A procura é grande, mas não há nas prateleiras das farmácias um medicamento que seja eficiente para acabar de forma rápida e segura com as incômodas aftas e outras lesões da boca. De olho nessa necessidade do mercado, a pesquisadora e professora de Odontologia Ana Maria Grégio, que tem mestrado e doutorado na área de Farmacologia pela Unicamp, desenvolveu um estudo explorando o poder cicatrizante e anti-inflamatório da semente de urucum. O trabalho rendeu duas dissertações de mestrado, iniciação científica de alunos da graduação e um artigo publicado, além de ter sido apresentado no ano passado em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
A pesquisadora explica que os medicamentos atuais deixam a desejar e que podem até mesmo interferir negativamente no reparo dos tecidos. O mesmo não ocorre com o fármaco com fórmula baseada na Bixina, substância ativa retirada das sementes de urucum e principal responsável pelo vermelho da planta. O estudo é inédito e já foi testado em mamíferos, tendo bons resultados nos ratinhos do biotério da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Recentemente foi feito o depósito para registro de patente, por meio da Agência de Inovação da instituição.
O público em geral será beneficiado, mas o medicamento deve ser útil especialmente para públicos que têm outros problemas de saúde. "Muitas vezes as lesões aparecem em pacientes que já estão debilitados, que passaram por transplante ou foram infectados pelo HIV. Nesses casos as lesões dificultam que a pessoa se alimente e a saúde é mais prejudicada", conta.
O efeito anti-inflamatório e reparador da Bixina atua tanto na cavidade bucal, como em lesões da pele de todo o corpo humano. Por isso, o próximo passo é o teste em pessoas. O medicamento será usado no tratamento de lesões de pacientes que passam muito tempo deitados em leitos de hospital, o que acaba levando ao aparecimento de diversas lesões na pele das costas.
"Teremos um spray ou solução para tratar da úlcera em pacientes acamados. O modelo experimental foi a afta, mas posso extrapolar, pois a ação no processo inflamatório é geral", explica a pesquisadora, que já tem parceria com uma enfermeira que é doutoranda e vai aplicar o fármaco em seus pacientes. "Depois vamos aguardar o interesse do mercado. Essa é a grande luta dentro da universidade, convencer as empresas a investirem nas pesquisas", conta.