Em cinco anos, a Lei do Estágio, sancionada em setembro de 2008, trouxe mudanças que extrapolam as regras que regulamentam o trabalho de estudantes em empresas. A legislação parece ter acendido uma luz no caminho dos universitários, que deixaram de enxergar o estágio simplesmente como uma obrigatoriedade e passaram a encarar a atividade como uma oportunidade para enriquecer o currículo. Hoje, muitos jovens procuram experiências diferentes daquelas encontradas em empresas familiares e organizações locais eles estão de olho em multinacionais e vagas em outras cidades e países.
No mesmo ritmo, com seleções mais rigorosas, as empresas passaram a ver nos estudantes a chance de formar profissionais mais capacitados e alinhados com suas diretrizes. "As grandes empresas, com visão de RH, estão preocupadas com a formação. Investem no profissional que irão contratar depois. Hoje, a experiência enriqueceu e os alunos perceberam isso", diz a coordenadora-geral de Estágios da UFPR, Lilian Deisy Franzoni. Algumas das corporações com esse perfil são a Exxonmobil, a CNH, a Votorantim e a Ambev. "A intenção é captar gente boa que vai continuar na companhia. Não queremos alguém que faça apenas processos burocráticos. Na última turma, 87% foram contratados", garante gerente de Recrutamento e Seleção da Ambev, Mariana Engelman.
A estrutura curricular de alguns cursos, como engenharias, Zootecnia e Medicina Veterinária, ainda dá chance para que o estudante atravesse fronteiras para fazer estágio. A médica veterinária recém-formada Jéssica Giordana de Pádua Formigoni, 25 anos, teve a oportunidade de estagiar por dois meses em uma clínica veterinária e em abrigos públicos para animais nos Estados Unidos. Por conta própria, ela fez o estágio curricular no município de Hayward, onde vivenciou uma política pública diferente da encontrada no Brasil. "Aqui não temos abrigos de referência como os de lá. Ainda é uma área que está crescendo em Curitiba. Decidi ir para os EUA para buscar experiência", conta.
E para quem não tem brecha no currículo para ficar um tempo fora, algumas empresas têm investido em programas alternativos. "São os estágios de férias, em que os alunos aproveitam o recesso escolar para ter outras experiências em empresas de outros estados", explica a coordenadora de Estágio e Talento do IEL-PR, Lucimara do Nascimento. Entre as que oferecem esse tipo de oportunidade estão Shell, Itaú, Odebrecht, Itaipu e Volkswagen.
Outra realidade
Apesar dessa tendência, ainda há uma parcela de alunos que ainda vê o estágio de uma forma mais pragmática. Na Universidade Tuiuti do Paraná, por exemplo, a remuneração aparece em primeiro plano para a maioria dos alunos. "Vemos aqui uma corrida pelas melhores bolsas, pelos melhores benefícios. A preocupação não está atrelada ao aprendizado, o que acaba descaracterizando o estágio", comenta a coordenadora de Integração Mercado-Aluno, Maria Elisa Sokoloski.
Variação
As experiências dos universitários nas empresas podem ser classificadas de duas formas: obrigatória e não obrigatória. A primeira faz parte da grade curricular de cursos que exigem o contato com o mercado de trabalho durante a formação. Nesse caso, os cursos podem separar um período para que o estudante se dedique exclusivamente à empresa, com o acompanhamento de um professor orientador. O estágio não obrigatório pode ser considerado como uma atividade complementar e depende do interesse de cada aluno, que busca vagas por conta própria. Para ambos os casos, algumas regras são traçadas pelos cursos, como a formação mínima necessária para ingressar em um estágio.