Câmeras de vigilância têm potencial de se tornarem grandes parceiras da polícia para inibir a violência. Para que não haja uma falsa sensação de segurança em torno desse tipo de equipamento, é preciso monitoramento adequado e novos métodos que aproveitem ao máximo os recursos disponíveis. Nesse contexto, a universidade pode ser o berço de boas ideias e soluções inovadoras para que novas tecnologias sejam aproveitadas efetivamente.
Na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), por exemplo, o uso de câmeras de vigilância foi estudado inclusive em teses de doutorado. Segundo o professor da pós-graduação em Engenharia Elétrica e Informática Industrial Heitor Silvério Lopes, os alunos já sugeriram diversos usos para as imagens captadas nas ruas.
Recentemente, a polícia recebeu a proposta da UTFPR de submeter o banco de dados com fotos de criminosos para que fosse organizado, padronizado e desenvolvido um sistema automático de reconhecimento de faces. "Há uma grande quantidade de imagens que eles não usam e, se querem procurar uma pessoa, têm de fazê-lo em 40 mil imagens. Trabalhamos por uma pré-seleção para reduzir esse número."
Lopes lembra que um trabalho semelhante foi sugerido para o reconhecimento de pessoas em vídeos. "Se ocorreu um crime ou acidente, alguém tem de assistir a horas e horas de filmes. O ideal seria que o computador pudesse varrer uma grande quantidade de vídeos, de várias câmeras, procurando por pessoas com determinadas características", diz.
Relação
Ideias como essas têm sido desenvolvidas em universidades mundo afora e outras são comercializadas por empresas a um preço muito alto. Parcerias entre instituições de ensino e responsáveis pela segurança pública trariam novas oportunidades ao setor. Contudo, esse diálogo não tem sido fácil. A Tecnológica diz ter apresentado diversos projetos ao Instituto de Identificação do Paraná. Apesar de haver demonstração de interesse, ainda não se chegou a nenhum acordo.
Para o coordenador do Centro de Estudos em Segurança Pública e Direitos Humanos da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Pedro Bodê, a universidade é fundamental para o estudo do fenômeno da violência, mas a relação entre as instituições precisa avançar muito, não só no diálogo, mas também na divulgação de dados que deveriam ser de conhecimento público e ficam restritos às corporações da polícia. "Quando eles [policiais] assistem à aula e pegam título da universidade, tudo bem. Mas, na hora de discutir as questões relativas à organização, há uma grande resistência a qualquer possibilidade de discussão acadêmica."
Em Minas Gerais, professor ganhou espaço para trabalho conjunto com a polícia
A parceria do doutor em Geografia Wagner Batella com a Polícia Civil de Minas Gerais, entre 2006 e 2008, impulsionou a criação de um curso para policiais sobre mapeamento de crimes e uso de tecnologias espaciais, como o GPS, e de um grupo de pesquisa dentro da corporação para que fossem aprimorados os métodos científicos das investigações. Na PUC Minas, foi criada a especialização em Criminologia, com policiais civis atuando como orientadores de monografias.
Hoje, Batella é professor da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), que tem dois câmpus no Paraná. Por ser uma instituição recente, a formação de pesquisadores ainda se restringe à iniciação científica, na qual Batella criou uma linha de pesquisa voltada à análise espacial da violência. "Essa é a principal contribuição da Geografia para a segurança pública. Em vez de chegar para um gestor da polícia com uma tabela, é melhor um mapa, pois a visão é mais rápida e precisa", diz.
Por aqui, o professor ainda não firmou parcerias, mas acredita que virão à medida que novas pesquisas forem produzidas. "Em vez de chegar pedindo parceria, é melhor chegar com resultados. A relação entre universidade e instituições públicas é uma relação de cativação", afirma.
Núcleos A pesquisa sobre segurança pública nas universidades muitas vezes ocorre por meio de núcleos de estudos, como o Centro de Estudos em Segurança Pública e Direitos Humanos (CESPDH), da UFPR; o Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana (Necvu), da UFRJ; o Núcleo de Estudos sobre a Violência e Segurança (Nevis), da UnB; e o Núcleo de Estudos da Violência (NEV), da USP. Um dos primeiros do Brasil, o NEV forma pesquisadores desde 1987 e já desenvolveu projetos de pesquisa e cursos de extensão financiados por instituições como o Comitê Internacional da Cruz Vermelha e convênios com agências da Organização das Nações Unidas (ONU), União Europeia, ministérios da Saúde e da Justiça e Secretaria Especial dos Direitos Humanos.