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Caio vai terminar o ensino médio na Bélgica, onde ficará por um ano | Priscila Forone/Gazeta do Povo
Caio vai terminar o ensino médio na Bélgica, onde ficará por um ano| Foto: Priscila Forone/Gazeta do Povo

Prós e contras

Conheça algumas vantagens e desvantagens antes de tomara sua decisão:

Vantagens

- Uma experiência no exterior ou com trabalhos voluntários faz diferença no mercado de trabalho.

- A maturidade que se ganha durante essa "parada estratégica" pode melhorar o aproveitamento durante a universidade.

- Com o tempo e a experiência, a probabilidade de fazer uma escolha profissional mais consciente aumenta.

- Um aluno mais maduro tem mais tranquilidade na hora de fazer o vestibular.

Desvantagens

- O aluno que começa a trabalhar normalmente se sente desestimulado a retomar os estudos, porque não quer abrir mão do rendimento que conquistou.

- O estudante pode esquecer os conteúdos que estava estudando para o vestibular.

- A interrupção dos estudos pode quebrar o pique do aluno que tem certeza de sua escolha profissional e vem se preparando para as provas desde o início do ensino médio.

- O jovem pode se tornar mais permissivo quanto aos prazosda vida.

  • Julianne diz que o intercâmbio de seis meses que fez na Alemanha valeu a pena
  • Matheus Cedric terminou o ensino médio e fez um ano e meio de seminário

Se você tem 17 ou 18 anos de idade e está lendo esta matéria provavelmente entrou em um universo em que praticamente apenas uma coisa interessa: passar no vestibular. Mas o fim do ensino médio também pode ser uma boa hora para dar um tempo e viver novas experiências. Há quem prefira adiar a entrada no ensino superior para fazer um intercâmbio, trabalhar ou pensar melhor sobre a escolha profissional.

"Parar um pouco para decidir com mais clareza é prudente em alguns casos, quando o aluno tem indefinição muito grande sobre que curso fazer e profissão seguir. Nesses casos, viajar ou se colocar à prova em um trabalho ajuda na maturação", afirma a orientadora educacional do ensino médio do Colégio Medianeira, Geralda Édina Ladeia Colen.

Segundo a professora, às vezes é preciso sair do roteiro previsível para encontrar o caminho certo. Ou, simplesmente, experimentar outra realidade antes de seguir o caminho traçado. Ela conta que o caso mais comum no colégio onde trabalha é o aluno interromper o terceirão na metade do ano para fazer um intercâmbio e na volta retomar os estudos para o vestibular. Para o diretor-presidente do Curso e Colégio Unificado, Fernando Luiz Fruet Ribeiro, o estudante que tem condições de participar de um programa de intercâmbio deve aproveitar a oportunidade, mesmo que isso signifique adiar o vestibular. "O esforço adicional que ele terá na volta, para retomar os conteúdos, é menor do que a vantagem da maturidade adquirida com o intercâmbio. Além disso, o aluno vai aprender os conteúdos muito mais facilmente, pelo aumento da maturidade", afirma.

O diretor do Curso Positivo, Renato Ribas Vaz, pensa de forma diferente. Embora não negue a importância de uma experiência no exterior, ele considera que interromper os estudos traz desvantagens para quem pretende entrar na universidade. "É claro que uma boa parte do que estudou o aluno vai esquecer. Na minha avaliação, é interessante o estudante continuar o ensino médio, entrar na faculdade e lá na frente fazer um intercâmbio, para cursar uma especialização ou um mestrado", diz.

Exemplos

Apresentadas as duas posições, cabe ao estudante pesar os prós e os contras antes de tomar uma decisão. Estudante de Publicidade e Propaganda na Universidade Positivo, Julianne Tischenberg Vallim, 18 anos, afirma que o intercâmbio de seis meses que fez na Alemanha valeu a pena. A vontade de viajar veio depois que ela não passou no primeiro vestibular e por causa das incertezas sobre o curso que havia escolhido. "Quando voltei, até porque fiquei muito tempo sem falar português, tive dificuldade com a redação e com nomenclaturas de Biologia e Química. Mas as minhas notas foram melhores do que antes, porque estava mais madura", afirma.

