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dos brasileiros será idoso em 2060. Hoje apenas 7% das pessoas têm mais de 65 anos. Nos anos 2000 a expectativa média de vida era de 69 anos, em três décadas vai saltar para 80 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
Ideias que surgem de necessidades reais
Sabendo da necessidade dos mais idosos de se sentirem seguros ao caminhar, a terapeuta ocupacional e mestranda em Engenharia Biomédica pela UTFPR Paloma Hohmann Poier (foto principal)desenvolveu um andador que promove a sustentação corporal. Segundo ela, andadores comerciais com função semelhante têm variação de preço entre 2 mil e 20 mil reais.
"O nosso custou apenas 200 reais porque foi feito com PVC, e mesmo assim apresenta alta resistência mecânica", conta. Ela afirma que quando os idosos sofrem quedas, passam a ter medo de andar. Essa insegurança pode resultar em imobilização ou uso da cadeira de rodas, o que pode ser evitado com o andador especial.
Além da segurança a autoconfiança também é determinante para a qualidade de vida na terceira idade, segundo Marilene Buffon professora e chefe do Dpto de Saúde Comunitária da Federal do Paraná (UFPR).
Entre as atividades de pesquisa e extensão ela destaca as atividades voltadas à saúde bucal. "O idoso quer sorrir, precisa se alimentar, ter o ato mastigatório e segurança, ou vai perdendo a autoestima e se tornando dependente", diz.
Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo A UFPR tem programa de atenção a saúde bucal, com atendimento clínico e atividades educativas e preventivas voltadas à terceira idade.
Na Suécia, autonomia é o mais importante
Adriana Czelusniak/ Gazeta do PovoUniversidade Sueca mantém dois apartamentos dentro do câmpus para testar e desenvolver novas tecnologias.
O país europeu, onde os idosos já somam mais de 15% da população, ao lado do debate sobre o modelo de aposentadoria, criado quando poucos realmente viviam até completar 65 anos, está buscando por autonomia na velhice. É aí que entra o trabalho de pesquisadores do conceituado Instituto Real de Tecnologia (KTH), de Estocolmo, que tem projetos de inovação voltados para a terceira idade, vários deles desenvolvidos em parceria com instituições de países vizinhos.
"Temos um grande problema que é a tendência de pensar que na velhice devemos receber todo o cuidado da sociedade e que o governo deve pagar por tudo, mas isso é impossível. Temos de reorganizar as cidades e as próprias casas das pessoas, para que elas possam permanecer lá por mais tempo", afirma o doutor em Tecnologia, Stefan Lundberg, professor da KTH.
Dentro da universidade sueca, dois apartamentos funcionam como laboratório de inovação. Nos espaços com quartos, sala, cozinha e banheiro, estudantes de pós-graduação e pesquisadores desenvolvem e testam soluções para permitir que até mesmo aqueles com idade mais avançada possam viver em casa, de forma independente e com a ajudinha de aparatos tecnológicos.
Equipes multidisciplinares têm estudado possibilidades de adaptações internas e externas às moradias, mas, por mais que as ideias sejam boas, transformá-las em produtos inovadores ainda esbarra no medo que se tem da velhice. "Todos querem viver, mas ninguém quer ficar velho, ou pensar sobre isso. Enquanto for assim não teremos empresas explorando esse negócio, pois elas não terão compradores. E o governo não tem dinheiro para investir nessas tecnologias. Então também temos de mudar a mente das pessoas", diz Stefan. (AC)
A jornalista viajou à Suécia a convite do Instituto Sueco e da Embaixada da Suécia em Brasília.
Um em cada três bebês que nascem hoje no mundo vai viver até os 100 anos. À medida que a expectativa de vida aumenta, crescem também os desafios para que os anos a mais sejam vividos com qualidade e independência. Estudo recente da Universidade de São Paulo (USP), intitulado "Sabe", revela que as pessoas vivem mais tempo, mas as doenças não estão aparecendo mais tarde. Isso significa mais tempo de vida convivendo com problemas de saúde.
