Em seu livro "A Teia da Vida" o físico teórico e escritor de renome Fritjof Capra ressalta a Crise de Percepção na qual nos encontramos. Nós temos consciência dos problemas que danificam a biosfera e ameaçam a vida no planeta pelo fato da ciência já ter produzido muito conhecimento sobre a importância e extensão dos problemas. Porém, na raiz da crise se encontra uma visão de mundo obsoleta e inadequada para lidar com os complexos problemas da atualidade, que não podem ser entendidos separadamente. A superpopulação, a título de exemplo, foi demonstrada estar fortemente relacionada com a pobreza, portanto o mundo não irá atingir uma estabilidade populacional sem que a pobreza seja reduzida drasticamente. A nós, resta "lidar com nosso mundo superpovoado e globalmente interligado".

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Muitas das soluções já são conhecidas e moram no conceito de sustentabilidade. O objetivo é desenvolver nossas atividades no planeta, ter nossas necessidades supridas e continuar avançando tecnológica e moralmente sem comprometer as escolhas das gerações futuras. Ainda de acordo com Capra, essas soluções forçam a mudança do EGO para o ECO. Isso significa que o homem não é o centro da natureza e sim mais um fio na rede da vida que conecta os seres vivos, todos eles dependentes entre si. Dessa percepção, emerge a necessidade de se construir uma sociedade centrada na vida, que dê suporte, proteção e crie condições conducentes para o desenvolvimento da vida.

Imagine prédios que autorregulam sua temperatura, filtram sua água e seu ar, reciclam seus resíduos e ainda agregam valor ao ecossistema aonde estão inseridos. Estes são locais bastante verdes, agradáveis aos que ali permanecem, que aproveitam a energia solar de forma eficiente e possuem uma estrutura composta por materiais inteligentes pensados em sintonia estrita com a função a ser desempenhada, provenientes de uma cadeia produtiva responsável e com um ciclo de vida bem planejado.

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Esse projeto, nos próximos anos, estará saindo do papel. Arquitetos, designers, engenheiros, administradores de empresas e biólogos em sua maioria, estudam e aplicam a biomimética para aprender a perguntar à natureza como resolver os problemas que enfrentamos hoje e traduzir o conhecimento biológicos para a linguagem técnica humana, a exemplo do que fazia o primeiro biomimetista de que se tem notícia, ninguém menos do que Leonardo da Vinci.

O termo em inglês "Biomimicry", cunhado pela jornalista científica e consultora americana Janine Benyus, significa literalmente imitar a vida. Segundo Benyus, podemos aprender com a genialidade da natureza, tendo ela como nossa mentora, e o resultado de nossos esforços estará em sintonia com o meio ambiente, do qual frequentemente nos esquecemos que fazemos parte. Isso difere muito das práticas biotecnológicas atuais de usar organismos vivos para a produção de bens e serviços, como por exemplo alimentos fermentados e medicamentos. Aprender com a natureza significa não só ser inspirado pelos seus inúmeros casos de sucesso e descobrir que muitos de nossos desafios já foram enfrentados por alguém antes, mas firmar um compromisso de proteger a fonte de nossas brilhantes soluções e educar outras pessoas para que possam respeitar e apreciar o resultado de 3.8 bilhões de anos de evolução.

A biomimética já é vista como uma das ferramentas com maior poder de impacto no futuro e atualmente já existem redes de biomimetistas nos 5 continentes. As organizações Biomimicry 3.8, uma instituição sem fins lucrativos e uma empresa social, trabalham com a promoção, consultoria e formação em biomimética e mantêm o portal asknature.com, uma biblioteca digital curada open source de soluções da natureza para problemas humanos, organizados por soluções, organismos e produtos. A instituição também oferece programas de especialização e mestrado na área, cursos online e apoiam a iniciativa recente da Universidade de Akrom e do Instituto de Arte de Cleveland, em Ohio, Estados Unidos, na criação do primeiro programa de doutorado no tema. Mais informações podem ser obtidas em www.biomimicry.net.* Rafaela Graça Scheiffer é acadêmica do curso de Ciências Biológicas da UFPR, faz parte do programa Jovens Profissionais do Desenvolvimento, da ONG Sociedade Global.

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