Durante um estágio do curso de Engenharia da Computação, cinco jovens estudantes de Engenharia perceberam uma oportunidade de mercado interessante: a da tecnologia no auxílio à medicina. Por acharem que a área era carente de projetos, tornando-se um nicho interessante, e ainda não terem muito dinheiro para desenvolver a empresa, os jovens engenheiros foram atrás de uma incubadora de negócios.
O modelo diz respeito a um espaço geralmente cedido por uma universidade ou instituição técnica que abriga projetos tidos como inovadores e vem ganhando relevância em todo o país. De acordo com números da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadoras (Anprotec), o Brasil reúne pouco mais de 380 incubadoras de negócios. Dessas, cerca de 30 estão no Paraná.
Uma delas é a Incubadora Tecnológica de Curitiba (Intec), que foi quem respondeu à expectativa dos cinco jovens engenheiros e aceitou o projeto da Hi Technologies, empresa que vieram a formar. O projeto foi incubado em 2005 e hoje fabrica dois produtos próprios, possui 21 funcionários e espera fechar 2011 com faturamento de até R$1 milhão. Nada mal para uma empresa que começou com investimento de R$ 2,5 mil.
"No início, tudo o que tínhamos era uma ideia. O capital era pequeno e dependíamos da estrutura física da incubadora. Para ter ideia, trouxemos os computadores das nossas casas para trabalhar", lembra Marcus Vinícius Figueredo, diretor executivo da Hi Technologies. É justamente esse perfil de empreendimento que as incubadoras buscam. De acordo com Júlio Felix, gerente-geral da Intec, os projetos que acabam sendo escolhidos para fazer parte da incubadora são aqueles que apresentam boas ideias e se mostram comercialmente rentáveis.
"Aqui oferecemos a estrutura para que uma empresa possa crescer. Tendo um projeto de negócios interessante, há a possibilidade de ela se tornar um sucesso comercial", afirma Felix. Segundo ele, as incubadoras têm fatores que possibilitam isso, como a proximidade com investidores e outras empresas incubadas, além da referência que o projeto ganha ao ser aceito pela instituição, o que serviria como um primeiro crivo ao seu potencial.
Referência
No caso da Hi Technologies, isso já é visível. Um dos produtos fabricados pela empresa é um aparelho eletrônico que, por meio de conexões bluetooth e internet wifi, possibilita que médicos e hospitais recebam dados de seus pacientes remotamente.
Chamado Milli, o produto foi lançado há cinco meses e a expectativa da empresa é vender 500 unidades até maio de 2012, o que deve gerar uma receita de R$2 milhões para a empresa, de acordo com Figueredo. Com o sucesso, a Hi Technologies deve, em breve, fazer sua graduação na incubadora, que é quando a companhia deixa o espaço e começa a andar por conta própria buscando novos investidores para seu desenvolvimento.
A trajetória lembra a de um dos maiores exemplos nacionais quando o assunto é o sucesso a partir de incubadoras: a Bematech, empresa curitibana que produz equipamentos de automação comercial. Com 22 anos de história, a Bematech começou a dar seus primeiros passos firmes quando foi aceita na então recém-fundada Intec. Passados dois anos, seus sócios fundadores, Wolney Betiol e Marcel Malczewski, conseguiram que investidores apostassem US$150 mil na empresa e o negócio deslanchou.
Hoje, listada na bolsa de valores brasileira e com faturamento de R$326,4 milhões em 2010, parte de seu sucesso é creditada justamente ao período na incubadora. "O tempo de desenvolvimento da empresa foi de muito aprendizado, já que tínhamos de tocar várias atividades administrativas, além de cuidar de todo o conceito do negócio. Hoje a experiência está mais profissionalizada, mas ainda é muito válida", afirma Malczewski.
O Case Bematech
Referência quando o assunto é sucesso a partir deste modelo, a Bematech desenvolveu seu primeiro (e até hoje principal) produto quando estava em uma incubadora ainda longe de ser a líder nacional em automação comercial. Em setembro, Marcel Malczewski, um dos fundadores da empresa, participou da Feira de Gestão da FAE e apresentou a história para os universitários. Confira os principais trechos da entrevista concedida para a Gazeta do Povo:
Como o sr. enxerga a importância da universidade diante do desenvolvimento da empresa?É fundamental. Por ser uma empresa de tecnologia, tudo começa pela inovação e a universidade é o lugar onde o conhecimento técnico para isso é obtido. Nos nossos primeiros produtos, como as impressoras, que até hoje são o carro chefe da companhia, utilizamos todo esse saber que a academia passou. Além disso, (a universidade) é onde se pode planejar, pensar em projetos pessoais e no que se quer fazer para a vida.
A partir disso, como foi a fase dentro da incubadora?Podemos ver o começo da empresa em duas fases. A primeira foi na universidade, quando recebemos o conhecimento técnico que falei. E em seguida, veio a incubadora, onde transformamos todo o know-how acadêmico em protótipos reais. Essas fases foram fundamentais para o embrião da empresa evoluir. Sem elas, a gente não estaria conversando aqui hoje.
E hoje, como é o cenário brasileiro para jovens que apostam no empreendedorismo? É possível comparar com a época de vocês?Hoje está mais fácil para quem quer empreender. Há mais oportunidades para isso, mais cursos e gente disposta a fazer. E isso é bom. No nosso caso, demoramos para começar a profissionalizar, e durante certo tempo tivemos que tocar pessoalmente todo o negócio, todos os departamentos. Hoje os jovens conseguem fazer o certo: focar as áreas da companhia onde eles fazem a diferença e deixar as áreas intermediárias (como controle financeiro e recursos humanos) com profissionais específicos dos temas.
E como está a Bematech hoje?Nos últimos anos, passamos por muitos movimentos, tendo entrado na Bovespa e tendo desenvolvido a compra de oito empresas. Agora, estamos em um momento de "arrumar a casa". Há quatro meses, entrou um novo presidente para as operações e ele chega junto com uma série de ajustes internos ao mesmo tempo em que o mercado está numa fase de acomodação. A organização, porém, está bem capitalizada e continua na liderança absoluta do setor.
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