Atentas a esse fenômeno social, as universidades têm considerado o envelhecimento da população como objeto de estudo e pesquisa, o que tem resultado em iniciativas inovadoras. A preocupação com a inclusão e saúde mental dos idosos, por exemplo, levou à criação de espaços voltados para a aprendizagem dos velhinhos. As universidades estaduais de Londrina (UEL), de Ponta Grossa (UEPG) e de Maringá (UEM), assim como a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), por exemplo, têm turmas específicas para a terceira idade.
A PUCPR também envolveu no último mês estudantes de todos os cursos da Escola de Saúde e Biociências no concurso Missão Saúde. Grupos formados por alunos de diferentes cursos criaram serviços e produtos voltados para a qualidade de vida do idoso. Houve premiação das melhores ideias e entre elas está o projeto Aquaclock.
Integrante da equipe premiada, a estudante do 6º período de Nutrição Eloisa Cristina Gonçalves, diz que a dificuldade que os idosos têm de se manterem hidratados e com a administração dos remédios na hora certa motivou a equipe, que criou um cooler que avisa o horário da água e dos remédios.
"Queríamos um produto para dar autonomia. Em vez de achar que idoso não tem capacidade de fazer as coisas sozinhos, bolamos um produto que mantém a temperatura da água gelada e é carregável, para incentivá-los também a fazerem atividade física", conta. Para o coordenador do projeto, o professor Sergio Surugi de Siqueira, cabe às universidades a preocupação em formar os estudantes para que os novos profissionais estejam preparados para atuar na melhoria das condições de vida dos idosos.
Projetos que visam o bem-estar nas idades mais avançadas também são comuns na Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, em Campinas. Segundo Maria Elena Guariento, coordenadora da disciplina de Geriatria, a funcionalidade é a palavra-chave no que diz respeito à velhice.
"Para o idoso mais importante que pensar em doenças, é buscar que ele não deixe de ser independente, que mantenha a qualidade de vida e não perca a funcionalidade, por isso temos de investir na prevenção e na reabilitação", afirma Maria Elena.
Interatividade
Conhece outras boas iniciativas de universidades voltadas para a terceira idade?
Entrevista Confira a entrevista feita pessoalmente com Stefan Lundberg, doutor em Tecnologia e professor da universidade sueca KTH, na própria sede da instituição.
Com qual objetivo foram montados os dois apartamentos dentro da universidade?
A população de idade está aumentando e nós não achamos que grandes instituições serão construídas para as pessoas idosas. No futuro todos nós vamos envelhecer e morrer em casa, e não estamos longe disso. Então quisemos testar o que está sendo feito para melhorar a vida dos idosos dentro de sua própria casa. Nós contatamos diferentes companhias tentando avaliar o que faziam e eles tinham soluções que, diziam, funcionavam perfeitamente. Mas descobrimos que a tecnologia não funcionava.Então reunimos várias pessoas idosas - e é difícil reunir pessoas que estão dispostas a usar equipamentos em suas casas - e descobrimos que se a tecnologia não funcionava e tinha falhas, elas desistiam, diziam aos seus vizinhos e a notícia era passada adiante. Testamos uma plataforma em 30 apartamentos e descobrimos que as paredes comem as ondas de rádio, especialmente se tiverem concreto, e que dois apartamentos, um do lado do outro, acabam tendo comunicação cruzada. Os desenvolvedores disseram que era seguro e que não teria problema, mas foi uma bagunça.Então vimos que tínhamos de testar aqui na universidade antes de levar às casas, e criamos os apartamentos, há seis anos.
Quais são as áreas envolvidas nesse programa?
Nos apartamentos-laboratório temos trabalhando doutores que são terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, médicos, biomédicos, engenheiros e pesquisadores. É um programa multidisciplinar e também tem colaboração de arquitetos, e de gente da informática e robótica. Como funciona na prática o trabalho nesses laboratórios?
