Calouros mundo afora
O Enem, o Sisu e o Prouni estão mudando o acesso ao ensino superior no Brasil e, em alguns pontos, aproximam o país de sistemas usados no exterior:
Estados Unidos
O acesso ao ensino superior nos Estados Unidos depende de uma combinação de elementos que variam conforme a instituição para a qual o estudante deseja ir. Ao terminar o high school, o estudante deve escolher entre os exames SAT ou ACT, dois modelos de provas diferentes cujas notas são aceitas por várias universidades. Além do desempenho no exame, as instituições fazem a análise dos históricos escolares dos candidatos. Trabalhos voluntários e atividades esportivas também contam pontos e algumas instituições incluem entrevistas no processo seletivo. Lá, não há ensino superior gratuito. Tanto universidades públicas como privadas são pagas, mas cidadãos americanos residentes no mesmo estado da universidade pagam menos. A distribuição de bolsas de estudo é comum, tanto por parte das próprias universidades como pelo governo. As instituições públicas são todas estaduais e o governo federal não mantém universidades.
Chile
Em geral, não há exames de seleção, mas as universidades são autorizadas a fazer provas caso determinado curso tenha mais candidatos do que vagas disponíveis, o que não é comum. Há universidades públicas e privadas, mas ambas são pagas.
Argentina
Políticas governamentais garantem acesso livre às universidades, sem nenhum tipo de exame de seleção. No entanto, a quantidade de alunos por turma é bem mais numerosa do que no Brasil. Em instituições públicas (85% do total), assim como nas privadas, o estudante precisa apenas se matricular. Somente o ensino privado é pago.
Inglaterra
O que mais conta é a análise de currículo, mas é preciso fazer provas para algumas universidades. São montados portfólios com a documentação de cada aluno, o que pode ser suficiente para alguns cursos, mas não para outros. Como nos Estados Unidos, há universidades públicas e privadas, mas ambas são pagas. Cidadãos ingleses pagam menos que estudantes estrangeiros.
Canadá
Ao concluir o ensino médio, o estudante canadense deve se inscrever na instituição em que deseja estudar e aguardar pelo resultado de uma minuciosa análise de currículo que costuma levar meses. Quem tenta uma vaga na área de Ciências Exatas leva vantagem, por exemplo, se tiver boas notas em disciplinas como Matemática e Física. A mesma lógica vale para quem pretende ir para a área de Humanas, na qual um bom desempenho em História rende mais pontos. Cartas de recomendação de professores também têm um peso grande no processo. O Canadá não tem universidades privadas. Todo o ensino superior é público, mas não gratuito.
Desde 2004, uma série de medidas do governo federal tem mudado a forma como os estudantes chegam ao ensino superior no Brasil. O país do vestibular assiste, ano após ano, a números cada vez maiores de jovens que entram na universidade por meios alternativos aos exames de seleção preparados pelas próprias instituições. O que analistas preveem é que não vai demorar para que esses meios deixem de ser alternativos e se tornem o padrão, dando uma nova cara ao ensino superior brasileiro.
A extinção do vestibular já foi explicitamente anunciada como meta pelo ex-ministro da Educação Fernando Haddad e, apesar da relevância que o teste ainda tem em muitas cidades, a adesão gradativa de instituições públicas tradicionais ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e ao Sistema Único de Seleção (Sisu) já transformou a cultura estudantil.
No Rio de Janeiro, por exemplo, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Federal Fluminense (UFF) duas das mais importantes universidades do estado abandonaram os exames próprios e aderiram integralmente à nota do Enem como critério único de seleção. No Paraná, o mesmo fez a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) em 2010.
Segundo dados da Secretaria da Educação Superior do Ministério da Educação (MEC), naquele mesmo ano, 23 universidades federais aderiram ao Sisu, totalizando 38,5 mil vagas ofertadas pelo sistema em todo o país. Em 2011, o número de instituições federais inscritas subiu para 39 e as vagas chegaram a 62 mil. Na primeira edição de 2012, a progressão continuou, alcançando 42 universidades federais e 80,3 mil vagas mais que o dobro ofertado no ano de lançamento do Sisu. No quadro geral, incluindo vagas de universidades estaduais e outros institutos, o sistema abriu 108.552 vagas.
Embora em várias cidades o vestibular mantenha sua relevância, algumas instituições como a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), a Universidade Estadual de Maringá (UEM) e a Universidade Estadual de Londrina (UEL), o exame tradicional funciona paralelamente a um processo seletivo seriado sistema no qual os alunos fazem uma prova ao término de cada ano do ensino médio e o que conta é o saldo final.
Sem legislação
Segundo o reitor da Universidade Positivo, José Pio Martins, organizar um vestibular nunca foi uma imposição às universidades, mas acabou tornandose o padrão depois que as primeiras instituições públicas o adotaram e tiveram o modelo copiado por outras faculdades, tanto públicas como privadas. "Nenhuma legislação criou o vestibular. No passado poderiam ter adotado a entrevista ou a análise de currículo, mas optaram pela prova devido à praticidade", explica.
O reitor conta que o modelo brasileiro é visto com estranheza na maior parte dos países desenvolvidos, onde a análise de currículo é o modelo dominante e a concorrência por vagas é bem menor do que a existente no Brasil. Para Martins, a forma de seleção ideal deveria ser feita dentro da faculdade, não antes. "É injusto um país impedir a entrada de alguém na universidade", afirma, defendendo também maior rigor para conceder o diploma aos universitários.
Cursinhos deverão reinventar o modelo de ensino
Por que o vestibular tem tantos opositores? Segundo o professor Ângelo Ricardo de Souza, do Núcleo de Políticas Educacionais da Universidade Federal do Paraná (UFPR), além de ser excludente, o vestibular gera a cultura de preparação focada no conteúdo cobrado pela prova. "Especialmente as escolas privadas escolhem o que ensinar com base naquilo que pode elevar os índices de aprovação no vestibular. Não nas diretrizes do ensino médio", diz.
Essa tendência seria o motivo da produção de macetes e táticas de memorização em sala de aula, que têm pouco a ver com a aquisição de competências necessárias a um aluno do ensino médio.
Para Souza, as novas políticas de acesso à universidade devem influenciar diretamente a forma de ensinar dessas escolas e, especialmente, dos cursos preparatórios. "O Sisu [Sistema Único de Seleção] foi uma facada nas costas dos cursinhos. Esse modelo de ensinar, se não se reinventar, está com os dias contados", afirma.
Que modelo você considera ideal para ser usado no ingresso à universidade? Deixe sua opinião.