Após 90 dias à frente da Universidade de São Paulo (USP), o reitor Marco Antonio Zago enviou na segunda-feira (29) uma carta a professores, funcionários e alunos da instituição para explicar a crise orçamentária. Conforme antecipado pelo portal do jornal O Estado de S. Paulo, Zago criticou a falta de transparência da gestão de João Grandino Rodas e afirmou que, desde 2012, a USP perdeu R$ 1,3 bilhão de sua reserva. A "poupança" é usada para gastos que excedam o orçamento - no ano passado, o repasse total do governo do Estado foi de R$ 4,35 bilhões.
Ao jornal, revelou, por e-mail, que, se os gastos continuassem no ritmo em que estavam e não houvesse uma "política responsável de austeridade", a reserva "se esgotaria em um ano e meio ou, no máximo, em dois anos".
O presidente da Comissão de Orçamento e Patrimônio da USP, o professor e diretor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEARP), Sigismundo Bialoskorski Neto, disse que a reserva se esgotaria em ainda menos tempo. "Em determinado momento, isso poderia acontecer no início do próximo ano. A universidade teria em torno de mais 12 ou 15 meses, até que estivesse em uma situação realmente complicada, sem esse fundo para contingência."
Rodas foi procurado por e-mail e telefone durante a tarde de segunda, mas não respondeu aos pedidos de entrevista.
Zago afirmou na carta enviada à comunidade acadêmica que a reserva da USP passou de R$ 3,61 bilhões, em junho de 2012, para R$ 2,56 bilhões, no fim de 2013. Segundo ele, só nos três primeiros meses do ano, o valor teve ainda redução de R$ 250 milhões, indo para R$ 2,31 bilhões, "em função de compromissos assumidos anteriormente e só pagos em 2014".
Em clara crítica à gestão anterior, Zago afirmou que, quando estava no cargo de pró-reitor de Pesquisa, durante a administração de Rodas, não tinha conhecimento sobre a situação orçamentária da instituição, "compartilhada por poucas pessoas". Segundo ele, os pró-reitores não eram chamados para o planejamento financeiro. "Cada um apresentava as propostas de programas específicos de sua área (graduação, pós-graduação, pesquisa, cultura e extensão)", disse.
Para ajustar o orçamento da universidade, Zago paralisou as contratações de pessoal - principal gargalo nas contas da USP - e as substituições de aposentados ou demitidos. Só com a folha de pagamento, a universidade tem 105,14% do orçamento comprometido atualmente.
Gastos com investimentos e pesquisa também foram cortados. "Novas construções tiveram de ser suspensas, sem consideração de prioridade ou interesse acadêmico: simplesmente não há recursos para atender a novos prédios", disse, em trecho da carta.
Saúde
Segundo Bialoskorski Neto, para o orçamento da universidade voltar a um nível saudável seria preciso também considerar a variável de crescimento da arrecadação estadual e, consequentemente, do repasse às universidades estaduais. "A gente espera um ajustamento dessa folha salarial para 85%, 87%, ao longo dos próximos dois anos, o que já começa a ser um patamar saudável. Mas depende das variáveis econômicas, uma vez que os salários não podem ser reajustados."
Ele também disse que, na gestão anterior, o Conselho Universitário, órgão máximo da universidade, apenas acompanhava a aprovação da peça orçamentária do ano seguinte - e não a execução. "Nos últimos três meses, o conselho aprova e acompanha os gastos."
No fim da carta, o reitor admitiu que, se sua política de cortes de investimentos e suspensão de contratações for "mantida por um longo prazo, poderá trazer enormes prejuízos para a instituição". Zago afirmou, no entanto, que vai "atuar para minimizar os efeitos negativos dessas medidas, buscando atender às situações de maior emergência ou gravidade".
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink
Deixe sua opinião