Quando aparece uma nova tecnologia, dizem que é perfeita, então trazemos aqui e testamos. Recentemente, testamos sensores que não funcionaram e, quando reclamamos, primeiro disseram que tínhamos usado errado e depois disseram que tínhamos usado muitos componentes, mas é isso mesmo que precisamos fazer. O ideal seria uma plataforma agregadora, que poderia incorporar tecnologias e serviços, com lembretes, alarmes, elevador que leva da cama ao banheiro e pelos cômodos e controle de luz. Pessoas de idade avançada pedem um alarme que diga que caíram e não conseguem levantar. Temos alarmes sociais, que se aperta um botão e ele dispara, mas é comum que você não consiga apertar o botão ou não o tenha com você quando cai. Então elas querem algo automático, um alarme que possa alertar alguém. Além de testar tecnologias que já estão no mercado, vocês também investem em novas ideias, como é a inserção desses novos projetos no mercado? Bem, estamos fazendo pesquisas e encontrando boas soluções, mas ainda assim nada acontece. Nós não temos produtos, temos protótipos, e para um protótipo se transformar em um produto é um caminho longo, um grande passo. E precisa de muito dinheiro ou de algum tipo de investidor. Nesses seis anos não tenho certeza de como medir o impacto do nosso trabalho. O que eu faço é tentar dar novas ideias e dizer como implantar. Algumas das soluções que desenvolvemos já existem no mercado, não na Suécia, mas eu tento promover essas coisas. Aí alguns idosos me perguntam onde podem comprar e eu digo que talvez no Japão, talvez na Coreia.
Por que as companhias não se interessam em desenvolver esse tipo de produto na Suécia?
Na nossa sociedade temos o problema de achar que na velhice o governo deve cuidar de nós. Enquanto pensarmos assim não teremos companhias explorando esse negócio, pois elas não vão conseguir encontrar compradores. É um mercado enorme, mas não se consegue achar aplicações. O governo nos visita e perguntamos se eles gostariam de comprar determinadas soluções para suas pessoas idosas e ele diz que não tem dinheiro. Então eu digo para as pessoas: "Veja, isso não é tão caro. Se você paga mil dólares por uma tevê, porque não pagar um terço disso para poder viver melhor e ficar mais tempo em sua própria casa?" Precisamos de alguém que explore e use esse mercado e convença que é algo que as pessoas devem comprar. Mas talvez isso aconteça fora da Suécia, porque nós somos tradicionais demais. Acho que outro pais é que vai tomar a frente.
Está em discussão a idade mínima para a aposentadoria, pois a previdência não consegue atender todos que passam dos 65 anos, e ao mesmo tempo a população vê a privatização de serviços de saúde como casas para idosos. Com isso as pessoas estão se dando conta que no futuro o governo pode não dar o mesmo suporte que tem oferecido? Os sinos estão tocando, algumas pessoas estão começando a se preocupar, há discussão nos jornais e o tema começou a aparecer na agenda mundial, mas não da forma como deveria. Mudanças nas residências são coisas para serem usadas a longo prazo, talvez em 15, 20 anos, então as pessoas não ligam. Um exemplo é o cigarro, as pessoas fuma. Todo mundo sabe que é perigoso e ainda o faz. Vai ser doloroso quando se derem conta. Seria muito bom se seu apartamento pudesse funcionar da forma que você precisar quando você precisar. Aí quando estiver velho vai perceber que determinada coisa foi colocada lá porque no futuro você ia precisar. Há alterações que são impossíveis de fazer em um apartamento normal. O vaso sanitário que levanta e abaixa, por exemplo. Você pode preparar a casa hoje, para ser fácil implantar quando preciso. As pessoas veem isso apenas para hospitais, mas a maioria, se vai ao hospital e faz uma cirurgia, fica um ou dois dias e tem de voltar para casa. Outro problema é que as pessoas não querem ter em casa os sinais de que você pode estar tendo problemas ou envelhecendo. Aqui testamos e tentamos resolver problemas e levamos muitos meses, ainda é complicada a tecnologia que existe. Temos de mudar a forma de organizar sociedade, desde o planejamento urbano para que os idosos possam andar à sua volta, seja para ir ao banheiro ou ao centro da cidade. E temos de achar novas formas de trabalho para quem vive até altas idades. Enquanto isso não acontece temos de viver com soluções não tão boas.
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