Aos 51 anos, dona de casa e com apenas o ensino fundamental completo, Márcia Isabel Poffo Tanigutti nunca imaginou que colocaria os pés em uma universidade. Frequenta as aulas do 2.º ano de Jornalismo na UniBrasil, faz todos os trabalhos e provas, mas não está matriculada. Ela voltou aos bancos escolares para acompanhar o filho Márcio, 23 anos, que tem paralisia cerebral e não conseguiria estudar sem a sua ajuda.
A família descobriu a doença logo após o nascimento. Desde então, Márcio depende completamente da mãe, que o auxilia em todas as tarefas. Ele anda de cadeira de rodas, pronuncia poucas palavras e não movimenta braços e pernas. Para escrever, usa uma ponteira presa à cabeça para digitar no computador.
Todos os dias, das 19 horas às 22h30, lá está a mãe, anotando cada palavra que os professores falam, apresentando trabalhos e até indo fora dos horários de aula para fazer atividades em equipe, sempre junto de Márcio. Quando chegam em casa, ele passa para o computador tudo o que ela anotou, usando isso como forma de estudo.
Para fazer as provas, a universidade criou um sistema especial para ele. A cada dois meses, Márcio faz uma prova oral. Como o jovem também tem problemas de fala é a mãe quem explica aos examinadores o que o filho quis dizer.
Essa rotina universitária comum hoje já foi um susto para Márcia. "Quando meu filho disse que queria prestar vestibular, fiquei chocada. Só conseguia pensar em como seria", lembra. Depois de ver o nome na lista dos aprovados, ela entrou em acordo com a instituição para acompanhá-lo durante os quatro anos de graduação, já que a UniBrasil não tem um profissional que pudesse fazer esse papel.
Embora não falte a uma aula, Márcia confessa que sente dificuldade em algumas disciplinas, principalmente História. "No começo, não entendia nada do que os professores falavam. Hoje minha matéria preferida é Psicologia. Se eu puder, no futuro, gostaria de cursar, mas junto com o Márcio, claro." O gosto pela escrita principalmente poesias foi o que motivou Márcio a escolher o Jornalismo. Por enquanto, ele não pensa em fazer outro curso.
Convivência
Nem só os conteúdos são um desafio para Márcia. A convivência com jovens, muito mais novos, às vezes a deixa tímida. Segundo ela, é natural que, com a diferença de idade, olhe para eles e perceba que falta maturidade, que gastam tempo e se preocupam com besteiras. Mas isso não a impede de se enturmar com eles.
Para Márcio, alguns são muito mais do que colegas, são anjos da guarda. "Ele sempre tem alguém que estuda junto, que tem toda paciência e carinho em ajudá-lo e que vem aqui em casa fazer trabalho. Foi assim desde pequeno, quando começou a frequentar o colégio", lembra a mãe.
Vida e Cidadania | 2:14
Dona de casa, Márcia Tanigutti , 51 anos, voltou a estudar depois de 35 anos para ajudar seu filho Márcio, que sofre de paralisia cerebral.