A aprovação de novas diretrizes curriculares para os cursos de Medicina em todo o país, com foco na avaliação dos alunos e na obrigatoriedade de experiência mínima no Sistema Único de Saúde (SUS), traz preocupação à classe médica em relação ao incentivo a pesquisas na área. O documento apresentado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), no início deste mês, ainda precisa ser analisado e homologado pelo ministro da Educação, Henrique Paim. As universidades terão um ano para se adaptarem a partir da data de publicação das novas regras.
O presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM), Maurício Marcondes Ribas, acredita que as novas normas devem desestimular a pesquisa a médio e longo prazo. "Precisamos formar médicos que sejam analistas, mas vamos tirar cada vez mais o aluno da pesquisa e colocar no hospital", explica. Veja mais detalhes sobre as mudanças ao lado.
O vice-coordenador do curso de Medicina da UFPR, Edison Tizzot, também demonstra preocupação com o assunto. "É algo meio desproporcional. Nós já temos atividades no SUS, temos uma carga teórica muito grande, temos que estimular pesquisa e extensão. Fica um bloco muito comprimido para dar uma visão global da medicina para o aluno", diz.
Já o coordenador adjunto da graduação de Medicina da PUCPR, José Knopfholz, não vê empecilhos para o estímulo à pesquisa na universidade. "Eu penso que o foco assistencial que está colocado na diretriz é que 30% das atividades do regime de internato sejam feitas no SUS, na urgência e emergência e no atendimento básico. Não opina nos 70% restantes, que podem ser vinculados a pesquisas", defende.
Aprovação rápida
Outro ponto que gerou críticas foi a rápida aprovação das novas diretrizes pelo CNE. "As diretrizes de base de 2001 foram estudadas amplamente. Agora faltou diálogo com todos os atores envolvidos nesse processo", critica o presidente CRM. "Talvez tenha sido pouco discutido. Foi muito a toque de caixa. Houve participação menor do que deveria", diz o coordenador de Medicina da Faculdade Evangélica do Paraná, Constantino Miguel Neto. "Acredito que as diretrizes deveriam ser melhor discutas com as escolas médicas", critica Knopfholz. Não há prazo definido para a avaliação e homologação das diretrizes.
Adaptação do currículo não assusta
Diante das novas regras para os cursos de Medicina, o coordenador da graduação na Faculdade Evangélica, Constantino Miguel Neto, acredita que os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) serão beneficiados pelas adaptações necessárias. "Além do estudante, é preciso colocar um supervisor no local. Isso melhora a qualidade no atendimento", explica.
Pelo fato de os estudantes da UFPR já estarem em contato com o SUS, o professor Edison Tizzot diz que a universidade não terá dificuldade para se adaptar. "É só uma questão de ajustar a carga horária", afirma. De acordo com ele, a partir do 1º ano, os alunos devem começar a ter contato com o SUS em casos de menor complexidade. Hoje, o contato inicial ocorre no 3º ano.
Para José Knopfholz, as mudanças são bem vindas à PUCPR, contudo, o coordenador adjunto lembra que a presença dos estudantes no SUS não deve ser destinada para cobrir a falta de mão de obra no sistema. "Se ele estiver de fato no papel de estudante, com supervisão em tempo integral e em um ambiente preparado para a academia, nós vemos com bons olhos", garante.
Avaliação
Outra preocupação é a forma como os alunos serão avaliados. "Se for para avaliar o aluno e o curso é muito interessante. Dá ferramentas para consertar erros no meio da viagem. Se for para concurso de residência, eu tenho muito medo", diz Miguel Neto. O Conselho Regional de Medicina teme que a avaliação prolifere os chamados medicursos.