O perfil da comunidade acadêmica de universidades e institutos federais tem mudado à medida que o vestibular tradicional é deixado de lado e aumenta a adesão das instituições ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu), plataforma digital criada em 2010 pelo Ministério da Educação (MEC). Pela internet, o Sisu classifica calouros a partir do desempenho no Enem, o que possibilita o ingresso de estudantes do Acre ou do Pará em uma universidade do Sul, por exemplo.
Em 2013, 13% dos estudantes aprovados pelo Sisu cerca de 15 mil se matricularam fora do seu estado de origem. Em Medicina, a mobilidade é maior: 47% mudam para outro estado para estudar. Os números foram divulgados recentemente pelo MEC. Até maio, 119 mil das 129 mil vagas oferecidas no começo do ano estavam ocupadas. Em muitos casos, a busca por um diploma leva calouros a percorrerem centenas de quilômetros, como os 169 mineiros aprovados no Rio Grande do Sul, os 48 paraenses a caminho do Rio de Janeiro ou os 71 paulistas que devem estudar em Alagoas.
Proporcionalmente, o Paraná é o estado que mais recebe estudantes de fora. Dos 3.970 matriculados a partir do Sisu neste ano, 1.068 vieram de outros estados o equivalente a quase 27% das vagas. A maioria dos alunos veio de São Paulo. No outro fluxo migratório, 423 paranaenses foram aprovados pelo sistema para estudar em outro estado 124 matricularam-se no Rio Grande do Sul. Veja a relação completa ao lado.
Apoio
Das 670 vagas do ensino superior do IFPR, 204 são preenchidas pelo Sisu. Segundo o reitor Irineu Mário Colombo, a vinda de estudantes de outros locais contribui com o ensino. "Um sotaque diferente é muito rico. Enquanto muitos consideram a diferença um problema, nós vemos como uma virtude", diz.
O ir e vir de estudantes faz com que as instituições estejam organizadas para recepcionar quem vem de fora. Prestar informações sobre o clima, alimentação e até lugar para morar também faz parte da assessoria que a universidade pode prestar. A mobilidade também empurra as cidades para que avancem em infraestrutura. "Nossos diretores de câmpus têm reuniões com prefeitos para avaliar questões como o transporte escolar", conta a chefe do Departamento de Educação da UTFPR, Sônia Ana Leszczynski.
Choque cultural
Quando Alexandre Hlenka, 22 anos, optou cursar Sistemas de Telecomunicações no câmpus Curitiba da UTFPR, achou que seria tranquilo. Mesmo próximo da cidade natal, Mafra (SC), o jovem conta que os primeiros meses foram muito difíceis. "Não consegui ter o desempenho que eu sabia que poderia ter. Creio que pela dificuldade de adaptação à nova realidade", conta. Além de ir mal no curso, sintomas depressivos tornaram o dia a dia mais complicado. A guinada veio com uma mudança. Com o apoio dos pais, Hlenka mudou de curso depois de seis meses. Em Arquitetura, acabou se encontrando e conheceu pessoas que o ajudaram na adaptação. "No início, o choque com o povo me deixou desanimado. Mas me acostumei", conta. Agora ele se prepara para um novo desafio: passar um ano e meio na Austrália pelo Ciência sem Fronteiras. "Com a viagem, os sentimentos de desamparo voltam, mas acho que tudo isso deve fazer parte de um aprendizado maior", afirma.
Estudantes induzem mudanças
Por trás de estudantes que tiveram a mala feita pela mãe e descobriram na nova cidade que roupas e louças não ficam limpas sozinhas, há pais superprotetores que não ajudaram os filhos a se prepararem para a nova etapa. Além de se baterem mais durante a adaptação, esses alunos estimulam mudanças nas cidades-destino de universitários: a criação de novos estabelecimentos.
"A maioria dos pais não quer que os filhos saiam de casa. Despreparados, muitos desses jovens precisam de pensões onde tenham alguém que ofereça cuidados e de restaurantes, pois comida eles não sabem fazer", diz a chefe do Departamento de Educação da UTFPR, Sônia Ana Leszczynski.
O Núcleo de Apoio Psicopedagógico da Tecnológica oferece atendimento psicológico aos estudantes. "Temos grandes índices de depressão entre os alunos que chegam de fora. Eles se sentem solitários e se tornam mais vulneráveis ao álcool e a outras drogas, por isso é importante o apoio. Também estimulamos a independência, já que nossa cultura é bastante protecionista", diz Sônia.