Na última segunda-feira, mais de uma semana após o início dos protestos a favor do passe livre para estudantes em Curitiba, um grupo de alunos do curso de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR) se reuniu na Praça Oswaldo Cruz para continuar a discutir a mobilidade urbana na cidade. O objetivo do encontro era reiterar a importância de se manter o foco na questão do transporte público tema que impulsionou a defesa de outras bandeiras nas manifestações Brasil afora e conscientizar ativistas recém-chegados sobre os pontos que precisam ser debatidos e estudados.
Entre os organizadores estava a militante estudantil Debora Pradella, do 2.º ano, que passou a participar de debates na área em março deste ano, quando a passagem de ônibus aumentou de R$ 2,60 para R$ 2,85. Ela faz parte de um grupo formado por centenas de universitários curitibanos que estão ajudando a organizar manifestações por meio de coletivos organizados de estudantes, grupos menores de alunos ou partidos políticos.
De pronto, Débora faz questão de dizer que, embora o protesto tenha tomado grandes proporções apenas agora, muitos estudantes sempre estiveram envolvidos com a causa e que o grupo também tem uma pauta bem definida.
"Queremos que a tarifa baixe e congele em R$ 2,60, e que haja uma real transparência em relação à administração da Urbs. Para nós, não basta a divulgação de 15 mil folhas de documentos. É preciso informar a população sobre o conteúdo e debater o que está ali. E o dinheiro não pode ser tirado da saúde ou da educação, tem de diminuir a margem de lucro das empresas", explica.
Debate constante
O fato de as manifestações não serem uma novidade para muitos universitários também é levantado pela aluna Clarissa Viana, militante do coletivo estudantil Rompendo Amarras e do Psol de Curitiba. Ela afirma que muitos estudantes promoveram protestos em março e que há um debate constante sobre o tema dentro do movimento estudantil. "Os protestos surgiram com força por conta dos protestos na Turquia, na Praça Tahir [Egito] e de movimentos como o Ocuppy Wall Street, mas a discussão sempre existiu. Ela não surgiu agora", afirma.
De toda forma, os militantes afirmam que é preciso acolher os estudantes que estão despertando agora para o debate político, evitando críticas àqueles que ainda não definiram suas pautas ou que até mesmo afirmam odiar política, além de congregar grupos que não participam massivamente dos atos, como os próprios profissionais do transporte público.
Militantes opinam sobre pontos polêmicos das manifestações
Nos últimos dias, várias críticas foram feitas aos manifestantes quanto à ausência de foco dos protestos, à presença de bandeiras partidárias nos atos e à depredação do patrimônio público e privados por alguns participantes. Em relação ao foco, a militante Clarissa Viana acredita que a prioridade deste momento deve ser o transporte público. "Quando você foca em tudo, acaba focando em nada. É importante deixar bem claro o que queremos, até para que, nos encontros com a prefeitura, os pontos que reivindicamos fiquem bem claros".Ela também defende a participação das bandeiras políticas por entender que este é um direito à liberdade de expressão e de participação política duramente conquistado após a Ditadura Militar. "Acho que é compreensível que as pessoas não se sintam representadas pelos partidos, pois elas estão decepcionadas com o modo de fazer política no país. Cabe a nós mostrar que nem todos os partidos são iguais e chamar as pessoas a participar mais da política", diz Clarissa, membro do Psol.
VandalismoEm relação ao vandalismo de alguns participantes, a estudante de Psicologia da UFPR Bruna Ornellas, militante da Assembleia Nacional de Estudantes Livre (Anel), afirma que a manifestação não pode perder espaço para atos isolados de uma minoria. "O que deve ser rechaçado é a violência policial, que contribui para essas situações, ao usar balas de borracha e gás lacrimogêneo contra manifestantes pacíficos."Bruna diz que está confiante em relação ao futuro dos atos e à vontade de participação real dos jovens, que não promoviam protestos de grande repercussão desde 1992, quando estudantes secundaristas e universitários, apelidados de "caras-pintadas", contribuíram para a renúncia do presidente Fernando Collor. (VFP)