da bolsa, já que não contam com a ajuda financeira da família e não podem estar empregados.
Para conceder o auxílio, Capes e CNPq não permitem que o candidato tenha vínculo empregatício. Desde 2011, em alguns casos, o aluno pode trabalhar em algo que tenha relação com a sua área de pesquisa, desde que a carga horária seja baixa e o orientador tenha autorizado.
As bolsas da Capes e do CNPq são destinadas preferencialmente a alunos de instituições públicas. Nas particulares, as bolsas costumam vir pelo Programa de Suporte à Pós-Graduação de Instituições de Ensino Particulares (Prosup). As bolsas são concedidas a partir da análise do projeto do aluno.
Além dessas agências de fomento, há outras financiadoras com regras diferentes. A Fundação Araucária, por exemplo, concede o benefício por meio de editais. Quando eles são abertos, o programa de pós-graduação pode concorrer a uma bolsa. Os valores variam conforme cada edital. A Capes e o CNPq foram procurados para esclarecer os critérios de definição dos valores, mas não deram resposta.
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