Dos dias de futebol e fins de semana de surfe, Trajano Rocha, 28 anos, passou para a rotina de horário comercial| Foto: Priscila Forone/Gazeta do Povo

Experiências

Se os anos de vestibular e de intercâmbio aos Estados Unidos ficaram para trás, a vontade de conhecer e aprender ainda estão juntos com Luciana Beghetto, 25 anos. Já formada em Relações Internacionais e recém-promovida para o cargo de assessora de tributos na consultoria Ernst & Young Terco, ela cursa agora a faculdade de Direito.

Dos dias de futebol e fins de semana de surfe, Trajano Rocha, 28 anos, passou para a rotina de horário comercial. Hoje, é gerente de rentabilidade, investimentos e novos projetos da ALL, companhia em que entrou como trainee e onde pretende crescer ainda mais. "É claro que as coisas mudam, mas é a época da vida para isso.

Algumas coisas ficaram para trás e outras novas vieram", resume ele, que quer chegar à diretoria em até quatro anos.

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Jovens mais antenados e individualistas

O termo Geração Y não aponta apenas a época de nascimento dos jovens que estão entrando e dominando o mercado de trabalho hoje (algo próximo do intervalo entre 1978 e 1990, mas que varia de acordo com o autor).

Muito além disso, a expressão define algumas características e valores bem representativos e comuns a boa parte desses jovens.

Entre os adjetivos mais usados para falar desse público, estão os que falam da alta velocidade que os jovens querem que as realizações pessoais e profissionais aconteçam, do alto nível de informação e do uso de tecnologia, assim como do individualismo em várias tomadas de decisão.

"De forma geral, esse jovem está mais ligado às questões do mundo moderno, querendo crescer, aprender a produzir com base nisso. E ele exige isso de todos, inclusive das empresas onde trabalha", define o psicólogo especialista em terapia cognitivo-comportamental, Fernando José Elias.

Luciana Beghetto é formada em Relações Internacionais e foi recém-promovida para o cargo de assessora de tributos. Ela cursa agora a faculdade de Direito
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Trocar a camiseta e a bermuda pelo terno e gravata, assim como os dias de faculdade pela rotina de trabalho em grandes empresas são desejos cada vez mais comuns entre os jovens universitários. E boa parte deles espera que essa mudança aconteça em pouco tempo. Esse movimento foi acentuado na última década, motivado pela combinação dos anseios da chamada Geração Y e do momento econômico do país. "Nós vemos dois movimentos. O primeiro é o da evolução do mercado e das informações ligadas a ele, que foi determinada pelo andamento da economia e pela dinâmica das empresas. O outro diz respeito aos próprios jovens e sua ânsia pelo conhecimento e desenvolvimento profissional", explica Carlos Contar, diretor regional da consultoria Business Partners.

A característica de buscar resultados rápidos diz muito sobre essa geração. De acordo com Contar, muitos dos novos profissionais já chegam ao mercado de trabalho com "qualificações interessantes", como bons currículos acadêmicos, vivência no exterior e fluência em idiomas estrangeiros.

Motivações

Assim, não é de se estranhar que os fatores que mais motivam esses jovens no ambiente corporativo estão ligados a desafios, à chance de reunir cada vez mais conteúdos e também à busca de reconhecimento. Trajano Rocha entrou no programa de trainee da América Latina Logística (ALL) aos 24 anos e desde então começou a pensar nos rumos e possibilidades da carreira.

Hoje, menos de quatro anos depois, já ocupa um cargo de gerência na companhia e planeja ocupar, dentro de outros quatro anos, um cargo de diretoria na própria ALL ou em outra grande empresa. "Logo que entrei, senti que a empresa tinha a ideia de propor desafios e, a partir disso, possibilitava uma ascensão a outros cargos. Isso impulsiona, motiva a querer se desenvolver na carreira", conta Rocha.

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Mesmo tendo objetivos e desejos de evolução na carreira, ele não sofre uma pressão sufocante para o rápido crescimento na hierarquia. Como para muitos jovens da Geração Y, a evolução é vista praticamente como uma consequência certa do trabalho do dia a dia e das ambições pessoais. "Aos poucos, com a empresa possibilitando, aí vem o crescimento", diz Rocha.

Além dos desafios e do crescimento rápido, o que mais incentiva o trabalho da assessora de tributos da Ernst & Young TercoLu­­ciana Beghetto, 25 anos, é estar inserida num ambiente corporativo e fazer a diferença no trabalho com diversas empresas. Ela entrou pelo programa de trainees, no ano passado. "Participar e poder ajudar nos pontos em que as empresas podem melhorar é sempre a maior satisfação", afirma. Lu­­ciana, afirma que pensa em uma ascensão. "Nossa geração quer muita velocidade, quer tudo para ontem. Para mim, se fosse para escolher, seria o mais rápido possível. Por exemplo, até os 30 anos já estar em um cargo gerencial alto e estável", diz.

Porém, assim como Rocha, da ALL, a preocupação de Luciana não é somente pelo cargo, mas nas condições em que isso virá. "Acima de tudo, penso em aprender muito e também passar conhecimento para outras pessoas", ressalta.

Os riscos que a ansiedade pode gerar

O amadurecimento e a qualificação precoces, assim como as ambições dessa geração, são bem vistos por boa parte das empresas, que têm feito apostas constantes nesses jovens. No entanto, algumas das posturas da Geração Y podem representar aspectos negativos.

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Em muitos casos, de acordo com Contar, da Business Partners, o que vai determinar esta relação é o comportamento de cada jovem e também o perfil da empresa que o recebe.

Do lado dos profissionais, um dos pontos que podem atrapalhar a relação é o da inexperiência. "Eles entram capacitados, sim, mas sem conhecer tão bem a cultura das empresas e, por vezes, do cargo. E há todo um contexto já existente de funcionamento das organizações", aponta Contar.

Além disso, o aspecto da "pressa" na profissão também pode se mostrar prejudicial. Por mais que a energia e a "boa ambição" sejam elogiadas, as curtas passagens por empresas e cargos, reunindo experiências superficiais, podem ser mal vistas. "Muitas vezes as organizações não conseguem propiciar o crescimento rápido nem os benefícios e motivações que esses jovens esperam. Por mais que muitas companhias tenham todo um plano de desenvolvimento de carreiras, em al­­guns casos, os perfis e intenções de cada um podem não dar certo", diz Fernando José Elias, psicólogo especialista em terapia cognitivo-comportamental.

De acordo com ele, a aposta pode então se transformar em decepção, ainda mais pensando nos altos investimentos feitos por empresas no momento para a entrada e a capacitação dos novos profissionais.

Os segmentos mais "abertos" aos jovens

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Alguns segmentos do mercado, assim como áreas específicas das companhias são mais suscetíveis a trabalhar com essa geração. "Todas as empresas devem ter um nível mínimo de adaptação a essa geração, mas é claro que isso fica mais acentuado nas que também estão em constante atualização", diz Elias. Como exemplo, ele fala dos setores de tecnologia e publicidade.

Já pensando nos departamentos dentro de companhias que atendem melhor às expectativas dos jovens, Contar, da Business Partners, destaca as áreas de marketing e finanças. A primeira se justifica pela exigência de um bom nível de informação e a busca pela inovação. Já a segunda, mesmo vista como mais "quadrada", pode proporcionar boas oportunidades de carreira e ascensão profissional.