As práticas mais irritantes, segundo os professores
Entra e sai da sala
Todo mundo entende que alguns telefonemas precisam ser atendidos, e é até recomendável sair da sala para falar. Mas, quando o excesso de movimentação se torna hábito, é impossível não roubar a atenção da turma para o abre e fecha da porta. O mesmo vale quando o motivo é "ir ao banheiro" ou "tomar água".
O vício da internet
A internet móvel é vista quase como uma necessidade básica por boa parte dos jovens que chegam hoje à vida acadêmica. O problema é que o seu poder de sedução é tão grande, que alguns (ou seriam muitos?) não resistem à checagem intensiva de notificações nas redes sociais ou de novos e-mails. Poucos hábitos denotam tanto desprezo pela aula quanto estar fisicamente presente, mas com a mente longe.
Zum-zum-zum
Conversas paralelas parece ser um mau hábito que, no Brasil, se verifica em praticamente qualquer lugar onde estejam grupos de pessoas "ouvindo" alguém. É outro símbolo do descaso com quem fala lá na frente, seja o professor dando aula ou os colegas apresentando algum trabalho.
Atrasos
Mais um aspecto cultural que afeta negativamente o andamento das aulas na universidade. O pouco valor dado à pontualidade faz com que, na prática, alguns alunos cheguem normalmente no fim da classe. E ainda há quem reclame quando o professor dá falta para quem assiste só à metade da aula.
Na questão disciplina, a estrutura e a cultura acadêmica são muito diferentes do ambiente escolar. Não há inspetores ou coordenadores pedagógicos para dar bronca, e o costume de chamar os pais para uma conversa não pegaria nada bem para o jovem universitário. Embora o próprio conceito de ensino superior já suponha atitudes mais maduras, há quem chegue a esse nível de formação com comportamentos inconvenientes que prejudicam a formação acadêmica. E, nesse cenário, os professores precisam de muito tato para lidar com a situação.
O doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) João Malheiro acha que o problema se deve à falta de identidade dos jovens que chegam ao ensino superior. "Eles raramente sabem quem são, o que querem ou se estão fazendo a faculdade certa", diz. Para Malheiro, ninguém chega maduro à universidade se não tiver conquistado algumas virtudes básicas de boa convivência, com a ajuda da família e da escola. Algumas atitudes dos pais desses alunos, como a concessão de carros ou dinheiro em troca da aprovação no vestibular, por exemplo, apenas contribuem com as frágeis noções de responsabilidade e autonomia, acredita o professor.
Calouros
Atitudes infantis ou desrespeitosas, infelizmente, ocorrem em todos os cursos do ensino superior, mas com maior frequência no primeiro ano de faculdade, explica a professora Daniele Saheb, do curso de Pedagogia na Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Para ela, o interesse real pela área de estudo ajuda no amadurecimento do acadêmico. "Do primeiro para o segundo ano já se percebe uma grande mudança no comportamento. Isso tem a ver com a compreensão do que é ser universitário e da relação com a academia", afirma. Segundo Daniele, algumas das atitudes imaturas mais frequentes nos universitários se referem aos problemas de pontualidade, à falta de hábitos de estudo e às conversas paralelas no meio da aula.
A professora Claudia Mara de Almeida, coordenadora do curso de Pedagogia no Centro Universitário Uninter, destaca a mudança que ocorre na relação entre professores e alunos com a chegada à universidade. Enquanto na educação básica o professor sempre pode contar com o recurso de chamar os responsáveis do aluno, no ensino superior o contato é mais direto e a maioria dos problemas de convivência em sala de aula é resolvida com o próprio estudante.
"Até certo ponto entendemos que leva um tempo para o aluno se adaptar, mas o problema fica grave quando acadêmicos em fim de curso continuam com comportamentos questionáveis", diz a professora. Ela acrescenta o uso excessivo de equipamentos eletrônicos durante as aulas à lista dos comportamentos que mais irritam os professores.
Professores não podem responder na mesma moeda
Se, por parte dos alunos, comportamentos que atrapalham o bom andamento das aulas são inadmissíveis, ações desmedidas de repressão tomadas por professores também passam longe do ideal para uma comunidade acadêmica. Para evitar excessos, nada é mais eficaz do que tornar algumas regras de convivência claras desde o início.
Os manuais de calouros em suas versões impressa ou online, em geral, apresentam para o recém-chegado o estatuto da instituição e orientações para uma convivência saudável entre universitários. Neles constam os procedimentos e instâncias adequadas para resolução de conflitos.
A professora Claudia Mara Almeida explica que no Centro Universitário Uninter quando algum desentendimento entre docente e estudante não é resolvido dentro da própria sala de aula, o problema é levado para a coordenação do curso. "É apenas uma conversa na qual são relembradas as normas da faculdade", diz.
Se ainda assim o caso não é resolvido, o impasse é redirecionado ao colegiado de curso, um grupo composto por alunos, docentes e representantes da direção da faculdade com poder de decisão para tomar de atitudes mais drásticas, como a emissão de uma advertência formal ou a restrição de acesso à determinada aula.
Para que toda essa estrutura funcione bem, é essencial contar com um corpo docente equilibrado e com tato para lidar com situações de indisciplina, especialmente no início do curso. "Professores do primeiro período têm que ter uma postura diferenciada, conhecer a realidade dos calouros e se sensibilizar com essa característica", diz a professora Daniele Saheb, da PUCPR. Ela conta que a universidade faz um trabalho de formação continuada para ajudar professores a entenderem o universo dos alunos que receberão.
Nessa relação, o auxílio de estudantes maduros se transforma num grande apoio aos docentes. De acordo com a professora, é comum que alunos mais velhos, pais de família ou simplesmente mais dedicados se manifestem quando veem que a aula deixou de ser produtiva.
Vida e Cidadania | 4:56
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