Caminho semelhante pretende seguir o estudante Caio Ferreira Liberal, 17 anos. Aluno do 3.º ano do ensino médio do Colégio Medianeira, ele vai terminar os estudos na Bélgica, onde ficará por um ano. "Além de me dar maturidade, o intercâmbio será um processo de reflexão. Eu estou indeciso entre Ciência Política, Economia e Geografia", conta. "É engraçada a situação na sala de aula. Se eu faço uma brincadeira, ninguém ri, como se estivessem dizendo ‘não me desconcentre, porque o que está em jogo é a minha vida’. Há muita pressão em cima dos estudantes", diz.

Segundo a psicóloga Daniela Bauer, que trabalha com gestão de carreira e é especialista em orientação profissional, uma paradinha depois do ensino médio pode ser importante dependendo de como o tempo é aproveitado. "Se o jovem aproveitar para investir no seu desenvolvimento, em uma experiência internacional, por exemplo, isso fará muita diferença. Trabalho como consultora em empresas e percebo quando o funcionário tem mais experiência de vida", avalia.

Intercâmbio não é a única opção

Quando se pensa em uma parada estratégica após o ensino médio, o intercâmbio não é a única possibilidade. Há quem decida prestar concurso público, trabalhar com a família ou procurar um emprego por conta própria. Nesses casos, o professor Fernando Luiz Fruet Ribeiro, do Curso e Colégio Unificado, diz que é preciso ter cuidado, já que muitas vezes o trabalho desestimula o aluno a retomar os estudos.

"Se ele tiver opção de não trabalhar, é melhor. É difícil voltar depois, pois o aluno pode se desestimular. Naquele momento ele ingressa no mercado antes dos demais. Mas depois vai ser mais complicado ele sair de onde está. Ele entra ganhando um salário e não vai passar daquilo", alerta.

Foi isso que aconteceu com Agnaldo Antonio Besrutchka, 24 anos. Ele recebeu um convite para trabalhar na empresa de uma prima e preferiu interromper temporariamente os estudos. Com o tempo, a universidade acabou ficando em segundo plano. "Se fosse hoje, com certeza eu teria prestado vestibular. No meu emprego atual, ganho praticamente a mesma coisa que ganhava quando parei de estudar. Poderia estar ganhando mais se tivesse feito faculdade", diz.

Seminário

Marcos Roberto de Moura, 27 anos, é agente de pastoral do setor Juventude da Arquidiocese de Curitiba e pensa em cursar Jornalismo ou Relações Públicas. Mas quando terminou o ensino médio ele foi morar em São Paulo em uma comunidade missionária, ligada à Igreja Católica, para quem deseja seguir a vida religiosa. Lá ele ficou por dois anos e meio, quando descobriu que não tinha vocação para o sacerdócio. Mesmo assim, conta que a experiência foi fundamental. "Todo mundo esperava que eu fosse fazer vestibular, o sonho do meu avô era que eu fosse médico. Mas faculdade nenhuma poderia me dar o que eu vi lá. Eu trabalhava numa favela, em uma creche e com moradores de rua", afirma.

Matheus Cedric, 20 anos, passou por uma experiência parecida. Ele terminou o ensino médio em 2008 e fez um ano e meio de seminário. Nesse período, aprendeu muito e decidiu voltar a estudar para o vestibular. Atualmente Matheus faz dois cursos: Filosofia, na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), e Ciências Sociais, na Universidade Federal do Paraná (UFPR). "Tive uma experiência de independência que não tinha tido antes. Isso me ajudou a perceber de forma mais madura a universidade. Também aprendi a ter mais o pé no chão. Eu tinha uma visão mais adolescente da vida, achava que as coisas eram mais fáceis do que realmente são."

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