Mateus Benedeti e Manoel Gonçalves de Oliveira Neto trabalharam juntos na empresa júnior da UEL e se tornaram sócios da imobiliária DMX.| Foto: Roberto Custódio / Jornal de Londrina
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Consequência

O contato com o mercado de trabalho antes da formatura é visto pelo professor de Gestão de Pessoas, Marciano de Almeida Cunha, da PUCPR, como um dos grandes motes das empresas juniores. Para ele, mais do que apresentar o empreendedorismo ao estudante, as EJs são um momento para o exercício profissional balizado por professores da área. "O estudante tem autonomia, mas há um suporte educacional por trás para o caso de questões que não consegue resolver", afirma. Ele lembra que, para atender aos desafios que chegam com os clientes, é preciso estudar e pesquisar. "A participação tem um impacto na performance do estudante. Quanto melhor resolve as demandas, melhor é seu desempenho acadêmico". Cunha analisa que a empresa júnior pode ajudar a desenvolver as capacidades de liderança, autogestão e gerenciamento de conhecimentos. "Tudo é feito por eles [estudantes] e para eles. A proposta é prepará-los para o trabalho e não necessariamente torná-los empreendedores. Isso será uma consequência", pontua.

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Oportunidade de aprendizado na prática, a participação no Movimento Empresa Júnior (MEJ) pode ser também o primeiro passo para uma carreira empreendedora. Constituídas exclusivamente por estudantes de graduação, as empresas juniores (EJs) prestam serviços para empresas externas na área de atuação dos alunos, mediante orientação docente. No Brasil, os números da Federação de Empresas Juniores do Paraná (Fejepar) contabilizam 350 EJs e mais de 7,5 mil empresários juniores em atividade. No estado, são cerca de mil estudantes e 50 empresas ligadas ao movimento.

Criado na França, na década de 1960, o MEJ tinha foco na complementação acadêmica dos estudantes. Difundida em outros países nos anos seguintes, a prática é hoje considerada uma chance para o desenvolvimento de projetos que gerem impacto na sociedade, comenta o presidente da Fejepar, Caio Henrique Pitta de Souza. "Tendo contato com uma cultura empreendedora, o estudante vê o potencial que o empreendedorismo tem e leva isso para onde for trabalhar. Se mostra como uma pessoa ativa, alguém que pode fazer algo inovador", diz.

Souza explica que, após ingressar em uma EJ, o acadêmico passa a ter experiência em gestão, entende como funciona uma organização e as ferramentas que poderá usar na área.

Parcerias

Essa dinâmica tende a gerar mais segurança e a desenhar contatos profissionais para o recém-formado, observa Luiz Hamilton Schlichting Ribas, 25 anos, ex-membro da JR Consultoria, a empresa júnior dos cursos de Ciências Sociais Aplicadas da UFPR. Formado em Economia, ele abriu com mais dois colegas de EJ – Alexandre Schmidt de Amorim, 24 anos, e Diego Tutuli Moreira, 25 anos – uma organização que atende escolas de educação especial em Curitiba. A Ação Social para Igualdade das Diferenças (Asid) prestou consultoria para 21 instituições desde 2010.

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Com metodologia criada pelos sócios, o trabalho consiste no diagnóstico e no desenvolvimento de estratégias que ajudem a fortalecer a estrutura e a gestão das escolas. Gratuitas para as instituições, as intervenções são bancadas com o apoio de empresas parceiras. "O aprendizado na empresa júnior foi primordial para isso", relata Ribas.

Os administradores Mateus Benedeti e Manoel Gonçalves de Oliveira Neto, ambos com 29 anos, também reconheceram a vocação para o empreendedorismo e a oportunidade de uma parceria em uma EJ. Ex-membros da Business Consultoria, do curso de Administração da UEL, eles tornaram-se sócios em uma imobiliária. "A vivência adquirida na empresa júnior não tem preço. Lá, fizemos um trabalho voluntário para treinar pessoas carentes para o mercado de trabalho e até hoje aplicamos alguns pontos no treinamento de novos colaboradores", assinala Benedeti.

Participação em EJs garante aprendizado na área de negócios

A experiência der três anos na empresa júnior do curso de Engenharia Elétrica da UEL inspirou o estudante Luiz Ricardo Zeni da Silva, 26 anos, a direcionar a atuação profissional para o campo dos projetos elétricos em obras de pequeno porte. Ele já desenvolveu iniciativas em parceria com outro empresário júnior e vislumbra aderir à atividade empresarial após a formatura. "Dentro da empresa júnior fizemos projetos para a universidade, como o do restaurante universitário. Fomos ganhando conhecimento e vimos que temos capacidade para isso", conta.

Para o jovem, a experiência garantiu mais conhecimento técnico e de conteúdos que não ficam restritos à engenharia. "Pude conhecer como funciona uma gestão financeira, como lidar com funcionários, impostos e o planejamento estratégico de uma empresa aliado à sua visão e missão", analisa.

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Outras áreas

A diretora de Marketing da Teófilos, empresa júnior do curso de Farmácia da UEM, Lívia Franchin de Viccari, 21 anos, comenta que estudantes que não são graduandos da área de negócios podem ter um aprendizado ainda mais amplo no Movimento Empresa Júnior (MEJ). "Conhecimentos sobre gestão de negócios, por exemplo, nós aprendemos com outras empresas juniores", diz ela, ao apontar que é cada vez mais comum a criação de EJs em áreas distantes da Administração, Ciências Contábeis ou Economia.

No caso da Teófilos, as consultorias técnicas são voltadas ao varejo farmacêutico. Um dos principais projetos é o "Pró-Remédio", ação que visa o descarte correto de medicamentos vencidos. A EJ foi criada há nove anos e conta hoje com 33 membros ativos.